Macroeconomia

Chefe de família desempregado, dependentes correndo atrás

28 jun 2017

A crise brasileira atual tem tido efeitos nefastos sobre o mercado de trabalho. No início deste ano de 2017, o número de indivíduos desocupados ultrapassou a marca dos 14 milhões. 

No mesmo período, a taxa de desemprego chegou a 13,7%, seu maior valor desde pelo menos setembro de 1992.

Ademais, em dissonância com as depressões recentes, que tiveram duração média bastante reduzida, a crise atual já persiste por pelo menos onze trimestres. A duração mais extensa desta crise tem levado empresas a demitir até mesmo aqueles trabalhadores experientes e produtivos, que costumam ser pouco afetados pelas recessões. Particularmente, especialistas sugerem que o grupo dos chefes de domicílio, que é geralmente composto por trabalhadores relativamente mais experientes e produtivos, tem sido bastante afetado pela crise que acomete o país.

Uma das consequências mais sérias de uma crise como a atual, que chega a atingir os chefes de família, é o crescimento bastante acelerado da taxa de desemprego. Mais precisamente, a demissão de um chefe de domicílio costuma resultar em um aumento acentuado do desemprego, porque tende a precipitar o ingresso não apenas daquele próprio indivíduo no mercado de trabalho, mas também dos seus dependentes, como o seu cônjuge e os seus filhos. Estes últimos, ao tentar ingressar no mercado de trabalho, buscando mitigar a potencial perda de renda familiar decorrente da situação de desocupação do chefe de domicílio, geram uma pressão ainda maior para que haja aumento do desemprego.

Na prática, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) sugerem que a crise atual tem realmente estimulado a entrada, no mercado de trabalho, de indivíduos que são tipicamente incluídos na categoria de dependentes. Mais precisamente a participação das mulheres, no mercado de trabalho, passou de 50,6%, antes da crise (dezembro de 2014), para 52,0%, na fase final da depressão (dezembro de 2016). Este aumento, ocorrido entre o início e o final da crise, pode parecer pequeno, mas na verdade representa um acréscimo de 1.226.048 mulheres na força de trabalho, comparativamente ao que seria observado caso a participação deste grupo de indivíduos tivesse permanecido constante, em 50,6%, ao longo de todo o período mencionado.

A participação no mercado de trabalho dos jovens (faixa etária compreendida por pessoas que tem entre 18 e 24 anos) também apresentou crescimento acelerado durante a crise. Especificamente, a participação desse grupo passou de 67,4%, em dezembro de 2014, para 69,2%, em dezembro de 2016. O referido aumento é equivalente a um acréscimo de 400.000 jovens na força de trabalho (em relação ao que seria esperado, caso a participação deste grupo etário tivesse permanecido constante, em 67,4%, durante a crise).

A boa notícia decorrente dos comentários apresentados nesse post é a seguinte: assim como as demissões dos chefes de domicílio acabaram por produzir um crescimento acelerado do desemprego, durante a crise, a recontratação destes mesmos indivíduos pode ajudar a gerar uma redução mais expressiva da desocupação, em uma eventual retomada da economia.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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