Macroeconomia

Chegamos ao fim da recessão?

18 jul 2017

Os indicadores relativos ao nível de atividade vêm mostrando sinais contraditórios desde o início de 2017, alterando variações positivas e negativas na margem. A análise do PIB positivo do primeiro trimestre convergiu para um consenso em torno do efeito predominante do bom desempenho do setor agropecuário, que no saldo líquido mais que compensou o desempenho negativo da maioria dos demais setores.

Na medida em que este desempenho do setor agropecuário não deva se repetir, e face à lentidão e à volatilidade de uma eventual retomada dos demais setores, as expectativas para o resultado do segundo semestre apontam majoritariamente para uma nova queda do PIB.

(os comentários e opiniões expostos aqui refletem a visão pessoal do autor, e não necessariamente as do CODACE)

Mesmo que essas expectativas se concretizem, uma questão ainda se coloca com relação ao eventual final da presente recessão. Esta provavelmente não será uma questão fácil, como não foi aquela relativa à datação do seu início, identificado como tendo ocorrido no segundo trimestre de 2014.  A “regra de bolso” conhecida, identificando dois trimestres seguidos de queda no PIB como o início de uma fase recessiva, em algumas ocasiões não é suficiente para datar os pontos de inflexão da atividade corretamente. A ideia básica de uma recessão envolve uma “queda generalizada na atividade econômica”, de forma que episódios como o do início da presente recessão ilustram bem a dificuldade envolvida. Após a forte queda do PIB no segundo trimestre de 2014, os outros dois trimestres do ano tiveram variações perto da estabilidade e ligeiramente positivas, mas insuficientes para compensar a queda do segundo trimestre. A “regra de bolso” não apontaria o início desta recessão, mas em retrospectiva ficou claro que de fato já se vivia um processo generalizado de queda de atividade.

Da mesma forma, pode ser que o eventual PIB negativo do segundo trimestre de 2017 inviabilize uma datação imediata do final da recessão segundo a “regra de bolso”. Porém, na medida em que alguns fundamentos de política, notadamente a queda dos juros primários, passaram a propiciar um novo ambiente que potencialmente viabilizaria uma retomada do nível de atividades, pode-se cogitar se já estaríamos de fato vivendo, ainda que lentamente, o processo de retomada. Vários indicadores podem ser utilizados para responder esta questão de forma analítica, e aqui utilizarmos as informações disponibilizadas pelos indicadores antecedente e coincidente do ciclo econômico (IACE/ICCE) calculados mensalmente pelo IBRE em parceria com The Conference Board[1]. O gráfico abaixo mostra o desempenho da série histórica destes indicadores, incorporando os últimos dados, de junho 2017, divulgados hoje, sendo as áreas sombreadas os períodos de recessão identificados pelo CODACE[2]:

Um dos aspectos que mais chama a atenção neste gráfico é o descolamento entre as trajetórias dos indicadores antecedente e coincidente a partir da metade de 2015. A mudança de governo neste período teve um efeito positivo significativo sobre os componentes de expectativas que fazer parte do IACE, mas estas expectativas não se materializaram plenamente no decorrer dos meses seguintes, conforme mostrado pelo ICCE.  Uma informação adicional obtida a partir da combinação das informações destes indicadores é uma probabilidade de recessão em cada período analisado, como mostrado no gráfico abaixo[3]:

O descolamento acima mencionado entre as trajetórias do IACE e do ICCE a partir da metade de 2015 aparece como um “falso positivo” que indicaria o final da recessão neste período, mas que claramente não se realizou nos meses seguintes, quando a probabilidade volta a valores superiores a 0,9. 

Na medida em que estas probabilidades caíram a menos de 0,5 nos últimos dois meses (maio e junho de 2017), a questão mais uma vez é se já teríamos fato saído da recessão. A dificuldade acima mencionada em interpretar este resultado envolve, de um lado a possibilidade do modelo de probabilidades estar novamente apontando um “falso positivo”, e do outro a natureza de uma eventual recuperação. De fato, analisando os resultados de junho, enquanto o ICCE mostra um aumento de 0,7% com relação a maio, o IACE aponta uma queda de 1,0%. Os principais responsáveis por esta queda do ICCE são os componentes de expectativas, afetados de forma claramente negativa pelo ambiente político a partir do 17 de maio[4]. Não se descarta, inclusive, a possibilidade de um “double-dip”, onde uma saída da recessão seria rapidamente seguida de uma nova fase contracionista. A perspectiva mais otimista no momento, do início de uma fase de recuperação, ainda assim aponta para uma lentidão desse processo que dificulta a sua caracterização de forma clara.

Dessa forma, a resposta para a questão colocada no título aparentemente ainda depende de uma perspectiva temporal mais ampla à luz da qual possamos incorporar novas informações, principalmente com relação aos novos desdobramentos da questão política e seus efeitos sobre a agenda de reformas e a atividade econômica.

 

[1] Para as séries históricas e metodologia destes indicadores, aqui

[2] O término da atual recessão ainda não foi datado pelo CODACE.

[3] A metodologia por trás da construção destas probabilidades está exposta aqui

[4] A fragilidade de uma eventual recuperação em função do ambiente político já era colocada na seção “em foco” do Boletim Macro do IBRE de abril deste ano.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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