Macroeconomia

O legado da irresponsabilidade

11 abr 2017

Em livro recentemente lançado, Claudia Safatle, João Borges e Ribamar Oliveira detalham os bastidores da crise econômica que mergulhou o país na pior recessão de sua história. Esta recessão, que se iniciou no segundo trimestre de 2014, segundo o Comitê de Datação dos Ciclos Econômicos com sede na Fundação Getúlio Vargas, prossegue sem sinais claros de reversão.

Os resultados das políticas econômicas geralmente duram até muito tempo após estas terem sido implementadas. E, infelizmente, por desígnios da economia, os erros de política econômica geralmente demoram muito mais tempo para aparecerem do que os acertos; e, seus efeitos deletérios permanecem por tempo mais longo do que os efeitos de uma boa política.

De fato, é muito mais fácil e rápido estragar uma situação de equilíbrio econômico do que corrigir este estrago. Pior ainda, poucos estão habilitados a perceber com clareza as diferenças entre os resultados imediatos de uma política ou da falta dela, e o que virá a ser seu legado. Ainda assim, raramente essa percepção consegue ganhar status de um alerta desapaixonado e politicamente neutro, capaz de lhe conceder credibilidade. Geralmente, a sociedade está mais disposta a saudar bons resultados ou pretensas falhas imediatas do que se preocupar com incertos resultados futuros. E, para o bem ou para o mal, uma análise isenta e correta só é possível muitos anos depois do bem ou do mal ter sido feito.

Dito isto, chega-se em 2016 ao terceiro ano da mais grave e duradoura recessão jamais experimentada pelo Brasil nos últimos 100 anos, conforme antecipado pelo Monitor do PIB-FGV. O IBGE divulgou no dia 7 de março que o PIB de 2016 reduziu-se em 3,6% e, em termos monetário, em valores correntes, alcançou a cifra de aproximadamente 6 trilhões, 267 bilhões de reais. A preços de 2016, o PIB de 2016 é inferior ao de 2011. A valores de 2016, o PIB per capita equivale a R$ 30.410, valor este inferior ao de 2010.

A produtividade da economia, que alcançou o pico em 2013, tem se reduzido desde então e em 2016 é inferior à de 2010. Chama a atenção o desastre da indústria de transformação, cuja produtividade é declinante desde 2001, embora tenha apresentado melhora em 2016, quando comparada a 2015. 

A Formação Bruta de Capital Fixo (investimento) teve em 2016 um valor inferior ao de 2009, enquanto que o valor do Consumo das Famílias para este mesmo ano é inferior ao de 2012.

Como consequência desse desastre econômico, a taxa de desemprego nesse período mais do que duplicou e, em 2016, alcançou uma desastrosa marca, superior a 12,3 milhões de desempregados. A taxa de inflação voltou à casa dos dois dígitos e só recentemente, com um novo Banco Central, ela volta para a meta, algo não observado durante os últimos anos. A dívida pública federal continua em trajetória crescente em proporção do PIB. Os Estados em sua grande maioria estão quebrados e com dificuldades para pagar salários de servidores e outras despesas, piorando o já deficiente atendimento à população.

Muitos experimentos errados de política econômicas foram adotados desde 2008, associados ao Nacional-Desenvolvimentismo, mas certamente o mais desastroso foi o da Nova Matriz Econômica, a origem de todo os problemas recentes. É mister relembrar que a teoria econômica, diferentemente de outras ciências, não tem um laboratório em que possa ser testada. Seu laboratório é a história, e a boa teoria econômica busca identificar, no passado, elementos essenciais, construir relações entre eles para analisar os fenômenos econômicos, e, finalmente, traçar políticas que promovam o aumento do bem-estar da população. Infelizmente, alguns charlatães não se contentam com essa limitação e julgam que a sociedade deve ser cobaia de suas experiências.

Mais surpreendentemente do que este erro é o PT anunciar, que se eleito, voltaria ao experimento fracassado. Deveria haver algum juiz que, além de punir agentes públicos por malversação do dinheiro público, deveria puni-los também pela irresponsabilidade de jogar a sociedade no desemprego e na penúria atual.

 

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PAULO DE TARSO ...
IBRE
Mário Ramos Ribeiro
IBRE

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