Macroeconomia

Sinais de esperança no PIB do 1º tri

5 jun 2017

Embora previsto, foi com certo desapontamento que o bom resultado do PIB do primeiro trimestre deste ano foi recebido: o PIB cresceu 1% comparado ao quarto trimestre de 2016 e apresentou resultado negativo de 0,4% comparado ao mesmo trimestre do ano anterior. O primeiro número indica uma tendência positiva, embora a velocidade pareça estar superdimensionada.  

Já o -0,4% corresponde ao décimo-segundo resultado negativo desde o segundo trimestre de 2014 – ainda que, após chegar a -5,8% no quarto trimestre de 2015, a trajetória se inverteu, tendo a queda se reduzido 2,1 pontos de percentagem em relação ao quarto trimestre, conforme pode ser verificado no gráfico abaixo.

                   Fonte: IBGE - Contas Nacionais Trimestrais

 

Todos os analistas ressaltaram que o pouco que tem de bom nesses resultados se deve ao excelente resultado da agropecuária, com +15,2% comparado ao primeiro trimestre de 2016 ou ainda os +13,4% contra o quarto trimestre do ano passado.

Entretanto, isso é apenas o que é mais evidente, pois existem outros aspectos a considerar: 1) inicialmente, comparando com o quarto trimestre de 2016,  todos as atividades exceto comércio, intermediação financeira e administração pública, apresentaram variações positivas e melhores do que as taxas do trimestre anterior na série dessazonalizada; 2)  na comparação interanual com igual trimestre de 2016, as atividades de agropecuária, extrativa mineral e eletricidade apresentam taxas de variação positiva, e em todas as demais esta taxa é menos negativa do que as do trimestre anterior, à exceção de intermediação financeira, atividades imobiliárias e administração pública.

Adicionalmente, dizer que tem o efeito base do péssimo ano de 2016 é verdade, mas o mesmo ocorreu com a agropecuária e a extrativa mineral. O que se deve reter do mencionado anteriormente é que o resultado da agropecuária foi espetacular, mas várias outras atividades tiveram bons resultados, evidenciando recuperação, ainda que modesta.

Pelo lado da demanda, a taxa de variação trimestral da formação bruta de capital fixo e do consumo das famílias continua negativa, mas têm se reduzido significativamente desde o quarto trimestre de 2015 e a queda é inferior à do quarto trimestre de 2016. Na comparação com o trimestre imediatamente anterior, estas taxas são ainda negativas, mas inferiores às do quarto trimestre de 2016 em relação ao quarto trimestre de 2015.

                   Fonte: IBGE - Contas Nacionais Trimestrais

 

O Monitor do PIB-FGV possibilita olhar esses dois componentes de forma desagregada. Nota-se que o componente da FBCF de máquinas e equipamentos apresenta taxa trimestral significativamente positiva (+3,4%), tanto para os bens nacionais (+2,6%) como os importados (+6,9%). A taxa agregada é negativa devido ao péssimo desempenho da construção, com queda de 7,7%, devido principalmente à paralização das atividades das grandes construtoras de obras públicas. A partir da Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF), a Tabela 3650 – Produção Física Industrial, por grupos e classes industriais selecionados – informa que nos quatro primeiros meses do ano o item 28.3, de fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura e pecuária, apresentou um desempenho espetacular; porém, significativo também foi o desempenho do item 28.6, fabricação de máquinas e equipamentos de uso industrial específico. A decepção ficou por conta do item 28.5, fabricação de máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e na construção, com resultados negativos nos quatro meses, por razões acima mencionadas.

Passando em seguida ao principal componente da demanda, o consumo das famílias, observa-se uma queda ainda significativa no componente de serviços, que continuou piorando no primeiro trimestre. O consumo de duráveis e não duráveis apresenta taxas ainda negativas, enquanto o consumo de semiduráveis já se mostra positivo.

Tendo em mente essa profusão de informações, pode-se concluir que o primeiro trimestre deste ano evidenciou uma reação positiva da economia, ainda que lenta. A única informação mais relevante disponível até o presente para o mês de abril é a da PIM-PF, que mostra que o setor industrial ainda permanece com pouco dinamismo. O crescimento de 0,6% contra o mês de março não eliminou a perda do mês anterior e a comparação entre os meses de abril de 2016 e 2017 mostra que a indústria recuou 4,5%. Os produtos alimentícios exerceram a maior influência negativa (-16,4%), seguidos por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-7,8%). Do lado positivo, o destaque é a anormalmente elevada taxa de crescimento dos produtos farmacêuticos, em seguida a uma taxa também excecionalmente elevada, mas negativa, no mês anterior.

Aparentemente, a recuperação do nível de atividade deverá prosseguir no segundo trimestre de forma lenta. E, dependendo da aprovação das reformas poderá prosseguir no restante do ano.

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