Macroeconomia

Sondagem Econômica da América Latina*: a distância da região em relação ao mundo

10 ago 2017

O Indicador Ifo/FGV de Clima Econômico da América Latina (ICE) – elaborado em parceria entre o Instituto alemão Ifo e a FGV[1] - referente ao mês de julho e divulgado no dia 10/08 mostrou que a distância entre o indicador para a região e o mundo permanece. Enquanto o ICE para a América Latina recuou entre abril e julho e está numa zona desfavorável (abaixo de 100 pontos), o ICE do mundo ficou estável e numa zona de avaliação favorável (acima de 100 pontos). A seguir destacam-se duas questões analisadas no relatório da Sondagem.

O Gráfico 1 mostra o comportamento do ICE para a América Latina e para o mundo, desde janeiro de 2005. Observa-se que os dois indicadores caminhavam relativamente próximos, mas a partir de julho de 2013, passaram a se distanciar. Essa distância pode ser explicada pela reversão no boom de preços das commodities, que trouxe impactos negativos para os principais exportadores de commodities da região. No entanto, a piora no mês de julho, num momento em que o cenário externo é favorável com preços das commodities em alta e crescimento do comércio mundial, aponta para a dominância dos problemas políticos e econômicos de cunho doméstico na maior parte dos países.

Podemos citar: incertezas quanto aos resultados de eleições (Chile, presidência); temas de corrupção (Peru, Brasil, por exemplo), baixo crescimento econômico (generalizado na região) e questões fiscais (vários países).

A segunda se refere ao comportamento dos países membros dos principais blocos da região: Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai); e Aliança do Pacífico (Chile, Colômbia, México e Peru). O Gráfico 2 mostra que no Mercosul, exceto o Brasil, todos os países estão na zona de avaliação favorável (acima de 100 pontos), apesar da queda do ICE no Uruguai e Paraguai. A queda em 20 pontos no Brasil no mês de julho foi liderada pela piora nas expectativas face às turbulências políticas pós-delação da Friboi, pois a avaliação da situação atual, embora continue desfavorável, registrou uma pequena melhora (+3 pontos).

No caso da Aliança do Pacífico, todos os países estão na zona desfavorável (abaixo de 100 pontos) e registraram queda do indicador, exceto o México. Em relação a esse último, o “rompante protecionista” de Trump amainou, assim como vai se delineando aos poucos o que será a renegociação do NAFTA. Conforme analisado no Relatório da Sondagem, é possível que os outros países da Aliança do Pacífico melhorem o clima econômico na próxima Sondagem de outubro, pois os indicadores de expectativas em todos esses países melhoraram entre abril e julho e estão na zona favorável.

No Peru, os estragos do furacão El Niño já passaram e as turbulências causadas pelas denúncias de corrupção de ex-presidentes parecem estar sendo resolvidas. Em adição, o aumento nos preços da commodities de metais tem efeito positivo na economia do país. No Chile, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixou, em julho, o rating de crédito pela primeira vez em 25 anos, devido ao aumento da deterioração das finanças públicas, como resultado do crescimento econômico lento prolongado, segundo a explicação da própria agência. Como as expectativas indicam melhora, os especialistas devem esperar que, passado este período, a melhora no preço do cobre e as futuras eleições sejam positivas. Na Colômbia, questões sobre a estabilidade das contas públicas e do déficit em transações correntes influenciam, mas as expectativas são estáveis.

O comportamento do ICE na América Latina reflete os problemas políticos e econômicos dos países, mesmo naqueles que eram apontados como “estrelas da região”, como o Chile. É preciso, portanto, acertar o cenário doméstico para que a região possa aproveitar o possível novo ciclo de recuperação, mesmo que modesto, da economia mundial.

 

*A Sondagem Econômica da América Latina é divulgada nos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro. Os relatórios estão disponíveis no portal do IBRE (www.portalibre.fgv.br) na seção Tendências Econômicas.


[1] Tendo como fonte de dados a Ifo World Economic Survey (WES).

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