Macroeconomia

A série nova de emprego formal do CAGED não deve ser comparada com a antiga

23 mar 2021

Neste texto quero chamar atenção para uma prática que considero errada e que vem sendo adotada pelo Ministério da Economia no que tange a divulgação dos dados mensais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). A prática consiste em comparar os dados da nova série do CAGED, iniciada em janeiro de 2020, com os números da série antiga, que se encerrou em dezembro de 2019. Esse tipo de comparação pôde ser vista, por exemplo, na última divulgação do CAGED, que trouxe os dados de janeiro de 2021.

Naquela divulgação, o Ministério da Economia afirmou que o saldo de geração de empregos formais de janeiro de 2021 foi o maior para o referido mês desde 1992 (melhor saldo em 30 anos). A princípio essa prática, de comparar a séria antiga do CAGED com a nova, pode parecer pouco preocupante. Porém, caso a nova série do CAGED seja muito distinta da antiga, compará-las sem o devido cuidado pode conduzir a erros graves.

Felizmente, o próprio Ministério da Economia fornece dados, referentes ao período de abril a dezembro de 2019, que permitem a realização de uma comparação entre as duas séries, a antiga e a nova, do CAGED. Os dados dessas séries são apresentados na tabela abaixo. Para simplificar a referida tabela apresenta apenas os saldos de geração de empregos formais de ambas as séries. Isso porque os dados de admissões e desligamentos complicariam a análise realizada aqui e não agregariam muito em termos das conclusões obtidas.

A tabela mostra que o saldo CAGED da série antiga foi, em abril de 2019, igual a 125.247. Isso significa que, segundo a série antiga do CAGED foram gerados, no mês de abril de 2019, mais de 125 mil empregos formais. Porém, preocupantemente, no mesmo mês de abril de 2019 a série nova do CAGED sugere que houve geração muito maior de empregos formais. Mais precisamente, a série nova aponta uma criação de 192.033 empregos formais em abril de 2019.

Logo, a tabela mostra que houve uma criação de 66.786 empregos formais a mais na série nova, em abril de 2019, do que o verificado na série antiga. Em termos percentuais isso significa um saldo 53,3% maior na série nova comparativamente a antiga.

A diferença mencionada acima é bastante expressiva. Mas não necessariamente significa que as séries sempre produzem números distintos. Pode se tratar apenas de um caso isolado. O problema é que o restante da tabela mostra que as diferenças são a norma e não a exceção.

Em maio de 2019 a série nova apresenta uma geração de postos formais de trabalho que chega a ser 361,0% maior do que aquela encontrada no mesmo mês para a série antiga. A última linha da tabela apresenta os saldos acumulados, de abril a dezembro de 2019, para ambas as séries. Novamente, as diferenças são grandes.

Mais precisamente, o saldo acumulado de abril a dezembro de 2019 na série antiga é igual a 410.842 e na série nova é igual a 715.169. Logo, a série nova sugere que, entre abril e dezembro de 2019, houve uma geração de 304.327 empregos formais a mais do que o observado na série antiga. Isso representa 74,1% empregos a mais na série nova.

Os números apresentados aqui reforçam a ideia de que as duas séries do CAGED, a antiga e a nova, são muito distintas. Logo, esse texto ajuda a ilustrar por que a prática que vem sendo adotada pelo Ministério da Economia de comparar a série antiga, e a nova, do CAGED parece ser inadequada.

Para encerrar, minha sugestão é comparar as próximas divulgações do CAGED apenas com os dados da série nova, iniciada em janeiro de 2020. Dados anteriores a janeiro de 2020 pertencem a série antiga do CAGED que, como visto aqui, possui números muito distintos para serem comparados com a série nova.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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