Macroeconomia

PTF, ou a "medida da nossa ignorância", faz 60 anos

31 mai 2017

Em 2017 comemoram-se 60 anos da publicação de um dos mais influentes textos de economia aplicada de todos os tempos. De autoria de Robert Solow, prêmio Nobel de Ciências Econômicas em 1987, “Technical Change and the Aggregate Production Function” veio à luz na publicação The Review of Economics and Statistics de agosto de 1957. 

No texto Solow lançou, ao longo de econômicas nove páginas, as bases de um sofisticado instrumental que se revelaria, até hoje, de enorme potência e utilidade para os estudiosos da Economia do Desenvolvimento. Poucas contribuições emparelham com esta.

O trabalho, aliás, é um descendente direto do seu respeitável esforço teórico publicado um ano antes, “A Contribution to the Theory of Economic Growth” (Quarterly Journal of Economics, Fevereiro de 1956), texto que resume as bases da teoria neoclássica da produção. Texto tão seminal que praticamente dispensou referências bibliográficas. Nada do que veio antes nessa área se lhe compara.

Essencialmente, Solow explorou no texto de 1957 o conceito de função de produção neoclássica agregada para decompor o crescimento da produtividade do trabalho em duas partes: a relação capital-trabalho e um índice de mudança técnica —posteriormente apelidado de “resíduo de Solow” por E. Domar em 1961, mas modernamente conhecido como produtividade total dos fatores (PTF).

O tema não era totalmente novo, nem sequer os resultados, como se nota da breve introdução do artigo de Solow. Pesquisadores como J. Schmookler (1952), S. Fabricant (1954), S. Valavanis-Vail (1955) e, especialmente, M. Abramovitz (1956) já haviam calculado indicadores de progresso técnico e razões de produtividade que levavam em conta ambos os fatores de produção, trabalho e capital.[1] Este último autor, em particular, criou então uma expressão algo surpreendente, mas não despida de conteúdo, para o que depois seria chamado de PTF: “uma medida da nossa ignorância”.

O que singularizou o texto de Solow, porém, foi a conjugação de elegância teórica e engenhosidade empírica de uma forma admirável. Com aplicação aos dados dos EUA dos anos 1909 a 1949, Solow chamou a atenção para algo que ganharia crescente atenção dos estudiosos do desenvolvimento econômico: ao separar movimentos ao longo da função de produção de deslocamentos na função de uma forma simples, elegante e teoricamente fundada, Solow mostrou que 87,5% do aumento da produtividade do trabalho no período por ele analisado deveu-se à mudança técnica — ou PTF. Os restantes 12,5%, ao aumento no uso de capital por trabalhador. E a Economia do Desenvolvimento nunca mais seria a mesma.

 

[1] As referências completas estão na edição da citada The Review of Economics and Statistics.

 

 

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