Macroeconomia

Brasil parou por razões internas, e pode voltar a crescer com ações internas

11 mai 2017

O desempenho da economia brasileira tem sido de desaceleração desde meados de 2011. Em 2014, houve um agravamento dessa tendência, levando o Brasil a uma das piores recessões de sua história.

Diante desse quadro, o debate sobre os motivos da desaceleração brasileira se intensificou. Em um primeiro momento, foram divulgados estudos do BID e do FMI que enfatizavam os fatores externos como os mais relevantes para a desaceleração da economia brasileira. [1]

Em texto mais recente, Bráulio Borges[2] destaca que “é possível identificar claramente uma interconexão entre a desaceleração do crescimento potencial nos últimos anos e diversos fatores não ligados a decisões de política econômica doméstica neste período”. Ele conclui que, além de fatores externos, choques específicos que ocorreram na nossa economia são os principais motivos da desaceleração.

Porém, outros estudos não conseguem dar destaque tão significativo para fatores externos.  Em meu artigo[3] publicado no livro “A Crise de Crescimento do Brasil”, apresento estudo econométrico que indica que apenas 30% da desaceleração brasileira pode ser explicada por fatores externos.

Mais recentemente, Marcel Balassiano[4] estendeu esse exercício, incorporando novas metodologias e amostra de países, e encontrando resultados similares – o descolamento do Brasil é explicado fundamentalmente por fatores específicos da nossa economia.

Outro ponto que vale a pena ser destacado nesse trabalho é a análise comparativa desde 1980. Surpreendentemente, o Brasil seguiu uma trajetória similar à da América Latina por mais de 30 anos, tanto em termos de crescimento real como de crescimento do PIB per capita. Mas isto mudou a partir de 2011. A discrepância no biênio 2014-2015 se intensificou. E o ano passado também não foi muito diferente.

Ou seja, ou somos muito incompetentes ou muito azarados (este último ponto é enfatizado por Borges). Mas, de qualquer forma, em ambos os casos é possível pensarmos em reversão dessa trajetória.

É claro que há fatores mais estruturais que explicam uma redução do crescimento do PIB per capita, como por exemplo, o menor crescimento da população em idade ativa. De fato, esse é um problema mundial. Porém, excluindo esses motivos, há espaço sim para melhora do desempenho da economia com a reversão da política econômica.

E, dependendo da intensidade da agenda reformista deste governo e do próximo, poderemos iniciar novo ciclo de crescimento e reverter o quadro atual. Há sinais muito favoráveis nessa direção.

Por outro lado, os riscos de se buscar atalhos para o crescimento permanecem. O manifesto “Projeto Brasil Nação”, com assinatura de economistas e intelectuais, mostra que esse perigo existe.

Será que não aprendemos?

 

[1] Capítulo 2 do relatório do BID Global recovery and monetary normalization: escaping a chronicle foretold? (2014); e capítulo 4 do World Economic Outlook, abril de 2014, FMI. Porém, em outubro de 2015, no Panorama Econômico Regional, o FMI destacou que apesar dos fatores externos explicarem parte da recessão brasileira, são os problemas domésticos os maiores responsáveis pela crise.

[2] Borges, B. (2016). “Bad luck or bad policy: uma investigação das causas do fraco crescimento da economia brasileira nos últimos anos”. In.: BONELLI, R..; Veloso, F. (orgs.). A Crise de Crescimento do Brasil, Editora Elsevier.

[3] Matos, S. (2016). “A Desaceleração do Crescimento Brasileiro: Causas Externas ou Domésticas?”. In.: BONELLI, R..; Veloso, F. (orgs.). A Crise de Crescimento do Brasil, Editora Elsevier.

[4] Balassiano, M. (2017). “Desempenho da economia brasileira entre 1980 e 2015: uma análise da desaceleração brasileira pós-2010”. Dissertação de mestrado EPGE/FGV. 

 

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