Macroeconomia

Na atividade, copo meio vazio, copo meio cheio

18 jul 2017

A recente divulgação do indicador de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br), com queda na taxa dessazonalizada, ganhou manchetes espetaculares nos jornais, tal como: “a economia brasileira levou mais um tombo no mês de maio”. A despeito de verdadeira, trata-se de uma informação que falseia e esconde alguns resultados positivos. Primeiramente, a economia brasileira, de acordo com o Monitor do PIB-FGV, divulgado hoje, dia 18 de julho, no portal do IBRE, como pode ser observado no Gráfico 1 abaixo, vem se recuperando desde julho de 2016, quando apresentou a maior taxa negativa (-4,8%) desde o início do atual recuo. Essa taxa é hoje de -1,7% e poucos duvidam que será positiva ao fim do ano. A previsão atual do Boletim Macro do IBRE é +0,2%.
 

A taxa mensal da série dessazonalizada, estimada pelo Monitor do PIB-FGV, tem resultado semelhante ao do IBC-Br, com queda de 0,9% em maio contra abril, conforme indica o Gráfico 2, com a volatilidade que lhe é característica. Mas, recorrendo à média trimestral dessas taxas (no Gráfico 3), a tendência é claramente de recuperação, já se observando duas taxas positivas, sendo de 0,5% a taxa do trimestre móvel findo em maio.

Da mesma maneira, as taxas contra igual período do ano anterior mostram, para os resultados mensais, ora copo vazio, ora copo cheio, a despeito da tendência positiva, com a taxa de maio positiva em 0,7%. Quando se olha a taxa trimestral, essa tendência ascendente é mais clara e definida, com a taxa zero do trimestre móvel findo em maio.

O exame das informações do Monitor do PIB-FGV, pela ótica da demanda, mostra que todos os seus elementos na taxa acumulada de 12 meses têm se tornado menos negativos desde agosto de 2016, à exceção das exportações, que se tornaram negativas a partir de fevereiro de 2017, o que pode ser observado no Gráfico 6, abaixo.

A desagregação desses elementos revela que o consumo de bens semiduráveis (vestuário, calçados, etc.) tem contribuído positivamente para a melhoria dos consumos das famílias. Essa também tem sido a contribuição do consumo de bens duráveis (automóveis, elétrico-eletrônicos, etc.) a partir de maio, conforme indica o Gráfico 7 abaixo. Isso chama a atenção de que nem todo o recurso sacado pelas famílias de suas contas inativas do FGTS foi utilizado para saldar dívidas, mas uma parte foi também canalizada para o consumo.

Em relação à Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), sua desagregação aponta que o componente de máquinas e equipamentos tem dado contribuição positiva já a partir de janeiro do corrente ano, enquanto a construção tem contribuído negativamente e não tem dado qualquer sinal de que voltará a ser positiva. Por um lado, a demanda por residências por parte das famílias ainda endividadas continuará sem reagir por algum tempo. Por outro lado, a construção pesada é certamente a grande responsável por esse resultado, tanto pelo lado da oferta, com as empresas emparedadas pela Lava-Jato, como pelo lado da demanda, com os governos federal e estaduais cerceados em termos orçamentários. Como destravar a construção é certamente o maior desafio que a política econômica terá que enfrentar. Programas de concessão e de privatização serão essenciais para isso.

Em resumo, a economia brasileira continua em lenta trajetória de recuperação iniciada em agosto de 2016. Entretanto, ainda é cedo para se afirmar que essa trajetória se sustentará, frente as enormes dificuldades a serem ainda superadas, notadamente no campo político. Só essa superação possibilitará a aprovação das reformas necessárias a um crescimento duradouro. 

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