Cenários

Como esperado, economia inicia 3º trimestre mais fraca, com indústria em queda e varejo fragilizado

30 set 2025

Seguimos projetando desaceleração mais acentuada das atividades cíclicas no 2º semestre, tendência que deve ser parcialmente compensada pelo bom desempenho dos setores menos sensíveis à política monetária, como o extrativo.

O terceiro trimestre começou confirmando a desaceleração da atividade econômica. Em julho, a produção industrial recuou 0,2% MsM (+0,2% AsA), abaixo das expectativas, com a indústria extrativa mantendo desempenho robusto impulsionado pelo petróleo, enquanto a transformação segue desacelerando. O varejo ampliado interrompeu a sequência de quedas (+1,3% MsM), mas o varejo restrito e os bens duráveis ainda apresentam fragilidade, refletindo efeitos da política monetária. Os serviços cresceram modestamente (+0,3% MsM; +2,8% AsA), sustentados pelo mercado de trabalho aquecido. Indicadores agregados confirmam o arrefecimento: o Monitor do PIB registrou -0,6% MsM (+1,7% AsA) e o IBC-Br caiu 0,5% MsM (+1,1% AsA). Em relação ao PIB, o agro não deve surpreender, a indústria avança principalmente no extrativo, enquanto eletricidade e construção devem recuar, e os serviços manter crescimento limitado. Pela ótica da demanda, consumo das famílias e do governo seguem crescendo, investimentos devem cair levemente e o setor externo apresenta saldo positivo. Com isso, projetamos PIB de 0,2% TsT (1,7% AsA) para 25T3, mantendo o crescimento anual estimado em 2%.

A produção industrial geral recuou 0,2% MsM em julho (+0,2% AsA), em linha com a mediana das expectativas, reforçando os sinais de fraqueza da atividade no segundo semestre. No acumulado do ano, o crescimento desacelerou para 1,1% AsA, ante 1,2% em junho. A indústria extrativa manteve desempenho robusto, com alta de 6,3% AsA (+0,8% MsM), impulsionada pela produção de petróleo, que avançou 22,5% AsA em julho e 8,5% no ano, segundo a ANP. Esse resultado reflete a ativação de sete novos poços, dos quais quatro na Bahia e um no Maranhão se destacam em termos de relevância. Por outro lado, a indústria de transformação segue em desaceleração, com queda de 0,1% MsM (-0,9% AsA). Entre as categorias de uso, os bens de capital recuaram 0,2% MsM (-0,1% AsA), enquanto os bens de consumo caíram 0,1% MsM (-4,0% AsA).

Em julho, o varejo ampliado interrompeu a sequência de quedas e registrou alta de 1,3% MsM (-2,5% AsA), após três meses consecutivos de retração. Já o varejo restrito recuou 0,3% MsM, embora ainda apresente crescimento de 1,0% na comparação interanual. Dentro do varejo restrito, a categoria “Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo” seguiu no campo negativo, sinalizando fragilidade do consumo. Em contraste, segmentos como “Móveis e eletrodomésticos” e “Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos” mostraram resiliência, revertendo o recuo de junho. No varejo ampliado, o desempenho interanual permanece negativo em todas as subcategorias, com destaque para o atacarejo, que registrou retração superior a 10% AsA. A alta na margem, portanto, reflete mais a base deprimida de junho do que uma recuperação consistente da atividade. Por fim, a análise por categorias de uso evidencia que as sucessivas quedas no consumo de bens duráveis reforçam o efeito da política monetária restritiva sobre a demanda.

Em julho, o setor de serviços repetiu o desempenho de junho, registrando alta de 0,3% MsM (+2,8% AsA), com o crescimento concentrado nos segmentos de comunicação (+1,0% MsM), serviços profissionais (+0,4% MsM) e transporte (-0,6% MsM), este último acomodando a expansão observada no mês anterior. Os serviços prestados às famílias acomodaram o recuo de 1,5% MsM em junho, voltando ao terreno positivo com avanço de 0,3% MsM, embora no comparativo interanual ainda apresentem queda de 1,8% AsA. Já outros serviços, com atividades menos ligadas à dinâmica do consumo, permaneceram no campo negativo, registrando retração de 0,2% MsM (-2,0% AsA).

O Indicador de Atividade Econômica do FGV IBRE (IAE-FGV) caiu 0,4% na margem (+1,3% AsA) em julho. As contribuições dos componentes cíclicos e exógenos foram de 0,6 p.p. e 0,7 p.p., respectivamente. Paralelamente, o IBC-Br recuou 0,5% na margem (+1,1% interanual), resultado abaixo tanto da mediana das expectativas do mercado (-0,3% MsM) quanto da nossa projeção (-0,3% MsM). O segmento agropecuário manteve desempenho robusto no ano (+3,5% AsA), embora tenha registrado queda de 0,8% na margem, reflexo de uma base elevada nos meses anteriores. Excluindo esse efeito, o IBC ex-agro apresentou crescimento de 1,0% na comparação anual. Por fim, o Monitor do PIB apresentou crescimento de -0,6% MsM (+1,7 % AsA) com contribuições dos componentes cíclicos e exógenos de, respectivamente, 0,9 p.p. e 0,8 p.p. para a taxa interanual e -0,7 p.p. e 0,1 p.p. na margem.

A divulgação do crescimento de 0,4% TsT do PIB em 25T2 confirmou a desaceleração da atividade, embora em ritmo um pouco menos intenso que o esperado. Os dados de julho reforçam essa leitura: setores mais cíclicos já mostram sinais de arrefecimento, mesmo diante do alívio proporcionado pela taxa de câmbio, que recentemente atingiu o menor nível do ano. Assim, seguimos projetando desaceleração mais acentuada das atividades cíclicas no segundo semestre, tendência que deve ser parcialmente compensada pelo bom desempenho dos setores menos sensíveis à política monetária, em especial o extrativo.

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Pela ótica da oferta, o setor agropecuário não deve apresentar surpresas, já que a colheita das principais culturas — soja, milho e café — foi praticamente concluída no primeiro semestre. Para 25T3, projetamos crescimento de 2,0% AsA. A indústria deve concentrar seu avanço na indústria extrativa, com alta de 12,3% AsA (+1,9% TsT). A matriz de geração de energia mostra maior uso de termoelétricas e renováveis (solar e eólica), enquanto a participação das hidrelétricas — de menor custo — recuou. Esse movimento eleva o consumo intermediário e reduz o valor adicionado. Somado à desaceleração da atividade, observamos perda de dinamismo na geração de energia. Projetamos, assim, retração de 1,5% TsT (-3,6% AsA) em “Eletricidade e Outros”. Na construção civil, não esperamos surpresas, uma vez que as políticas habitacionais do governo já tiveram efeito; projetamos ligeira queda de 0,6% TsT (-0,5% AsA). Nos serviços, o setor deve mostrar alguma resistência, principalmente devido ao mercado de trabalho ainda aquecido, com crescimento estimado de 0,4% TsT (+1,7% AsA). Portanto, projetamos atividade ainda mais fraca em 25T3, com PIB crescendo 0,2% TsT (+1,7% AsA) neste trimestre, mantendo a previsão de crescimento anual em 2%.

Pela ótica da demanda, projetamos crescimento do consumo das famílias em 0,8% TsT (+1,4% AsA) e do consumo do governo em 1,2% TsT (+1,3% AsA). Os investimentos devem registrar leve queda na margem, de 0,2% TsT (+0,9% AsA). O setor externo deve apresentar saldo positivo, com exportações avançando 3,0% TsT (+6,7% AsA) e importações subindo 0,3% TsT (+3,1% AsA).

 

Esta é a seção de Atividade do Boletim Macro IBRE de setembro de 2025.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

 

 

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