Balança comercial de agosto: uma rápida leitura

Em agosto exportações para EUA caíram 18,5%, após quatro meses seguidos de alta, e importações desaceleraram. Queda de exportações levou a déficit com os EUA de US$ 1,2 bilhão em agosto e déficit acumulado no ano de US$ 3,4 bi.
A balança comercial de agosto trouxe novidades.
Pela primeira vez, desde março de 2024, as importações registraram queda (-2,0%) na comparação interanual mensal do mês de agosto entre 2024 e 2025. Um resultado que é compatível com a desaceleração do crescimento da economia. As exportações continuam aumentando em relação ao ano de 2024, na base de comparação mensal, um acréscimo de 3,9%. Até junho, a variação nas importações sempre superou a das exportações. Em volume, segundo os dados divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior, o mesmo se repete: variação de 9,8% nas exportações e queda de 2,0% nas importações, na comparação mensal. No acumulado do ano até agosto, porém, a variação das importações supera a das exportações em volume e valor.
Com os resultados dos fluxos comerciais, o superávit da balança comercial em agosto (US$ 6,1 bilhões) superou o de igual período em 2024 (US$ 4,5 bilhões), o que não ocorria desde janeiro. No acumulado do ano até agosto, porém, o superávit de 2025 (US$ 42,8 bilhões) é inferior ao de 2024 (US$ 53,6 bilhões).
A segunda novidade se refere à queda nas exportações na indústria de transformação em 0,9%. É o primeiro registro de queda no ano. Além disso somente no mês de março a variação da agropecuária na comparação mensal, 16%, superou a da transformação, 10%; em todos os outros meses a variação da transformação foi superior à da agropecuária e da indústria extrativa. Observa-se que o principal produto de exportação da transformação foi a carne bovina que registrou variação positiva de 56%, mas celulose, açúcares, farelo de soja, que estão entre os principais produtos, registraram queda. O mesmo se observa para aviões, semimanufaturas de aço, entre outros. Os veículos de passageiros continuam crescendo, com variação de 51%. Qual a contribuição dos Estados Unidos para a queda das exportações de manufaturas será analisado quando publicarmos o ICOMEX/FGV Ibre de setembro.
A terceira novidade se refere à questão que está na agenda de prioridades da relação comercial Brasil-Estados Unidos. É possível identificar o efeito do tarifaço que foi anunciado em 30 de julho?
A tabela 1 mostra que no mês de agosto as exportações para os Estados Unidos caíram 18,5%, após quatro meses consecutivos de aumentos. As importações desaceleraram e o aumento foi o menor da série, exceto em maio. A queda nas exportações levou a um déficit com os EUA de U$ 1,2 bilhão em agosto e a um déficit acumulado no ano de US$ 3,4 bilhões até agosto. Se o objetivo do governo Trump com o Brasil se reduzisse a questão do saldo comercial, estaria sendo atendido. No entanto, o viés político na justificativa do tarifaço de Trump para o Brasil reduz a importância desse resultado.
Tabela 1: Comércio bilateral Brasil-Estados Unidos: comparação mensal 2024/2025
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior/MDIC
Se as exportações para os Estados Unidos recuaram, para a China aumentaram. Como mostra a tabela 2, após sucessivas quedas no valor exportado em 2025, com algumas exceções (março e junho), as exportações cresceram 31,0% em agosto, o que ajuda a explicar o melhor desempenho da agropecuária.
Tabela 2: Variação (%) mês contra mês anterior das exportações brasileiras para a China: 2024/2025
Fonte: Secretaria de Comércio Exterior/MDIC
Em suma, essa breve nota chamou atenção de que os resultados de agosto da balança comercial indicam mudanças que podem ser pontuais ou indicativas de novas tendências.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva da autora, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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