Cenários

Demissões a pedido permanecem em alta

4 jun 2024

Demissões a pedido voltaram a atingir seu máximo histórico em abril. O mercado formal continua registrando bons resultados. O saldo de 240.033 postos formais foi o maior entre os meses de abril dos últimos anos.

Conforme já discutido nas edições anteriores, a quantidade de demissões a pedido tem crescido, registrando sucessivos recordes e aumentando sua participação no total de demissões ao longo do tempo. De acordo com o Gráfico abaixo, em abr/24 esse tipo de causa de desligamento atingiu o maior nível novamente desde o início da sua série em janeiro de 2020, com 734.943 demissões a pedido do trabalhador. Analisando a série histórica, os quatro maiores valores de demissões a pedido correspondem ao primeiro quadrimestre de 2024, sendo o mês de abril seguido por mar/24 (727.452), jan/24 (704.343) e fev/24 (699.122).

Em relação ao acumulado no primeiro quadrimestre de cada ano, a quantidade de desligados a pedido cresceu consistentemente entre os anos de 2020 e 2024, tendo chegado ao seu pico no 1º quadrimestre de 2024, com 2.865.860 desligamentos dessa natureza. Esse montante foi 14,7% maior do que o do 1º quadrimestre de 2023 (2.499.164 desligados a pedido) e 23,0% maior do que o do 1º quadrimestre de 2022 (2.329.753). No acumulado em 12 meses, o montante de trabalhadores desligados sob essa condição chega a 7.766.435. Ademais, verifica-se também uma tendência de aumento da participação das demissões a pedido no total dos desligamentos. Os meses que compõem o 1º quadrimestre de 2024 são os que detém os maiores percentuais de demissões a pedido da série, sendo respectivamente, de 36,5%, 35,6%, 35,8% e 36,4%. Essa taxa de demissão voluntária é um indicativo de pressão sobre o mercado de trabalho. 

Gráfico 3 – Demissões por causa de ocorrência. Mensal. Jan/20 a abr/24. Brasil.

Fonte: Elaboração dos autores com base nos microdados do Novo CAGED.
Dados com ajustes declarados até abr/24. Na categoria “Outros” estão aglutinados
os desligamentos por Culpa Recíproca, Aposentadoria, Morte, Transferência e de tipo Ignorado.

Dado o protagonismo das demissões voluntárias, no Gráfico 4 apresentamos a composição educacional e de contratos dos trabalhadores que pediram demissão voluntariamente. Percebe-se que, em abr/24, 68,1% dos trabalhadores que se desligaram voluntariamente tinham Ensino Médio completo ou Superior incompleto, participação que vem aumentando de forma consistente desde o início da série histórica. Em abr/23 e abr/22, por exemplo, essa participação foi de 67,4% e 65,1%, respectivamente. Em segundo lugar, temos o grupo com Ensino Fundamental Completo ou Médio Incompleto, com 13,3% das demissões a pedido, participação que tem se mantido relativamente constante ao longo do tempo.

Verifica-se que o grupo com Superior Completo ou mais corresponde a 12% das demissões a pedido em abr/24, mas sua participação vem diminuindo na comparação com os meses de abril desde 2020. Nota-se que os dois grupos de escolaridade mais elevados representam, conjuntamente, 80% do total das demissões voluntárias. Esse perfil educacional reforça o ponto de que trabalhadores mais qualificados podem estar se demitindo voluntariamente devido ao aparecimento de outras oportunidades mais vantajosas no mercado de trabalho.

Em relação aos tipos de contratos que os trabalhadores desligados voluntariamente tinham, observa-se que 94% destes trabalhadores eram da categoria Geral em abr/24. Ou seja, eram contratados por CLT (inclusive o empregado público da administração direta ou indireta). Embora essa categoria sempre tenha sido a predominante entre os que se desligaram voluntariamente, passou a registrar ganhos de participação a partir de abr/22. A segunda categoria com maior participação, mas distante da categoria Geral, foi a de trabalhadores Aprendizes, com participação 2,5% no total de desligamentos voluntários em abr/24. Por fim, as demissões voluntárias de trabalhadores contratados temporariamente foram responsáveis por 1,7% das demissões voluntárias totais.

Gráfico 4 – Demissões a pedido por grau de escolaridade e tipo
de contrato dos trabalhadores. Mensal. Abril de 2020 a 2024. Brasil.

Fonte: Elaboração dos autores com base nos microdados
do Novo CAGED. Dados com ajustes declarados até abr/24.

Dentre as hipóteses para a manutenção do elevado número de demissões a pedido destacam-se: 1) admissões em outros postos de trabalho formais com melhores oportunidades, ou seja, mais condizentes com as qualificações do trabalhador, que ofereçam melhores remunerações, melhor regime de trabalho etc.; 2) Migração para trabalhos com jornadas mais flexíveis, como por exemplo, empreender seu próprio negócio.

O texto completo pode ser acessado no Observatório da Produtividade Regis Bonelli.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva da autora, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Comentários

Renato
Muito legal

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