Economia Regional

A deterioração da indústria de transformação do Rio de Janeiro

23 out 2025

No agregado da indústria, Rio de Janeiro apenas não ocupou a última posição devido à indústria extrativa. Se fosse excluída essa atividade do conjunto industrial, o Rio de Janeiro ocuparia a última posição nacional no desempenho da indústria.

A indústria de transformação fluminense, atividade com importante poder de encadeamento na economia, tem se deteriorado ao ponto de o Rio de Janeiro ter sido, entre 1985 e 2022, a única das 27 unidades da Federação a apresentar retração real. Esse fenômeno se refletiu em uma aguda desindustrialização, cuja maior parte da intensidade é explicada pelo desempenho da cidade do Rio de Janeiro.

Com base em dados do Sistema de Contas Regionais do IBGE (SCR) e da Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS), foi possível mensurar a desindustrialização do estado por meio de dados de valor adicionado e de emprego. Essa análise resultou no artigo “A influência do contexto político na desindustrialização do Rio de Janeiro”, publicado na revista Coleção Estudos Cariocas, vinculada ao Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP).

Neste blog, apresento um extrato desse artigo, com foco nos dados econômicos elaborados sobre o processo de desindustrialização fluminense.

1) Enfraquecimento da indústria de transformação do Rio de Janeiro

Pela Tabela 1, observa-se que, entre 1985 e 2022, o PIB do Rio de Janeiro apresentou o pior desempenho do país, assim como o valor adicionado nos setores de agropecuária e serviços. No agregado da indústria, o estado apenas não ocupou a última posição devido ao desempenho de sua indústria extrativa. Excluindo essa atividade do conjunto industrial, o Rio de Janeiro ocuparia também a última posição nacional no desempenho da indústria. 

Destaca-se ainda o desempenho negativo do valor adicionado da indústria de transformação do Rio de Janeiro, único estado a registrar retração real nessa atividade (-20,2%) no período.

Na análise dos vínculos formais de emprego, apresentada no Gráfico 1, o Rio de Janeiro também se destacou negativamente, sendo o único estado a apresentar retração na indústria de transformação entre 1985 e 2024. Nesse período, o emprego formal na atividade fluminense caiu 18%, enquanto o Brasil como um todo registrou crescimento de 65,1%.

Gráfico 1: Taxa de variação dos vínculos formais de emprego na transformação por estados, entre 1985 e 2024 - %

1TO e GO, antes de 1989 eram uma única unidade da federação. A estimativa de TO antes de 1989 foi realizada pela evolução da série de GO. Por sua vez, GO, neste período, passou a ser a diferença entre o total do estado e a estimativa de TO. Fonte: Relação Anual de Informações Sociais - MTE. Elaboração própria.

A análise por regiões do estado, detalhada na Tabela 2, mostra que a retração do emprego formal na indústria de transformação concentrou-se na Região Metropolitana, especificamente no município do Rio de Janeiro.

Entre 1985 e 2024, o estado apresentou crescimento do emprego formal da transformação em sete de suas oito regiões. Apenas a região metropolitana apresentou retração (-36,5%), fato explicado pelo desempenho do município do Rio de Janeiro (-51,1%), já que, nos demais municípios da região, houve crescimento de 8,5%.

Pelo Gráfico 2, que mostra a evolução do emprego formal da transformação em diferentes recortes territoriais, observa-se que a retração observada no estado foi bastante concentrada geograficamente em sua capital. Além disso, pontua-se que, em 2024, apenas a cidade do Rio de Janeiro e a região metropolitana apresentaram desempenho inferior ao de 1985.

Gráfico 2 - Evolução do emprego formal da transformação por localidades - 1985=100

Fonte: MTE - RAIS. Elaboração própria.

2) A desindustrialização fluminense

O processo de desindustrialização é observado quando há perda de participação da indústria de transformação na economia. A desindustrialização nem sempre é problemática, caso seja consequência do processo de desenvolvimento econômico em que, ao longo do tempo, observa-se redução da participação da agropecuária, devido a intensificação da indústria que, posteriormente, perde espaço relativo devido ao aumento de participação dos serviços, em função do aumento da demanda por estes (SQUEFF, 2012). Neste caso, a desindustrialização não é causada pela retração na indústria de transformação, mas sim pelo crescimento do setor de serviços a taxas superiores as da indústria. A desindustrialização, portanto, torna-se um problema caso ocorra prematuramente, não sendo fruto do processo “natural” de maior demanda por serviços e, sim, devido a deficiências no desenvolvimento industrial, com efeitos de redução do crescimento econômico potencial de longo prazo de um país (MORCEIRO, 2011).

Dada a retração da transformação no Rio de Janeiro, tanto em termos de valor adicionado, quanto de geração de postos de trabalho formais, é inegável a prematuridade da desindustrialização fluminense, ilustrada no Gráfico 3.

Gráfico 3 - Participação do valor adicionado e do emprego formal da transformação no total dessas variáveis na economia fluminense - %

Fonte: IBGE - Sistema de Contas Regionais. Elaboração própria.

Esses resultados evidenciam que o Rio de Janeiro vem enfrentando desafios estruturais na indústria de transformação, que têm contribuído para a deterioração dessa atividade no estado. Nos últimos anos, a maior parte de investimentos no estado do Rio de Janeiro estão relacionados a características específicas, como a existência de reservas de petróleo ou seu perfil turístico.

Em termos de desenvolvimento de cadeias produtivas industriais, observou-se pouco avanço em comparação a outras unidades da federação, e esse desequilíbrio parece se refletir nos indicadores econômicos recentes.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva da autora, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

Referências

MORCEIRO, P. Desindustrialização na economia brasileira no período 2000-2011. Abordagens e indicadores. Editora Cultura Acadêmica, 2012.  

SQUEFF, G. Desindustrialização, luzes e sombras no debate brasileiro. Brasília: Ipea, 2012. (Texto para Discussão, n. 1747).

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