Economia nordestina: resiliência em meio ao aperto monetário e incertezas externas

Economia do NE mostra resiliência, mas desacelera em 2025. Após queda de 2% em julho na margem, NE ainda cresce no ano, mas abaixo do Brasil. Juro alto, incerteza externa e frágil investimento freiam avanço. Mercado de trabalho sustenta atividade.
A economia do Nordeste iniciou o segundo semestre de 2025 com sinais mistos, combinando resiliência com perda de fôlego em alguns segmentos. Em julho, o Índice de Atividade Econômica Regional do Banco Central registrou queda de 2% na margem, recuo mais intenso que o do Brasil (-0,5%). Ainda assim, as comparações com bases homogêneas seguem positivas: altas de 2,4% ante julho de 2024 e de 3,3% na comparação trimestral interanual, ambas acima da média nacional.
Em síntese, mesmo com o recuo pontual, o quadro corrobora projeções de crescimento em 2025 — menos acelerado e heterogêneo entre estados — e revela capacidade de adaptação num ambiente ainda marcado por juros elevados, restrições fiscais e novas incertezas externas, como o aumento recente de tarifas nos Estados Unidos, mercado ao qual as exportações nordestinas têm elevada exposição.
A indústria ilustra essa travessia com tropeços: em julho, recuou 1,1% na margem (contra -0,2% no país), cresceu 0,8% na comparação interanual, mas acumula -1,9% no ano; em 12 meses, mantém leve expansão (+1,1%), abaixo do agregado nacional (+1,9%). Nos serviços, predominou a desaceleração, com resultados negativos tanto na comparação mensal quanto na interanual; o Rio Grande do Norte teve queda de 2,5% na margem, enquanto Paraíba (+1,2%) e Sergipe (+0,6%) avançaram e Bahia e Pernambuco ficaram estáveis — um descompasso relevante porque, no Brasil, o setor completa seis meses consecutivos de alta.
No mercado de trabalho, a fotografia segue menos sombria e ajuda a sustentar a demanda. No segundo trimestre, o rendimento médio real do trabalho no Nordeste foi estimado em R$ 2.404, avanço de 0,4% frente ao trimestre anterior e de 3,2% na comparação interanual; no Brasil, as variações foram de 1,1% e 3,3%, com valor médio de R$ 3.477.
A razão renda Nordeste/Brasil permanece em torno de 70%, evidenciando a persistência de disparidades regionais. Pelo CAGED, agosto trouxe saldo de 55,3 mil vagas formais, com melhora em relação aos meses anteriores, mas aquém do observado em agosto de 2024; a desaceleração, disseminada entre serviços, indústria, construção e comércio, sugere início de um ciclo de arrefecimento, coerente com a queda do investimento diante do custo de capital ainda elevado.
Do lado dos preços, a inflação medida pelo IPCA recuou 0,15% em agosto no Nordeste, acompanhando a deflação nacional (-0,11%), sinal de que a política monetária restritiva se difunde com mais clareza pela cesta de consumo. Já o setor externo acendeu luz amarela: a balança comercial regional registrou déficit de US$ 833 milhões em agosto, com queda de 31,1% das exportações na comparação interanual e recuo de cerca de 10% das importações. A deterioração foi puxada sobretudo por bens particularmente sensíveis às novas tarifas norte-americanas; a contração das compras externas, por sua vez, reflete menor tração da atividade e da demanda por insumos.
No campo fiscal, persiste um gargalo estrutural: municípios nordestinos combinam forte dependência de transferências intergovernamentais com o menor esforço de investimento — tanto como proporção da despesa quanto da receita corrente — entre as regiões, o que limita a qualidade dos serviços públicos e o potencial de crescimento nos médio e longo prazos.
Por fim, uma evidência importante no contexto da reforma tributária: estimativas regionalizadas do cashback, calculadas a partir dos padrões de consumo da POF 2017-2018, revelam forte heterogeneidade — uma família média do Centro-Oeste receberia cerca de R$ 693 anuais, enquanto a do Nordeste ficaria próxima de R$ 436. O mecanismo cumpre o objetivo de reduzir a regressividade dos tributos sobre o consumo, mas, mantidas essas simetrias, pode produzir um efeito colateral indesejado de ampliação das desigualdades regionais de renda entre famílias mais pobres.
Em conjunto, o panorama do Nordeste em 2025 é o de crescimento moderado e desigual, sustentado por um mercado de trabalho ainda relativamente aquecido, porém pressionado por juros altos, incerteza externa e restrição fiscal doméstica; para transformar resiliência em uma trajetória mais robusta, será crucial destravar investimento público e privado, reforçar políticas regionais ativas e qualificar a inserção internacional para mitigar choques tarifários e diversificar mercados.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.










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