Educação e mercado de trabalho
A melhoria da educação contribui para uma inserção mais produtiva da população no mercado de trabalho, o que se manifesta de diversas formas, como aumento do salário e maior probabilidade de obtenção de um emprego formal. Este deveria ser um tema central nas eleições.
A melhoria da educação é fundamental para o desenvolvimento econômico, na medida em que aumenta o capital humano dos trabalhadores e facilita a criação e absorção de novas tecnologias. Além disso, contribui para uma inserção mais produtiva da população no mercado de trabalho, o que se manifesta de diversas formas, como aumento do salário e maior probabilidade de obtenção de um emprego formal.
Diante da relevância do tema, analisei recentemente (em coautoria com Fernando de Holanda Barbosa Filho e Paulo Peruchetti) a contribuição da educação para as mudanças ocorridas no mercado de trabalho brasileiro desde o início da década de 1990.[1]
Desde 1992 tem havido uma profunda mudança na composição educacional da população ocupada, com reduções significativas dos grupos menos escolarizados (0 a 4 anos e 5 a 8 anos de estudo) e aumento sistemático da participação dos grupos mais escolarizados (12 a 15 e 16 anos ou mais de estudo). Em consequência, a escolaridade média da mão de obra aumentou de 6,4 anos de estudo em 1992 para 11,2 anos de estudo em 2020. Atualmente, mais de 60% dos trabalhadores já concluíram pelo menos o ensino médio, dos quais pouco acima de 20% completaram o ensino superior.
Um exercício que realizamos indicou que a melhora na composição educacional da mão de obra foi fundamental para a redução de 9,4 pontos percentuais (p.p.) da taxa de informalidade observada entre 1992 e 2020. Na ausência desta melhora, a taxa de informalidade teria tido um expressivo aumento de 6,5 p.p., passando de 55,7% para 62,2%.
Isso ocorre porque a taxa de informalidade declina com o aumento da escolaridade, caindo de uma faixa próxima a 80% no caso da categoria com escolaridade entre 0 e 4 anos de estudo para algo em torno de 20% dentre os trabalhadores com 16 ou mais anos de estudo.
O rendimento do trabalho também aumenta com a escolaridade, especialmente quando o trabalhador tem ensino superior completo, que tem remuneração média quase três vezes maior que a de um trabalhador que apenas concluiu o ensino médio.
Por isso, a melhora na composição educacional da mão de obra foi fundamental para o aumento de renda observado entre 1992 e 2020. Em particular, enquanto o crescimento da renda ao longo de todo o período analisado foi de 1,9% a.a., o aumento do rendimento sem melhoria na composição educacional teria sido de apenas 0,3% a.a.
Um resultado mais surpreendente é que a mudança na composição educacional da mão de obra teve impacto praticamente nulo sobre a dinâmica da taxa de desemprego desde o início da década de 1990. Isso se deve ao fato de que, embora trabalhadores com ensino superior completo apresentem a menor taxa de desemprego, a segunda taxa mais baixa é a de trabalhadores com menos de 4 anos de estudo.
Analisando em mais detalhe as razões para essa baixa taxa de desemprego entre trabalhadores de escolaridade muito baixa, constatamos que isso decorre do fato de que o grupo de 0 e 4 anos de estudo tem a menor taxa de participação no mercado de trabalho. Ou seja, grande parte desses trabalhadores sequer procura emprego, o que faz com que não sejam contabilizados na taxa de desemprego.
Outra evidência da importância da educação no mercado de trabalho foi revelada pela pandemia de Covid-19, que afetou principalmente os trabalhadores de baixa escolaridade. Em 2020, houve redução de 18,2% das ocupações de trabalhadores sem instrução e com ensino fundamental incompleto. Outro grupo muito atingido foi o de trabalhadores com ensino fundamental completo e ensino médio incompleto, com queda de 13,9%. Embora menor, a redução das ocupações de trabalhadores com ensino médio completo e superior incompleto também foi expressiva (-5,7%). Por outro lado, houve aumento de 5,0% no número de ocupações de trabalhadores com ensino superior completo.
Embora trabalhadores com escolaridade mais baixa sejam em geral mais atingidos em recessões, esse padrão foi exacerbado na pandemia pelo fato de que as ocupações tipicamente exercidas por trabalhadores com menor escolaridade, como serviços de hospedagem e alimentação, têm menor potencial de serem exercidas de forma remota.
Em outro artigo com Fernando de Holanda Barbosa Filho e Paulo Peruchetti, calculamos o potencial de trabalho remoto para diferentes níveis de escolaridade.[2] Trabalhadores sem instrução ou com o fundamental incompleto podem ser deslocados para o trabalho em casa em somente 1,5% dos casos. Trabalhadores com fundamental completo e médio incompleto veem esta possibilidade subir para 4,6%, enquanto que trabalhadores com o médio completo e superior incompleto podem realizar trabalhos remotos em 14,8% dos casos. Já os trabalhadores com ensino superior completo possuem mais de 52,9% de potencial de migrar para o trabalho em casa.
Em resumo, a educação tem um papel fundamental para uma inserção produtiva da população no mercado de trabalho. Este deveria ser um tema central nas eleições deste ano.
[2] https://ibre.fgv.br/sites/ibre.fgv.br/files/arquivos/u65/trabalho_remoto...
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
Este artigo foi originalmente publicado pelo Broadcast da Agência Estado em 07/01/2022.
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