Metodologia

FBCF/PIB: Como estamos em relação ao mundo em taxa de investimento?

3 abr 2024

Brasil apresenta baixa relação FBCF/PIB em relação ao mundo, mas há importantes diferenças quando são levados em consideração os estágios de desenvolvimento das economias e tipos de investimento (Construção, Máquinas e Outros).

Introdução - Voltou a crescer entre os economistas brasileiros a preocupação com a taxa de investimento, como iremos chamar a relação Formação Bruta de Capital Fixo/PIB: os dados mais recentes das Contas Nacionais revelaram que a variável atingiu 16,5% no ano passado, um patamar abaixo da média dos últimos 25 anos e que sinaliza que a recuperação que se iniciou em 2018 pode ter sido interrompida já em 2021 (ver Gráfico 1). E essa preocupação não deriva apenas da avaliação da trajetória da taxa de investimento ao longo das últimas duas décadas, mas também de um procedimento muito comum, que é o de realizar comparações internacionais: elas mostram que, em relação aos outros países, o Brasil investe muito pouco, o que seria uma das explicações para a baixa taxa de crescimento de sua economia.

Neste texto, apresentamos os resultados preliminares derivados do esforço de tentar avançar um pouco nesse tipo de exercício: procuramos verificar se, para além da avaliação da taxa de investimento total, seria possível extrair algo mais dos dados disponibilizados por órgãos internacionais.  O que se pode dizer quando separamos os países considerando o estágio de desenvolvimento de suas economias? E em termos da composição do investimento por tipo de ativos, quais insights podemos obter?   

Adiantando algumas conclusões, de fato a taxa de investimento brasileira é baixa quando comparada aos outros países: em 2022, investimos 18 % do PIB, enquanto a média mundial foi de 26% (Gráfico 2).  É bem verdade que esses números são distorcidos pela China, que, como será visto adiante, deve ser excluída das estatísticas quando fazemos esse tipo de comparação; mas mesmo quando fazemos esse ajuste, o nosso gap negativo permaneceu em torno de 5% do PIB – e tudo indica que em 2023 a diferença aumentou.  E isso é muito: medido em Reais, 5% do PIB representa aproximadamente 500 bilhões, o que significa, por exemplo, que precisaríamos aproximadamente multiplicar por 2,5 o orçamento anual do PAC, ou investir em apenas um ano o equivalente a oitenta e cinco túneis Guarujá-Santos, a trinta e sete ferrovias São Paulo-Campinas ou a cinco expansões de Abreu e Lima...

Há uma infindável lista de motivos pelos quais chegamos a essa situação, cuja análise não será aprofundada neste momento.  Mas é importante destacar que, se a nossa posição relativa nunca foi muito boa, já tivemos momentos melhores. E que, ironicamente, o período em que nossa taxa de investimento mais se aproximou da média mundial, considerando os últimos vinte anos, foi também o que antecedeu uma das piores recessões pelas quais passamos. O que significa que questões como a forma como o investimento é financiado ou as escolhas em termos do tipo de gastos a serem realizados são mais importantes do que a mera participação dos investimentos totais sobre o PIB.

E a esse respeito o que os números mostraram é que o nosso gap negativo em relação aos outros países apresenta diferenças importantes entre os grupos de ativos que compõem a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Por motivos que ainda exigirão um bom esforço para serem elucidados, o desempenho relativo dos investimentos em máquinas e investimentos do Brasil é melhor do que o desempenho em obras de construção – e, como seria de se esperar, os baixos investimentos em ciência e tecnologia têm papel relevante no nosso fraco desempenho em relação aos mais desenvolvidos (Gráfico 3). 

Além desta Introdução, o texto conta com seis seções. Na primeira, abordamos rapidamente algumas questões teóricas e relativas a comparações internacionais, incluindo especificidades no que se refere à evolução das taxas de investimento, assim como explicamos o porquê de dois procedimentos adotados na análise (a exclusão da China das amostras e os ajustes necessários nas estatísticas do IBGE em função do REPETRO). Em seguida, passamos para a apresentação dos resultados partindo do maior nível de agregação (a comparação da taxa de investimento total do Brasil com a da média mundial), chegando na penúltima seção à comparação das taxas de investimentos do Brasil com a de países desenvolvidos no maior grau de abertura divulgado pelo IBGE. Na última seção, apresentamos sugestões de uma agenda futura para a análise da evolução da taxa de investimento no Brasil.

Leia o artigo na íntegra neste link.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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