Trabalho

Geração prateada: onde estão os 60+ no mercado de trabalho

1 jul 2025

Grupo de brasileiros com 60 anos ou mais cresceu 55% em 12 anos. Embora a taxa de participação e o emprego desse grupo também tenham se expandido, aproximadamente de 57% dos 60+ ocupados são informais.

O Brasil tem passado por importantes mudanças demográficas nas últimas décadas. Um dos principais indicadores dessa transformação é o aumento da expectativa de vida ao nascer, que subiu de 62,6 anos em 1980 para 74,9 anos em 2013. Esse crescimento se manteve na última década, com um acréscimo de 1,5 ano entre 2013 e 2023, atingindo a marca de 76,4 anos em 2023. 

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), o número de pessoas com 60 anos ou mais (60+) passou de 22,7 milhões para 35,2 milhões entre os quartos trimestres de 2012 e 2024. Isso representa um acréscimo de 12,5 milhões de brasileiros nesse grupo etário, um crescimento expressivo de 55,4% em apenas 12 anos.  

Esse avanço gerou mudanças na composição da População em Idade Ativa (PIA). A participação dos 60+ na PIA saltou de 15% para 20% no mesmo período analisado. Atualmente, um quinto da população brasileira em idade para trabalhar é composta pelo grupo 60+. As UFs com as maiores proporções de idosos na PIA em 2024.T4 foram Rio de Janeiro (24,1%), Rio Grande do Sul (23,7%) e São Paulo (21,7%). Já as menores proporções foram reportadas em Roraima (12%), Acre (12,4%) e Amazonas (13%).

O grupo dos 60+ tem sido denominado como Geração Prateada. O termo faz alusão aos cabelos grisalhos, símbolo do envelhecimento, e destaca essa faixa etária como um grupo com identidade própria, cada vez mais ativo, participativo e relevante do ponto de vista econômico, social e cultural. Ao contrário de estereótipos antigos que associavam o envelhecimento à inatividade ou à dependência, a Geração Prateada é marcada por um perfil mais saudável, engajado e consumidor. Muitos continuam trabalhando, empreendendo, estudando, viajando, cuidando da saúde e se conectando com novas tecnologias. Essa transformação é reflexo do aumento da expectativa de vida, dos avanços na medicina e da maior valorização da autonomia e do bem-estar ao longo da vida.

Além da maior longevidade, um fator cada vez mais relevante para a permanência dos 60+ no mercado de trabalho é o aumento do custo de vida, especialmente nas grandes metrópoles. Com a inflação persistente em

itens essenciais como alimentação, moradia, saúde e transporte, muitos idosos se veem pressionados financeiramente, o que dificulta a manutenção de um padrão de vida adequado apenas com a aposentadoria.

Esse cenário faz com que uma parcela crescente da população idosa opte — ou necessite — por continuar trabalhando, seja em tempo integral, parcial ou de forma autônoma. A extensão da vida ativa se torna, portanto, não apenas uma escolha para manter-se produtivo e socialmente integrado, mas também uma necessidade econômica. A permanência no trabalho também pode ser uma estratégia para complementar a renda familiar, ajudar filhos e netos, ou ainda manter planos de saúde privados.

A taxa de participação na força de trabalho é um indicador importante para medir o grau de inserção da população economicamente ativa no mercado. No caso dos idosos, esse indicador ajuda a entender o quanto a população com 60 anos ou mais continua ou retorna à atividade laboral, seja por necessidade econômica, desejo de permanecer ativa ou outros fatores sociais e individuais.

Na Figura 2 se observa que 25,2% dos 60+ estavam na força de trabalho em 2024.T4, o que representa mais de um quarto dessa população. Esse percentual era mais baixo em 2012, quando registrava 22,9%, indicando um crescimento na participação dos idosos ao longo dos anos. Alguns estados apresentaram taxas acima da média nacional, como Roraima (29,2%), Mato Grosso (29%) e Tocantins (28,1%), enquanto outros registraram níveis mais baixos de participação, como Alagoas (17,5%), Pernambuco (19,1%) e Rio Grande do Norte (19,3%). Esses dados revelam desigualdades regionais e refletem diferentes contextos econômicos, sociais e culturais que influenciam a inserção e a permanência dos idosos no mercado de trabalho.

 

Entre 2012 e 2024, aproximadamente 3,7 milhões de pessoas com 60 anos ou mais ingressaram na força de trabalho. Desse total, cerca de 3,5 milhões estavam empregadas, o que representa 95,6% das que entraram no mercado de trabalho nesse intervalo de 12 anos. Apenas 4,4% ainda buscavam uma ocupação, o que indica que, na maioria dos casos, os idosos tendem a acessar o mercado já com alguma oportunidade definida ou com maior direcionamento para a reinserção laboral. 

Em relação ao emprego, o número de idosos ocupados cresceu 68,9%, passando de 5,1 milhões em 2012 para 8,6 milhões em 2024 — um acréscimo de 3,5 milhões de pessoas. Desse total em 2024, 3,2 milhões (37,6%) eram mulheres e 5,4 milhões (62,4%) eram homens. A participação feminina, embora ainda inferior à masculina, tem aumentado ao longo dos anos: em 2012, as mulheres representavam apenas 33,8% dos idosos ocupados. 

Outro aspecto importante é o nível de escolaridade da população idosa ocupada. Em 2024.T4, cerca de 54,3% (4,7 milhões) dos 60+ que estavam trabalhando possuíam até o fundamental completo. Em 2012, esse percentual era ainda maior: 71,6% (3,6 milhões). Isso mostra uma mudança gradual no perfil educacional dos idosos ativos, com uma redução de trabalhadores com baixa escolaridade, o que pode refletir tanto a melhoria nas condições educacionais ao longo das gerações quanto a maior valorização da qualificação pelo mercado. 

Os dados apresentados indicam que o grupo 60+ tem conseguido, em número crescente, permanecer ou ingressar no mercado de trabalho brasileiro. No entanto, essa inserção ainda ocorre, em grande parte, sob condições marcadas pela vulnerabilidade. Os postos de trabalho ocupados por esse grupo etário são, em sua maioria, de baixa qualidade e com rendimentos menores. 

Um dos principais indicadores dessa precarização é a alta taxa de informalidade. De acordo com a Figura 4, em 2024.T4, 53,8% dos trabalhadores com 60 anos ou mais estavam em ocupações informais. Esse percentual é substancialmente mais alto do que a média nacional, que foi de 38,6%, e supera a taxa observada em grupos etários imediatamente inferiores, como o de 50 a 59 anos, cuja informalidade foi de 40,6%. A escolaridade também exerce forte influência sobre esse cenário: entre os idosos com até o ensino fundamental completo, a taxa de informalidade atinge 68,5%. Por outro lado, entre os mais escolarizados, esse índice cai para 27,5%, evidenciando que a educação continua sendo um fator determinante na qualidade da inserção laboral, mesmo entre os mais velhos.  

 

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva da autora, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

 

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