Cenários

Hiato do PIB positivo há dez trimestres

17 set 2025

Crescimento do produto potencial caiu para apenas 0,4% ao ano, enquanto o efetivo cresceu 0,5%. No segundo trimestre de 2023, produto efetivo começou a crescer de forma mais robusta, superior ao crescimento do produto potencial.

O hiato do produto[1] no segundo trimestre de 2025, estimado em 3,3%, representa a décima leitura positiva consecutiva desde o primeiro trimestre de 2023, após ter ficado num período de onze anos (desde 2014Q3) em terreno negativo. O Gráfico 1 ilustra essa reversão na trajetória do hiato, evidenciando a ausência de capacidade ociosa na economia nos últimos dez trimestres.

Os dados utilizados neste artigo podem ser acessados neste link.

O CODACE-FGV datou o início do ciclo recessivo no primeiro trimestre de 2014, e esse ciclo perdurou até 2016. Antes daquele momento, o produto potencial e o efetivo cresciam simultaneamente, em média de 4% ao ano. De 2016 até 2023, ambos apresentaram crescimento desigual, mas com taxas relativamente próximas. O crescimento do produto potencial caiu para apenas 0,4% ao ano, enquanto o efetivo cresceu 0,5%, ambos praticamente estagnados. No segundo trimestre de 2023, o produto efetivo começou a crescer de forma mais robusta, superior ao crescimento do produto potencial.

Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) - elaboração própria.

O Gráfico 2 mostra que a produtividade do capital apresentou crescimento durante a segunda metade dos anos 90, até o final de 1998, seguido por declínio até o início de 2005, quando volta a crescer vigorosamente até o final de 2014. A partir daí, cai fortemente até a pandemia, quando volta a crescer até 2021, ano em que cai, ficando estagnada daí em diante. A produtividade do trabalho é menor do que a do capital durante todo o período analisado até 2020, quando ultrapassa a produtividade do capital e fica por cima dela; mas também fica estagnada a partir de 2023.

Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) - elaboração própria.

O Gráfico 3 mostra que a PTF apresentou vigorosa tendência de crescimento a partir da segunda metade dos anos 90 até 2011, declinou até o final da recessão em 2016, voltando a crescer até 2021 e ficando estagnada a partir daí até o fim do período analisado. Desde então, embora a PTF permaneça em níveis historicamente altos, está estagnada, com seu nível atual semelhante ao registrado no segundo trimestre de 2010, que havia sido seu pico.

Fonte: informações primárias do IBGE - Elaboração própria

O Gráfico 4 ilustra a evolução da utilização do capital e do trabalho efetivos em relação aos seus potenciais ao longo dos últimos 30 anos. Observa-se uma frequência de sobreutilização do capital e subutilização do trabalho. Algumas particularidades merecem ser destacadas: o fator capital foi amplamente sobreutilizado no período, exceto no período da recessão até o fim da pandemia. O mesmo ocorreu com o fator trabalho que também se torna sobreutilizado.

Fonte: informações primárias do IBGE (PIB, FBKF, trabalho), da FGV (NUCI) e elaboração própria.

Desde o final da pandemia, ambos os fatores têm mostrado uma tendência de aumento em seus níveis de utilização, e, desde o segundo trimestre de 2024, estão sobreutilizados, algo que não ocorria desde antes de 2014.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
 

 

 

[1]  A partir de 2023, fizemos um aprimoramento em nosso método de cálculo do produto potencial, que envolve o tratamento da variável Produtividade Total dos Fatores (PTF). Essa variável não é mais considerada um resíduo da função de produção, após a estimativa do capital e do trabalho utilizados. Doravante, a reconhecemos como a tendência daquela série obtida pelo resíduo, após aplicação de método de filtragem (HP). Isso resulta em uma série com menos ruído e volatilidade.

Comentários

Daniel
Uma pergunta sobre o gráfico 2. O título fala de produtividade do capital e do trabalho, mas a legenda fala Y/L (produtividade media do trabalho) e K/L, que é o estoque de capital por trabalhador, não a produtividade média do capital (que seria Y/K, o inverso da relação capital produto). Suspeito de erro de digitação ou algo assim. Poderia esclarecer?
fernando.dantas
Muito obrigado por observar o erro, Daniel. Já foi corrigido. Saudações cordiais

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