Produtividade

A inteligência artificial vai acelerar o crescimento econômico?

26 jun 2023

Existe muita incerteza em relação ao impacto da inteligência artificial sobre o crescimento econômico. Felizmente as novas tecnologias têm contribuído para o surgimento de muitos estudos para orientar as políticas públicas. 

 

Como discuti nas últimas colunas, vários estudos recentes têm procurado estimar o impacto da inteligência artificial (IA) generativa sobre o crescimento e o mercado de trabalho.

Um artigo de Ethan Ilzetski e Suryaansh Jain no VoxEU resume os principais resultados de uma pesquisa com um painel de economistas europeus (CfM-CEPR survey de maio de 2023) a respeito dos efeitos da IA sobre o crescimento e o desemprego na próxima década.

Segundo 64% dos panelistas, os desenvolvimentos recentes da IA irão acelerar o crescimento global anual de 4% (média das últimas décadas) para uma faixa entre 4 e 6%. Os 36% restantes estimam que não haverá nenhum impacto no crescimento global.

No entanto, a maioria dos economistas manifestou um elevado grau de incerteza em relação às suas previsões. Dentre as razões elencadas, algumas estão relacionadas à natureza das tecnologias e suas aplicações, especialmente diante do fato de que os avanços mais expressivos na IA generativa são recentes. Outras dizem respeito às políticas públicas que serão adotadas para combater o poder de mercado das grandes empresas e possíveis consequências negativas no mercado de trabalho.

A segunda pergunta abordou as implicações das novas tecnologias de IA sobre o desemprego em países de alta renda. Segundo 63% dos panelistas, não haverá nenhum efeito sobre o desemprego em economias avançadas. Para 27% dos respondentes, a taxa de desemprego vai aumentar, enquanto os demais não responderam ou acreditam que haverá uma redução do desemprego.

Entretanto, mais de 50% do painel expressou um elevado grau de incerteza em relação à resposta. As dúvidas estão relacionadas ao fato de que, ao mesmo tempo em que algumas ocupações se tornarão obsoletas, outras serão criadas pelas novas tecnologias. O que parece claro é que os grupos mais vulneráveis podem ser afetados de maneira muito adversa e terão dificuldade de se adaptar.

Em texto divulgado este mês em seu blog, Jesús Fernández-Villaverde, professor da University of Pennsylvania, analisa as razões para a incerteza em relação ao impacto da IA sobre o crescimento econômico, com base nas duas principais visões sobre o tema.

De um lado, existe a visão pessimista de que as novas tecnologias são menos promissoras que as do passado. Essa hipótese está associada à pesquisa de alguns economistas, especialmente Robert Gordon, que em seu livro clássico (“The Rise and Fall of American Growth”), argumentou que as inovações associadas à Segunda Revolução Industrial, como eletricidade e o motor de combustão interna, foram muito mais transformadoras que as decorrentes da Terceira Revolução Industrial, como computadores e internet.

De outro lado, existe a visão otimista de que o progresso tecnológico deverá acelerar nas próximas décadas. Essa hipótese baseia-se na experiência histórica. De fato, a taxa de crescimento anual média da renda per capita das economias situadas na fronteira tecnológica aumentou de 0,44% entre 1675 e 1770 para 0,64% de 1770 a 1880 e 2% de 1880 até hoje.

A ideia central é que o progresso tecnológico baseia-se na recombinação das ideias existentes para criar novas ideias. Em função disso, o processo é cumulativo. Quanto mais ideias existem, maior o número de possíveis recombinações e novas ideias.

Neste sentido, a aceleração do progresso tecnológico estaria associada a três fatores. Primeiro, o aumento do estoque de ideias ao longo do tempo ampliou a possibilidade de que surgisse um número crescente de recombinações. Segundo, o crescimento populacional permitiu que mais pessoas pudessem gerar e refinar novas ideias. Terceiro, foram criadas instituições para fomentar as inovações e remunerar os inventores, o que em si é um exemplo da evolução do conhecimento ao longo da história.

Segundo os defensores dessa visão, o baixo crescimento da produtividade nos últimos anos não decorreu de um esgotamento de ideias mas, ao contrário, da dificuldade de combinar de forma eficiente o grande número de ideias que tem sido gerado. O otimismo desses pesquisadores em relação ao impacto da IA sobre o crescimento econômico vem do fato de que as novas tecnologias têm grande capacidade de fazer essas recombinações de forma eficiente em grande escala.

Segundo Fernández-Villaverde, as duas visões têm alguma razão, mas a dificuldade consiste em quantificar as probabilidades de que se verifiquem. Sua avaliação pende um pouco para o lado pessimista (40%), com 30% de probabilidade de que a visão otimista se materialize e 30% de que a IA não tenha efeito sobre o crescimento. No entanto, observa que 12 meses atrás sua probabilidade para o cenário de aceleração do crescimento era de apenas 10%, o que ilustra a velocidade com que essas previsões podem mudar.

Em resumo, existe muita incerteza em relação ao impacto da IA sobre o crescimento econômico e o mercado de trabalho. Felizmente as novas tecnologias têm contribuído para o surgimento de muitos estudos, que serão fundamentais para orientar as políticas públicas.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Este artigo foi originalmente publicado pelo Broadcast da Agência Estado em 23/06/2023.

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