Macroeconomia

Luz amarela na cabine do Banco Central

9 nov 2017

Uma luz amarela acendeu na cabine de comando da autoridade monetária. Como acontece no dia a dia de qualquer banco central, seus dirigentes estão sempre de olho nos sinais emitidos pelos participantes de mercado. E é conveniente que operem dessa maneira, pois tais sinais revelam o pensamento dominante do mercado acerca da política monetária em curso.

Por diferentes meios, banqueiros centrais costumam comunicar ao público os movimentos de política que pretendem (de maneira condicionada) executar proximamente. A essa comunicação os participantes de mercado normalmente respondem ajustando os preços dos ativos financeiros, ações essas que geralmente dizem muito a respeito da confiança com que encaram os cenários traçados e as intenções de política manifestadas pela autoridade.

No caso atual do Brasil, o Banco Central tem deixado claro que, na ausência de alteração do cenário básico do Copom, uma “redução moderada” da taxa Selic seria “adequada” na reunião do início de dezembro. No tocante ao que poderá acontecer no encontro seguinte, os dirigentes da instituição optaram por “manter liberdade de ação e adiar qualquer sinalização”, ou seja, deixaram em aberto.

Como se sabe, a política monetária em curso tornou-se expansionista já há algum tempo, privilegiando a recuperação da atividade econômica. Até bem recentemente, a crença dominante (no governo e no setor privado) era de que, no máximo, tal política sofreria apenas pequenos ajustes, permanecendo praticamente a mesma por um bom período, abrangendo talvez todo ano de 2018.

Será isto realmente viável? Os preços de mercado dirão. Aqui dentro, não há progresso no tocante à aprovação das reformas de que o país tanto precisa. E as perspectivas de isso acontecer estão longe de ser claras. Nos Estados Unidos, principal centro financeiro do planeta, discussões em torno de uma política fiscal expansionista, numa economia já bem próxima do pleno emprego, levantam a possibilidade de os juros e o dólar norte-americano não ficarem tão bem-comportados quanto se imaginava, com reflexos importantes sobre os nossos mercados.

Independentemente de quais sejam as razões dominantes, o fato concreto é que os participantes de mercado não parecem gostar dos indícios que têm em mãos. Examinemos, por exemplo, o que tem acontecido no mercado de juros reais no Brasil. De 06 de setembro a 25 de outubro, o juro real do papel do Tesouro com vencimento em 2050 ficou relativamente estável, oscilando em torno de 5,12% ao ano. De lá para cá, essa taxa se elevou, atingindo 5,36% nessa quarta-feira, 8/11. A taxa da NTN-B de 2022 também permaneceu estável no período mencionado, oscilando ao redor de 4,45% ao ano. E subiu expressivamente entre o final de outubro e a quarta-feira, atingindo quase 4,70%.

No mercado de renda fixa, o que impressiona é a abertura dos spreads entre os juros de prazos um pouco mais longos e os juros de prazos mais curtos. A título de ilustração, consideremos o spread entre a taxa do swap de 900 dias em comparação com a taxa do swap de 90 dias. Entre meados do ano (de junho até o começo de agosto) e essa quarta (8/11), esse spread passou de praticamente zero para 170 pontos base.

As alterações de preços aqui mencionadas não devem ser desprezadas pelo Banco Central. E provavelmente não serão. Não custa lembrar: o grande balizador das ações de qualquer banco central, o chamado juro neutro, não constitui variável observável. Contudo, pelo simples acompanhamento do que acontece com as taxas de mercado, as autoridades podem inferir o sentido e talvez a velocidade com que o juro neutro se move. Cabe apenas ter o cuidado de procurar separar oscilações de caráter transitório de alterações mais permanentes.    

Por fim, dois comentários podem ser feitos a respeito das próximas decisões do Copom, na hipótese de o quadro aqui descrito persistir. Deixar de promover os 50 pontos de queda já mais ou menos previstos seria insensato, pois tal decisão poderia agravar (em vez de aliviar) as preocupações do mercado. Portanto, e na medida em que o quadro não sofra importante deterioração adicional até o dia do próximo Copom, o mais provável é que a taxa Selic cairá 50 pontos. Quanto ao segundo comentário, parece-nos razoável admitir que diminuiu muito a probabilidade (talvez tenha até desaparecido) de a taxa de juro vir abaixo de 7,0%, sendo razoável imaginar que o próprio BC poderá dar um sinal nessa direção por ocasião do próximo Copom. 

Comentários

Tony Volpon
IBRE

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