Manutenção por um período “bastante prolongado”
Não será fácil o Banco Central convencer o mercado de que não vai reduzir os juros básicos tão cedo, razão pela qual nossa suspeita é de que, cedo ou tarde, de algum modo, o BC terá de reforçar a mensagem desse último Copom.
Na reunião do Copom de maio, o Banco Central sinalizou a intenção de manter o grau de aperto da política monetária por um bom tempo. Numa entrevista publicada na edição de 09 de junho do jornal Valor Econômico, o diretor Renato Gomes ressaltou que “o que importa mesmo é a intensidade do aperto monetário”. Acrescentou que tal “intensidade é uma combinação da taxa terminal, de até onde o ciclo vai, e da duração da taxa numa região restritiva”. Isto seria mais importante do que a taxa terminal em si.
Por certo, não escapou à atenção dos participantes de mercado o entendimento de que a expectativa de queda da taxa Selic alguns meses mais adiante tem o potencial de dificultar o sucesso da estratégia do BC, uma vez que a referida expectativa reduz os juros de mercado e torna menos restritivas as condições financeiras. Como se sabe, tanto a curva de juros de mercado quanto a trajetória da Selic prevista na pesquisa Focus embutem redução expressiva da Selic, a partir de algum ponto de 2026.
Sob a ótica do Banco Central, e pensando-se na convergência da projeção e da própria inflação para a meta, o ideal seria fazer desaparecer por completo a referida expectativa de queda de juros. Em poucas palavras, e mantidas as circunstâncias atualmente presentes, contribuiria muito para a eficácia da estratégia de higher for longer uma situação em que a Selic esperada ficasse constante até o final de 2026. Exercício preliminar sugere que, com isso, a projeção da inflação ficaria bem mais próxima da meta, no horizonte relevante.
O problema todo se resume a como conseguir isso. Numa apresentação pública ocorrida após o Copom de maio, o presidente do BC procurou dar um sinal na direção acima apontada, ao afirmar que o Comitê não estava “nem perto” de discutir queda de juros.
Diante da constatação de que sinalizações verbais nem sempre funcionam a contento, muitos começaram a pensar que o BC poderia dar um guidance formal, de alguma forma amarrando o seu compromisso ao desempenho de uma variável econômica. Seria uma reprodução do que já fizeram vários bancos centrais, em ocasiões semelhantes. Contudo, a evidência empírica internacional é clara: no passado, autoridades monetárias recorreram a guidances formais apenas em situações nas quais não havia dúvida sobre o caminho ser seguido pelos juros básicos. Em geral, foram diretrizes que tratavam de sinalizar por quanto tempo os juros permaneceriam em zero, ou perto disso, ou seja, casos em que os juros só poderiam subir, e não cair.
A situação do Brasil de hoje não é essa. Como o próprio comunicado do Copom deste mês indica, os juros tanto podem cair, quanto subir. Seria complicado, portanto, definir um guidance explícito, formal, condicional a determinado fenômeno econômico.
A mensagem básica desse último comunicado foi a solução encontrada pelo BC para tentar convencer os participantes de mercado de que a autoridade monetária não pretende afrouxar a política monetária tão cedo. Daí a ideia de indicar que o grau de aperto monetário será mantido por um período “bastante prolongado”. Em reforço dessa ideia, o BC acrescentou que “não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste [para cima] caso julgue apropriado”. Temos aí um guidance de natureza apenas qualitativa.
De qualquer modo, a luta do BC para ter êxito esbarrará sempre numa espécie de força natural, relacionada com o fato de que, em matéria de títulos públicos, o governo está sempre vendido e o mercado comprado. O desejo de quem está comprado é ver os preços subirem, quaisquer que sejam os ativos envolvidos. No caso atual, preços para cima significam juros para baixo. Para autoridades monetárias, é difícil vencer essa força.
No caso particular do Brasil de hoje, temos ainda o fato de que a política monetária se encontra em território significativamente contracionista, o que contribui para a crença de que a inflação acabará cedendo mais adiante, o mesmo ocorrendo com os juros de mercado. Nossa suspeita é no sentido de que, cedo ou tarde, para cumprir o seu objetivo, de algum modo, o BC terá de reforçar a mensagem desse último Copom.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva das autoras, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
Esta é a Seção de Política Monetária do Boletim Macro FGV IBRE de junho de 2025.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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