Macroeconomia

O impacto do tempo perdido no trânsito no Bem-Estar do brasileiro

20 dez 2017

Cerca de 104 milhões de brasileiros saem de suas casas diariamente com destino ao local de trabalho.[1] O trajeto, na maioria das vezes desconfortável, é também excessivamente longo, fazendo com que sejam perdidos muito tempo em trânsito.

Diversos estudos têm chamado a atenção para o custo econômico associado ao desperdício de tempo nos deslocamentos diários. Vianna e Young (2015) calculam entre 2,2% e 4,4% o impacto do tempo de deslocamento no PIB da região metropolitana do Rio de Janeiro no ano de 2010. Para a região metropolitana de São Paulo, este valor situou-se entre 1,6% e 3,2% do PIB. Neste sentido, expandir e melhorar o sistema de transporte teria como principal consequência ampliar a produtividade do trabalho e reduzir os custos das firmas, gerando maior renda e elevando o padrão material dos habitantes de determinada região.

Além da dimensão econômica, deslocamentos extensos são responsáveis por restringir a disponibilidade de tempo para lazer, exercícios físicos, atividades criativas e convívio familiar. Todas estas atividades exercem, potencialmente, algum efeito sobre o bem-estar subjetivo das pessoas. É neste contexto que a mobilidade urbana foi tratada na Sondagem de Bem-Estar (SBE), pesquisa realizada pelo IBRE/FGV com cerca de 2.500 indivíduos das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo durante o segundo semestre de 2016.

O resultado mostra que os cariocas gastam, em média, uma hora e 48 minutos em deslocamentos diários. Para os paulistanos, o sofrimento é apenas um pouco menor: uma hora e 36 minutos em média. O gráfico 1 mostra que o tempo médio não é o ideal para comparações visto que a dispersão dentro dos grupos é muito elevada – sobretudo nas regiões da Barra/Jacarepaguá e Zona Oeste.

 A avaliação dos indivíduos sobre o tempo gasto para ir ao trabalho e/ou para estudar, medido em escala de 0 a 10, também difere entre as duas cidades. No Rio de Janeiro, a nota média atribuída ao tempo gasto é de 5,1 pontos, enquanto em São Paulo é de 5,7 pontos.

Uma pergunta que surge naturalmente no contexto da SBE é se o tempo gasto em deslocamentos diários afeta, efetivamente, o bem-estar das pessoas. Para responder a esta pergunta, foi estimado o seguinte modelo econométrico:

em que Satisfação é a satisfação com a vida reportada pelos entrevistados, em uma escala entre 0 e 10; tempo é o tempo de deslocamento diário gasto para trabalhar e/ou estudar, medido em minutos; e Z é um vetor de variáveis de controle, como renda e região administrativa do indivíduo.

A tabela abaixo reporta os resultados simplificados da regressão por Mínimos Quadrados Ordinários (OLS) aplicados aos dados da SBE.  Os resultados indicam que, em média, o tempo de deslocamento exerce efeito negativo e estatísticamente significativo sobre a satisfação com a vida.

De modo a complementar o exerício anterior, foi estimada uma regressão quantílica para a equação (1). O objetivo era investigar se o impacto do tempo de deslocamento sobre a satisfação era diferente para indivíduos que gastam mais tempo em trânsito. Os resultados mostram que aqueles que gastam 140 minutos ou mais em trânsito sofrem um impacto negativo 6 vezes maior sobre o seu bem-estar em relação àqueles que gastam até 90 minutos.

Os resultados obtidos através dos exercícios econométricos sugerem que, além da dimensão econômica associada à produtividade, o tempo de deslocamento diário apresenta um custo em termos do bem-estar subjetivo das pessoas. Trata-se de estímulo adicional às obras e melhorias na infraestrutura de mobilidade urbana, capazes, neste sentido, de aumentar a satisfação dos indivíduos através de outros canais, como, por exemplo, a realização de atividades físicas, atividades criativas, lazer e convívio social.

Referências:

VIANNA, Guilherme; YOUNG, Carlos. “Em busca do tempo perdido: uma estimativa do produto perdido em trânsito no Brasil.” Revista de Economia Contemporânea, 2015, 19(3), p. 403-416


[1] População ocupada de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE) do terceiro trimestre de 2017.

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