Macroeconomia

O que explica a queda recente da produtividade?

18 dez 2019

No início de dezembro, o FGV IBRE lançou o site Observatório da Produtividade, que reúne uma ampla base de dados sobre produtividade para a economia brasileira, além de estudos e artigos sobre o tema.

Dentre os indicadores divulgados, incluem-se informações sobre a produtividade setorial desde 1995, dados de produtividade para as cinco regiões do país, e a série trimestral de produtividade por hora trabalhada, calculada desde 2012 com base em dados das Contas Nacionais Trimestrais e da PNAD Contínua.

No terceiro trimestre de 2019, a produtividade agregada caiu 0,7% em relação ao mesmo trimestre de 2018. Esta é a terceira queda trimestral em 2019, após crescimento negativo de 1,0% e 1,6% no primeiro e segundo trimestre, respectivamente.

Dentre os três grandes setores, somente a agropecuária teve crescimento da produtividade no terceiro trimestre. Enquanto a indústria registrou a terceira retração consecutiva, a redução de 1,3% da produtividade do setor de serviços representou o vigésimo segundo trimestre consecutivo de queda. Dentro do setor de serviços, o desempenho tem sido particularmente negativo nas atividades de transporte e outros serviços, que correspondem a metade das horas trabalhadas no setor.

Analisando os indicadores sob uma perspectiva anual, o que chama atenção é o fato de que, depois de forte queda durante a recessão, a produtividade voltou a crescer em 2017, mas essa recuperação perdeu fôlego em 2018, culminando com a queda em 2019.

Esse comportamento não corresponde ao que seria de se esperar em um processo de retomada sustentável da economia, baseada no aumento do investimento e ganhos de eficiência. Ao contrário, ele indica que as vagas que estão sendo geradas contribuem pouco para o crescimento do PIB, o que revela baixo dinamismo das empresas mais produtivas.

Segundo estimativas do IBRE, o aumento da informalidade contribuiu com mais da metade da queda de produtividade desde o final de 2014. Esse efeito foi particularmente forte em setores intensivos em mão de obra e caracterizados por informalidade elevada, como construção e transportes.

As empresas formais no Brasil são, em média, quatro vezes mais produtivas que as informais, devido à utilização mais intensiva de máquinas e equipamentos, maior nível de escolaridade de empreendedores e trabalhadores, e uso de tecnologias mais avançadas. Em consequência, um aumento da parcela de mão de obra empregada no setor informal, como tem acontecido nos últimos anos, representa uma realocação do trabalho para firmas menos produtivas, resultando em queda da produtividade.

É possível que esse aumento da informalidade e a queda associada da produtividade sejam fenômenos transitórios associados à recuperação do mercado de trabalho. Segundo essa hipótese, após uma profunda recessão, a geração de empregos ocorreria inicialmente por meio de vínculos informais, que seriam seguidos por contratações formais.

Embora essa possibilidade não possa ser descartada, o padrão atual de recuperação do mercado de trabalho parece ser diferente do verificado em outros períodos.

Segundo estudo do IPEA divulgado semana passada (Carta de Conjuntura n. 45), aumentos da taxa de desemprego em geral ocorrem de forma simultânea ao crescimento da informalidade, particularmente na modalidade do trabalho por conta própria. Nesse sentido, o aumento do desemprego e da informalidade entre 2014 e 2016 correspondem ao padrão esperado.

O que surpreende é o fato de que a informalidade continuou a aumentar em 2018 e 2019, quando a taxa de desemprego já tinha começado a cair. No terceiro trimestre de 2019, por exemplo, as ocupações por conta própria tiveram crescimento de 3,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, bem acima do crescimento da população ocupada (pouco acima de 1,5%).

Não está claro por que isso está acontecendo. Segundo o trabalho do IPEA, pode tratar-se de um fenômeno estrutural, associado à terceirização e à “economia dos aplicativos”. Um indicador compatível com essa hipótese é o grande crescimento do trabalho por conta própria no subsetor de transporte terrestre e nas atividades de entrega.

Minha avaliação é que outro fator importante é o elevado grau de incerteza desde 2015, captado pelo Indicador de Incerteza da Economia Brasil (IIE-Br) do IBRE. Conforme já discutido na última coluna, quando não existe clareza sobre a direção da política econômica, os empresários postergam investimentos e contratações formais, como tem acontecido nos últimos anos.

A própria expansão da “economia dos aplicativos” pode refletir fatores conjunturais, associados à baixa geração de oportunidades no setor formal. De fato, me parece que esse fenômeno representa mais uma estratégia de sobrevivência que uma elevação do grau de empreendedorismo.

Em resumo, o aumento da informalidade e a queda associada da produtividade no período recente podem refletir fatores conjunturais e estruturais. Independentemente da razão, esse desempenho negativo ressalta a necessidade de continuidade da agenda de reformas, sem a qual a atual aceleração do crescimento do PIB será de curta duração.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Este artigo foi originalmente publicado pelo Broadcast da Agência Estado em 16/12/2019

 

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Humberto Rodriguez

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