Economia Regional

Pobreza e extrema pobreza têm queda acelerada, com destaque para NO e NE

15 set 2025

Entre 2022 e 2024, Brasil registrou avanços expressivos na redução da pobreza e da extrema pobreza monetárias, impulsionados pela expansão dos programas de transferência de renda e pela recuperação do mercado de trabalho.

Entre 2022 e 2024, período considerado como pós-pandemia, o Brasil registrou avanços expressivos na redução da pobreza e da extrema pobreza monetárias, impulsionados pela expansão dos programas de transferência de renda e pela recuperação do mercado de trabalho. Apesar dos avanços notáveis, a análise destacando diferenças regionais revela que os estados do Norte e do Nordeste continuam a apresentar os maiores percentuais de população em situação de pobreza e extrema pobreza. As maiores reduções ocorreram justamente nessas regiões, indicando efeitos positivos das mudanças recentes nas políticas sociais. Ainda assim, a persistência de patamares elevados de privação de renda nessas áreas evidencia desigualdades estruturais que exigem esforços contínuos de política pública. Em 2024, quase todos os estados do Norte e do Nordeste apresentavam taxas de pobreza superiores a 30%, enquanto as menores taxas se concentravam no Sul e no Sudeste, reforçando o desafio da equidade territorial no combate à pobreza.

No que tange à política de combate à pobreza no Brasil, os últimos anos foram marcados por uma forte redução nos indicadores de pobreza monetária. Durante a pandemia de covid-19, a transferência de renda, principal instrumento dessa política, passou por mudanças relevantes, tanto em sua arquitetura quanto em seu escopo. A substituição do Bolsa Família pelo Auxílio Brasil, entre 2021 e 2022, resultou não apenas em um aumento expressivo nos valores pagos às famílias, mas também uma flexibilização dos critérios de elegibilidade e das condicionalidades. Com a definição de uma cesta de benefícios básicos — como o Auxílio Criança Cidadã e o Benefício Primeira Infância — e a elevação do valor mínimo das transferências para montantes próximos a R$ 600 mensais, o alcance do programa foi ampliado, passando a contemplar segmentos da população historicamente à margem das redes formais de proteção social. Essa expansão foi decisiva para reverter o avanço da pobreza e da extrema pobreza em 2022.

A partir de 2023, o Programa Bolsa Família foi retomado em um novo desenho institucional, que preservou parte dos benefícios complementares criados no período anterior, reforçou a centralidade do Cadastro Único como porta de entrada das políticas sociais e reintroduziu condicionalidades nas áreas de saúde e educação — buscando rearticular a dimensão assistencial com estratégias de inclusão social de longo prazo. Além da ampliação da cobertura e do valor das transferências, também houve avanços na focalização, com priorização de famílias em situação de pobreza extrema e maior atenção a núcleos familiares com crianças, adolescentes e gestantes.

No período denominado como pós-pandemia (2022–2024), o Brasil vivenciou uma fase de recuperação econômica, caracterizado pela retomada do nível de emprego e o crescimento dos rendimentos. Esses fatores contribuíram para o recuo dos indicadores de pobreza. A combinação entre o ganho de robustez da política de transferências e melhora das condições econômicas resultou em um declínio significativo da taxa de pobreza em todas as regiões do país.

Em nível nacional, a proporção de pessoas em situação de pobreza declinou de 36,9% em 2021, pior patamar da série, para 23,4% em 2024. O Nordeste, tradicionalmente a região com os piores indicadores socioeconômicos, apresentou a maior redução relativa no período, com a taxa de pobreza caindo de 57,5% para 39,6%. Ainda assim, os níveis de pobreza no Norte e no Nordeste permanecem substancialmente superiores à média nacional, indicando que, apesar dos avanços recentes, o combate à pobreza no Brasil continua sendo um desafio de caráter estrutural, marcados pelas desigualdades regionais. 

Nas seções a seguir, analisamos a evolução recente dos indicadores de pobreza e extrema pobreza no Brasil, regiões e unidades da federação.
        

POBREZA E EXTREMA POBREZA NO BRASIL E NAS REGIÕES

As Figuras 1 e 2 apresentam, respectivamente, a evolução das taxas de pobreza e extrema pobreza no Brasil e suas regiões entre 2012 e 2024. A trajetória recente da pobreza no Brasil evidencia não apenas oscilações conjunturais, mas também desigualdades estruturais persistentes entre as regiões. Como mostra a Figura 1, a taxa de pobreza nacional recuou de forma significativa entre 2021 e 2024, caindo de 36,9% para 23,4% da população — um movimento de retomada pós-pandemia impulsionado, em grande medida, pela ampliação dos programas de transferência de renda. No entanto, o padrão regional revela contrastes marcantes. Em 2024, enquanto o Sul atingiu uma taxa de 11,5% e o Sudeste registrou 15,6%, o Nordeste ainda apresentava um índice de 39,6%, quase quatro vezes maior que o da região mais rica do país. O Norte, por sua vez, manteve uma taxa de 37,3%, também muito acima da média nacional.

Figura 1. Taxa de pobreza (%) – Brasil e regiões (2012-2024)
Linha de pobreza de R$696/mês per capita (Banco Mundial).

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE/ PNAD Contínua.

Em termos absolutos, o número de pessoas em situação de pobreza no Brasil diminuiu em mais de 17 milhões entre 2022 e 2024, passando de aproximadamente 68 milhões para 50,7 milhões, o que representa uma queda de 25,4% em apenas dois anos. Essa redução foi generalizada entre as grandes regiões, com destaque para o Nordeste e o Sudeste, que apresentaram as maiores quedas absolutas: respectivamente, 6,5 milhões e 6,4 milhões de pessoas a menos em situação de pobreza. Apesar de pontos de partida distintos entre as regiões, Norte e Sul também registraram reduções significativas, próximas a 1,7 milhão de pessoas cada, enquanto o Centro-Oeste teve a menor variação em termos absolutos (–930 mil).

Tabela 1. Pessoas em situação de pobreza – Brasil e regiões (2022-2024)

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE/ PNAD Contínua.

A Figura 2 mostra que também houve um recuo expressivo nas taxas de extrema pobreza no Brasil. Após atingir um pico de 9,1% em 2021, impulsionado pelos efeitos da pandemia, o percentual da população em situação de extrema pobreza caiu para 3,6% em 2024 — alcançando os patamares mais baixos da série iniciada em 2012.

Figura 2. Taxa de extrema pobreza (%) – Brasil e regiões (2012-2024)
Linha de pobreza de R$218/mês per capita (Banco Mundial).

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE/ PNAD Contínua.

O recuo foi especialmente intenso no Nordeste, onde a taxa despencou de 17,7% em 2021 para 6,6% em 2024, e no Norte, que passou de 14,2% para 4,8% no mesmo intervalo. A redução mais intensa, observada nos anos mais recentes, coincide com a intensificação das transferências de renda e apontam para os efeitos dos programas sociais no enfrentamento dos níveis mais severos da privação de renda.

Tabela 2. Pessoas em situação de extrema pobreza – Brasil e regiões (2022-2024)

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE/ PNAD Contínua.

Por sua vez, o número de pessoas em situação de extrema pobreza no Brasil caiu de 12,9 milhões para 7,7 milhões, uma redução de mais de 5,1 milhões de pessoas — o equivalente a uma queda de quase 40%. Esse recuo foi mais intenso nas regiões com maiores contingentes populacionais em pobreza extrema, especialmente o Nordeste, que respondeu por cerca de 60% da redução total nacional, com 3,1 milhões de pessoas a menos nessa condição. As regiões Sudeste e Norte também apresentaram quedas relevantes, com reduções superiores a 800 mil e 680 mil pessoas, respectivamente. As regiões Sul e Centro-Oeste, que historicamente possuem níveis mais baixos de extrema pobreza, também registraram recuos, embora em menor escala absoluta.

Essa heterogeneidade territorial revela que os avanços no enfrentamento da pobreza são desiguais e refletem tanto diferenças no desempenho do mercado de trabalho quanto a capacidade das políticas públicas de alcançarem os domicílios mais vulneráveis. A permanência de níveis elevados de pobreza no Norte e Nordeste — mesmo após a ampliação das transferências — sugere que fatores como informalidade, baixa escolaridade e exclusão produtiva seguem como principais determinantes do acesso a renda e, consequentemente, da situação de pobreza monetária.

POBREZA E EXTREMA POBREZA NAS UNIDADES DA FEDERAÇÃO
Considerando informações ao nível das unidades federativas, as estimativas mostram que a proporção de pessoas em situação de pobreza caiu em todas elas, mas com intensidades muito distintas. Os maiores recuos ocorreram nos estados com patamares historicamente mais elevados nas regiões Norte e Nordeste. A Tabela 3 apresenta valores para os anos do ‘pós-pandemia’ (2022-2024), destacando a posição relativa de cada unidade da federação e a variação em pontos percentuais (p.p) no intervalo entre 2022 e 2024.

Tabela 3. Taxa de pobreza (%) – UFs (2022-2024)
Linha de pobreza de R$696/mês per capita (Banco Mundial).

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE/ PNAD Contínua.

O estado do Amazonas teve a maior redução da taxa de pobreza no período (–15,3 p.p.), seguida pelo estado da Bahia (–14,5 p.p.), Paraíba (–13,9 p.p.) e Alagoas (–13,1 p.p.). Ainda assim, todos os estados do Norte e do Nordeste encerraram 2024 com taxas de pobreza superiores a 30%, sinalizando uma persistente desigualdade regional.

A Tabela 4 apresenta valores da taxa de extrema pobreza nos mesmos moldes da Tabela 3. Estas estimativas mostram que a extrema pobreza também apresentou forte recuo em todas as UFs, com destaque para o Piauí (–7,7 p.p.), Acre (–6,5 p.p.), Bahia, Alagoas, Pernambuco e Sergipe (com reduções de –6,1 p.p. a –6,3 p.p.). As menores variações ocorreram nos estados do Sul e Sudeste, onde a taxa já era baixa, o que explica os recuos menos expressivos.

Tabela 4. Taxa de extrema pobreza (%) – UFs (2022-2024)
Linha de pobreza de R$218/mês per capita (Banco Mundial).

Fonte: Elaboração própria com dados do IBGE/ PNAD Contínua.

Apesar da redução das taxas em todas as regiões, a posição relativa dos estados na hierarquia da pobreza pouco se alterou. Estados da região Nordeste, Maranhão, Piauí, Alagoas, Ceará e Pernambuco, permanecem entre os estados com as maiores taxas de extrema pobreza, reforçando o caráter estrutural da pobreza nessas unidades. Por outro lado, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal seguem com as menores taxas, mesmo com variações discretas no indicador.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados apresentados evidenciam avanços expressivos na redução da pobreza e da extrema pobreza no Brasil entre 2022 e 2024, marcados tanto pela retomada do mercado de trabalho quanto, sobretudo, pela expansão das transferências de renda. Em números absolutos, mais de 17 milhões de pessoas deixaram a situação de pobreza nesse período, enquanto a extrema pobreza foi reduzida em quase 40%. Trata-se de uma das maiores quedas registradas desde o início da série histórica.

Apesar dessa evolução positiva, a análise regional mostra que a desigualdade territorial permanece como um dos principais desafios. Mesmo com a queda acentuada das taxas, todos os estados nordestinos e a maior parte dos estados do Norte encerraram 2024 com mais de 30% da população em situação de pobreza. Esse quadro indica que, embora os programas sociais tenham sido decisivos para reduzir a privação de renda, persistem limitações estruturais ligadas ao baixo dinamismo econômico, com reflexos sobre o mercado de trabalho o acesso à serviços básicos.
Os indicadores de pobreza, assim como os de renda — já discutidos em artigo anterior — reforçam que as disparidades regionais permanecem expressivas e não podem ser negligenciadas. Apresentar e debater essa realidade é fundamental para pensarmos em alternativas que articulem políticas sociais e estratégias de desenvolvimento regional, de modo a promover maior convergência entre as diferentes regiões do país.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
 

     

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