Produtividade mundial estagnada em 2021
Após crescimento de 4,5% em 2020, a produtividade por hora trabalhada mundial ficou estagnada em 2021, embora com grande heterogeneidade entre países. Em 2022 a produtividade mundial provavelmente retornará ao padrão de baixo crescimento que prevalecia antes da pandemia.
Como tenho discutido neste espaço, a pandemia de Covid-19 teve um impacto profundo sobre os indicadores de produtividade. A análise de seu comportamento em 2021 é de grande importância para avaliarmos as perspectivas de crescimento no Brasil e no mundo, assim como suas repercussões no mercado de trabalho e na taxa de inflação.
O Conference Board, benchmark internacional em análises de produtividade, divulgou esta semana a versão mais recente do Total Economy Database, uma base de dados anual com informações sobre produtividade para uma grande amostra de países. Desde o ano passado, as informações sobre emprego e horas trabalhadas usadas no cálculo de produtividade para o Brasil passaram a ser fornecidas pelo Observatório da Produtividade Regis Bonelli do FGV IBRE.
Após crescimento de 4,5% em 2020, a produtividade por hora trabalhada mundial ficou estagnada em 2021. No entanto, houve grande heterogeneidade no comportamento da produtividade entre diferentes regiões e grupos de países.
Enquanto em 2020 as economias emergentes tiveram um aumento de produtividade de 6,0%, superando amplamente o crescimento das economias avançadas (1,3%), em 2021 este padrão se inverteu, com melhor desempenho das economias avançadas (aumento de 1,4%) em comparação com as emergentes (0,2%).
No grupo de emergentes, também houve uma disparidade significativa em 2021, com crescimento de 4,0% da produtividade da China e queda de 8,1% no Brasil. Isso representa uma grande reversão em relação ao que ocorreu em 2020, quando a China teve crescimento de 5,6% e o Brasil teve um salto de produtividade de 11,9%. Na média da América Latina, houve redução de 6,8% em 2021, após elevação de 8,3% em 2020.
Os números sugerem que o forte aumento da produtividade por hora trabalhada em 2020 foi em grande medida temporário, especialmente nas economias emergentes. Isso decorreu dos efeitos da pandemia no mercado de trabalho e na estrutura setorial da economia.
Em particular, em 2020 as atividades com maior nível de produtividade, como a indústria de transformação e serviços financeiros, foram menos afetadas, enquanto aquelas com menor produtividade, como hospedagem e alimentação, foram fortemente atingidas. Além disso, trabalhadores com menor nível de escolaridade tiveram perda maior do emprego em 2020, o que resultou em aumento da escolaridade média da população em vários países.
Isso resultou em aumento da produtividade média do trabalho em 2020, especialmente em economias emergentes como o Brasil, nas quais a disparidade de produtividade entre setores e trabalhadores é muito elevada. Em 2021, no entanto, com a recuperação dos setores menos produtivos e a retomada do emprego de trabalhadores de menor escolaridade, a produtividade média caiu fortemente em vários países, como o Brasil, e ficou estagnada na média mundial.
Em 2022, o Conference Board prevê que a produtividade mundial continuará estagnada, com queda nas economias avançadas (-0,2%) e pequena elevação nas emergentes (0,2%). Para o Brasil, a previsão é de queda de 2,3%, refletindo a combinação de baixo crescimento do PIB e forte recuperação das horas trabalhadas.
Essas evidências parecem contrariar a expectativa otimista de alguns analistas de que, pelo menos no caso das economias avançadas, o avanço na utilização de tecnologias de digitalização e trabalho remoto durante a pandemia teria resultado em aceleração do crescimento da produtividade.
Para entender essas implicações em maior profundidade, um estudo recente de pesquisadores do Conference Board (“Productivity and the Pandemic: Short-Term Disruptions and Long-Term Implications”) analisou os efeitos da pandemia sobre a produtividade nos Estados Unidos, França e Reino Unido.
Segundo os autores, em 2020 as mudanças na composição setorial da economia decorrentes da pandemia contribuíram para um aumento de produtividade de 1,3 pontos percentuais (p.p.) nos Estados Unidos. Na França e Reino Unido este efeito composição foi de 2,1 p.p. e 3,4 p.p., respectivamente.
Por outro lado, a recuperação dos setores menos produtivos em 2021 contribuiu negativamente para o crescimento da produtividade nos três países. Nos Estados Unidos, este efeito composição subtraiu 0,6 p.p. do crescimento da produtividade, enquanto na França e Reino Unido esta contribuição foi negativa em 1,1 p.p. e 1,4 p.p, respectivamente.
Os autores mostram ainda que, dentre esses três países, somente nos Estados Unidos houve crescimento de produtividade quando se desconsideram as mudanças setoriais provocadas pela pandemia.
Essas evidências sugerem que, embora as novas tecnologias possam ter contribuído para uma elevação da produtividade em algumas empresas e setores, os efeitos agregados foram pequenos. Uma vez que o processo de reversão das mudanças na composição setorial seja concluído em 2022, a produtividade mundial provavelmente retornará ao padrão de baixo crescimento que prevalecia antes da pandemia.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
Este artigo foi originalmente publicado pelo Broadcast da Agência Estado em 29/04/2022.
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