Quem usa ChatGPT?

Os empresários com “até 34 anos” usam mais do que o dobro daqueles de “65 anos ou mais” (71% contra 32%). E os segmentos campeões do uso do ChatGPT e seus congêneres encontram-se no grupo da população com maior escolaridade.
O ChatGPT representa um marco na história da Inteligência Artificial (IA). Desenvolvido pela OpenAI, foi um dos primeiros Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLM, na sigla em inglês), treinado para gerar conteúdos complexos em linguagem natural. Seu lançamento impulsionou significativamente o uso da IA generativa em todo o mundo.[1] Em que pese a acirrada corrida no lançamento de novas versões, inclusive pelos muitos dos seus concorrentes (como Gemini, Claude, Meta AI, DeepSeek etc.), ainda é um dos líderes do mercado. Mas quem, afinal, faz uso do ChatGPT e de ferramentas generativas equivalentes?
Uma pesquisa do SEBRAE, que acabou de ser lançada, traz respostas interessantes para essa pergunta. Intitulada “Transformação Digital nos Pequenos Negócios 2025”[2], a pesquisa põe luz sobre o uso de diversos tipos de IA, no universo de mais de 20 milhões de donos de micro e pequenas empresas e microempreendedores individuais existentes no Brasil.
A pesquisa analisou 12 famílias de Inteligência Artificial, sendo o uso de IA generativa uma das famílias estudadas. De acordo com a pesquisa, mais de oito em cada dez empreendedores brasileiros já utilizam algum tipo de IA no seu cotidiano. Entre as ferramentas de IA mais utilizadas estão os diversos tipos de GPS (83%), experiências com as ferramentas de reconhecimento facial (77%) e o uso de assistentes virtuais (56%), como Alexa, Siri, Google Assistent e outros.
Especificamente no caso das IA generativas (ChatGPT, Deep Seek, Gemini, Copilot etc.), mais da metade (51%) dos empreendedores brasileiros afirma que usa essas ferramentas. Porém, esse uso está longe de ser homogêneo. Alguns públicos utilizam bem mais do que outros. Por porte, os empresários de empresas maiores usam mais que os das empresas menores. O setor de serviços, por sua vez, usa mais do que os setores do comércio e da indústria (56%, 49% e 39% respectivamente).
O público feminino utiliza 10 pontos percentuais a mais que o masculino. E entre os que se classificam como do grupo LGBTQI+, 69% dizem fazer uso de IA generativa, contra 52% no caso dos heterossexuais (17 p.p. de diferença). Por raça-cor, os empresários “brancos” utilizam mais que os “negros” (54% e 48% respectivamente).
Mas, como esperado, as duas variáveis mais determinantes para uso do ChatGPT são mesmo a faixa etária e o nível de escolaridade. Os empresários com “até 34 anos” usam mais do que o dobro daqueles de “65 anos ou mais” (71% contra 32%). E os segmentos campeões do uso do ChatGPT e seus congêneres encontram-se no grupo com maior escolaridade. Entre os empreendedores com pós-graduação, o uso cotidiano de IA generativa supera os 80%, contra apenas 11% no caso dos que têm apenas o ensino fundamental completo.
Particularmente nesse último quesito, os resultados escancaram um problema estrutural da nossa sociedade, que é o enorme gap no acesso a ferramentas digitais, entre os que têm alta e baixa escolaridade. Se entre os empreendedores verificamos um gap dessa magnitude (os que têm alta escolaridade usam 8 vezes mais que os que tem baixa escolaridade), imaginem no restante da sociedade!
Observe-se que a mesma pesquisa destaca que o acesso à internet já é praticamente universal: 98% dos empreendedores brasileiros têm acesso a internet. Isso reforça a importância, não apenas de aumentarmos o nível de escolaridade geral de nossa sociedade (e nossos empreendedores), como da necessidade da criação de políticas públicas mais focadas que auxiliem na superação do analfabetismo digital. De fato, de nada adianta termos acesso universal à internet se o analfabetismo digital atua como barreira ao uso de ferramentas, tais como o ChatGPT, que podem proporcionar maior competitividade às empresas.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
[1] AL‑AMIN, Md.; ALI, Mohammad Shazed; SALAM, Abdus; KHAN, Arif; ALI, Ashraf; ULLAH, Ahsan; et al. History of generative Artificial Intelligence (AI) chatbots: past, present, and future development. 2024. Disponível em: arXiv. Acesso em: 9 jun. 2025 <https://arxiv.org/abs/2402.05122>
[2] SEBRAE. Transformação digital nos pequenos negócios 2025: 7ª edição. Brasília, DF: SEBRAE Nacional – UGE/NPGC. Acesso em: 15 jun. 2025 <https://bit.ly/45dr1Z9>
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