A recuperação factível
Muito se tem discutido sobre a capacidade de recuperação da economia brasileira em 2017, após dois longos e árduos anos de profunda recessão. Vários analistas têm alegado que, em face de tamanha capacidade ociosa, o potencial de recuperação da economia brasileira deveria ser bastante elevado, o que levou alguns deles a projetar em meados do ano passado um crescimento de até 2% para 2017. Após a frustração com o PIB do terceiro trimestre de 2016, contudo, a mediana das projeções do FOCUS já recuou para patamares bem mais modestos, encontrando-se hoje em 0,5%. O IBRE/FGV, por outro lado, sempre manteve uma postura mais cautelosa quanto à recuperação da economia. Com efeito, nossa projeção sempre se situou em 0,3% e recentemente a revisamos marginalmente para cima, para 0,4%.
Da minha parte, uma das motivações para a cautela é que, em face das já tão debatidas repercussões negativas da Nova Matriz Econômica sobre o crescimento de longo prazo, o potencial de crescimento da economia brasileira deve encontrar-se hoje em patamar muito baixo. É sabido que a concentração de empréstimos subsidiados a alguns setores específicos, com reflexos profundamente negativos na dinâmica da dívida pública, provocou graves distorções na alocação de capital. Enquanto a correção do excesso de investimento nesses setores, em detrimento dos demais, não for concluída, é difícil vislumbrar um cenário de recuperação robusta do PIB. Para se ter dimensão do processo de correção que estamos vivenciando, a média móvel de crescimento para um período de cinco anos deverá recuar de 3,4% em 2014 para -0,4% em 2016. Com as nossas projeções para 2017 e 2018, que atualmente pouco diferem das registradas no FOCUS, a média móvel deverá recuar ainda mais, para -0,8%. A partir de 2019 é que a métrica deverá retornar a uma dinâmica ascendente.
É claro que uma maturação mais rápida das reformas fiscais e microeconômicas em curso, bem como do processo realocação do capital na economia, poderá acelerar essa inflexão do potencial de crescimento do PIB brasileiro. Por outro lado, a ponderar pela evolução absolutamente surpreendente do crescimento nos últimos dois anos, é provável também que as nossas projeções de crescimento de 0,4% em 2017 e 2,3% em 2018 já contemplem um significativo fechamento da capacidade ociosa da economia nos próximos anos.
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