Teremos inflação na meta em 2025?

Existem hoje chances reais de a inflação encerrar 2025 dentro do intervalo de tolerância da meta (1,5% a 4,5%). Tanto que já se discute a possibilidade de cortes na Selic ainda este ano – algo impensável no início de 2025.
Se essa pergunta fosse feita no fim do primeiro trimestre de 2025, a resposta seria um categórico não. O ambiente econômico parecia hostil: guerras e tensões geopolíticas, tarifas comerciais impostas por Donald Trump, real desvalorizado, riscos climáticos com potencial de pressionar os alimentos, crescimento da dívida pública e sinais de esgotamento das políticas fiscal e monetária.
Naquele momento, o consenso do mercado projetava a inflação de 2025 em torno de 5,5%, quase o dobro da meta de 3% definida pelo Conselho Monetário Nacional (com tolerância entre 1,5% e 4,5%).
No entanto, o cenário surpreendeu positivamente. Apesar do ambiente político e econômico ainda conturbado, alguns riscos relevantes se dissiparam. O primeiro deles foi o climático: a agricultura brasileira entregou uma safra 2024/2025 recorde, o que assegurou preços mais baixos para os alimentos, mesmo com o câmbio depreciado. Entre junho e setembro, o IPCA do IBGE registrou quatro meses consecutivos de queda na alimentação no domicílio, resultado que não estava previsto nos modelos da maioria dos analistas, quando esses ainda no primeiro trimestre projetavam alta em alimentos em todos os meses do ano, conforme mostra a mediana do Boletim Focus.
A política monetária também vem desempenhando papel decisivo. Os juros mantidos em patamar elevado conseguiram ancorar as expectativas de inflação. O Boletim Focus, que durante meses mostrou alta nas projeções para 2025 e 2026, passou a revisá-las para baixo. Esse movimento sinaliza maior confiança na convergência da inflação à meta.
Outro fator foi o comércio internacional. As tarifas impostas por Trump redirecionaram parte da produção global de alimentos, ampliando a oferta em alguns mercados. Apesar da intensificação das relações comerciais brasileiras com a Ásia, esse rearranjo acabou ajudando a conter preços domésticos de determinados produtos.
Essas políticas comerciais também geraram elevado grau de incerteza, adiando decisões de consumo e aumentando prêmios de risco. Isso contribuiu para acentuar as expectativas de desaceleração da atividade econômica global, resultando em um impacto mais benigno das commodities e de dólar mais fraco. A estabilidade do petróleo reforça esse quadro. A gasolina, um derivado de peso dessa commodity, que representa cerca de 5% do IPCA, ao permanecer estável, reduz consideravelmente a pressão sobre o índice.
Com esse conjunto de fatores, há hoje chances reais de a inflação encerrar 2025 dentro do intervalo de tolerância da meta. Tanto que já se discute a possibilidade de cortes na Selic ainda este ano – algo impensável no início de 2025.
O desafio central, entretanto, está nos serviços livres. Enquanto alimentos recuaram e bens duráveis foram contidos pelos juros altos, os serviços seguem com variação acumulada em 12 meses próxima de 6%, o dobro da meta. Como respondem por cerca de 30% do IPCA, sua resistência à queda limita a convergência plena da inflação.
Essa rigidez reflete o baixo desemprego e o crescimento da massa salarial. Medidas que ampliam a renda disponível, ainda que para 2026, como a correção da tabela do Imposto de Renda e os reajustes reais do salário-mínimo – embora socialmente desejáveis –, tendem a sustentar a demanda e reforçar pressões inflacionárias. Por outro lado, o avanço da inadimplência das famílias reduz temporariamente a capacidade de consumo, funcionando como freio. Ainda assim, à medida que a renda cresce, esse efeito tende a perder força.
Em síntese: o risco de inflação descontrolada em 2025 perdeu força. O alívio vindo da safra recorde, do câmbio relativamente estável no repasse aos preços, dos juros elevados e do petróleo sem sobressaltos abriu espaço para uma trajetória mais benigna. Mas a batalha decisiva para alcançar a meta dependerá de reduzir a inflação de serviços — o segmento mais resistente à política monetária.










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