Macroeconomia

Trabalho remoto no mundo

19 set 2022

Estudo mostra que trabalho remoto veio para ficar, o que pode levar ao aumento de produtividade e bem-estar. Porém, como home office é concentrado em trabalhadores de maior escolaridade, pode ocorrer aumento da desigualdade. 

A pandemia de Covid-19 impôs severas restrições à mobilidade e intensificou a adoção de novas práticas em termos de organização do trabalho. Em particular, ocorreu uma ampla difusão do trabalho remoto ou em regime de home office, com importantes impactos sobre a produtividade e bem-estar dos trabalhadores.

A questão que se coloca é em que medida essas mudanças foram temporárias ou permanentes. Um estudo de Nicholas Bloom e co-autores divulgado esta semana (“Working from Home Around the World”) apresenta resultados de duas sondagens sobre o tema realizadas em meados de 2021 e início de 2022 com trabalhadores de 27 países, incluindo o Brasil.

Nesse período, a média de dias de trabalho remoto por semana na amostra de países foi de 1,5, variando de 0,5 na Coreia do Sul a 1,6 nos Estados Unidos, 1,7 no Brasil, 2 no Reino Unido e 2,6 na Índia, possivelmente refletindo estágios distintos na retomada do trabalho presencial. Essas médias foram calculadas com controles para diferenças entre países nas características socioeconômicas dos trabalhadores, como gênero, idade, escolaridade e setor de atividade.

Um padrão que surge nas respostas é o fato de que o número de dias de trabalho remoto desejado pelos trabalhadores é maior que o número de dias planejado pelos empregadores após a pandemia. Na média da amostra, os trabalhadores gostariam de trabalhar em casa 1,7 dias por semana, enquanto os empregadores planejam 0,7 dias de trabalho remoto. No Brasil esta discrepância é ainda maior, com 2,3 dias de trabalho em casa desejados pelos trabalhadores e 0,8 dia planejado pelas empresas.

Este resultado provavelmente está associado aos ganhos de produtividade ou bem-estar percebidos pelos trabalhadores com a experiência de home office durante a pandemia, talvez ainda não inteiramente compreendido pelas empresas. Na média da amostra, os trabalhadores relatam que a produtividade foi 6,7% superior às expectativas, sendo que as maiores surpresas positivas foram na Índia (9,8%) e Brasil (9,1%).

É provável que essa percepção positiva da produtividade durante a pandemia esteja captando em parte a melhoria de bem-estar decorrente da menor necessidade de se deslocar para o local de trabalho. De fato, Brasil e Índia se situam no grupo de países com maior tempo diário de locomoção (ida e volta), com 77 e 93 minutos, respectivamente.

Os resultados para o Brasil estão em linha com uma sondagem feita pelo FGV IBRE no final do ano passado, que coincide aproximadamente com o período da pesquisa de Bloom e co-autores. Enquanto 55,2% dos trabalhadores reportaram aumento da produtividade, apenas 21,6% dos empresários avaliaram que houve crescimento da produtividade.

Devido à diferença de percepção em relação ao aumento da produtividade dos trabalhadores com o home office, foi detectada uma discrepância nas preferências de trabalhadores e empregadores em relação à jornada de trabalho remoto após a pandemia. Enquanto os trabalhadores desejavam permanecer em regime remoto por 3,1 dias na semana, os empregadores planejavam 1,9 dia de home office.

Como constatado no estudo de Bloom e co-autores, essa diferença na percepção de empregadores e empregados provavelmente reflete em boa medida o ganho de bem-estar proporcionado pela menor necessidade de se deslocar para o trabalho, particularmente em um país com grandes problemas de mobilidade urbana como o Brasil.

As sondagens indicam, portanto, que o trabalho remoto veio para ficar. De um lado, isso abre perspectivas de aumento de produtividade e bem-estar. No entanto, como o home office é concentrado nos trabalhadores de maior escolaridade, pode ocorrer um aumento da desigualdade. O papel da política pública será viabilizar os ganhos potenciais de forma disseminada, investindo no aumento da capacitação dos trabalhadores e no acesso a uma infraestrutura adequada para o trabalho em casa, especialmente internet de qualidade.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Este artigo foi originalmente publicado pelo Broadcast da Agência Estado em 16/09/2022.

Comentários

Tatiane Alves
Veja agora como faturo mais de R$ 4.397,00 por mês " Trabalhando no Conforto de Casa" através de um simples e prático passo a passo com técnicas de home office. Usando apenas um celular ou computador com internet. https://bit.ly/3Bl9UnH

Deixar Comentário

To prevent automated spam submissions leave this field empty.