Política e Governo

A transição militar de Lula III

22 dez 2022

Defesa foi única área sem equipe de transição indicada por Lula, que nomeou José Múcio, político de direita, como novo ministro da Defesa. Opções de Lula fazem sentido pois Forças Armadas estão imbricadas com bolsonarismo.

A defesa nacional foi a única área que não teve uma equipe de transição indicada por Lula, o presidente entrante, para dialogar com o governo de saída. Além disso, Lula já nomeou José Múcio, político de direita que tem diálogo com Bolsonaro, para ser o novo ministro da Defesa a partir de 1º de janeiro.

As opções de Lula surpreenderam muita gente, mas fazem sentido. Afinal, as Forças Armadas estão entre as organizações nacionais mais imbricadas com o bolsonarismo. Não à toa, ao longo de 2022, o atual ministro da Defesa, o General Paulo Sérgio de Oliveira, notabilizou-se não como especialista em defesa, mas como comentarista crítico do excelente sistema de votação eletrônica de que dispõe o Brasil, tornando-se, portanto, a ponta de lança da principal linha de ataque do inquilino do Palácio do Planalto às instituições do país, mormente ao Supremo Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral.

Cabe aqui sublinhar que, desde a criação do Ministério da Defesa (MD) em 1999, os militares sempre se queixaram de os titulares civis da pasta não terem conhecimento em questões atinentes à defesa nacional. O fato de Paulo Sérgio de Oliveira, um militar que supostamente tem tal conhecimento, não ter jamais se destacado, durante seu período à frente do MD, como especialista em defesa solapa completamente a credibilidade da crítica que os militares costumavam fazer aos civis.

Além disso, os atuais comandantes da Marinha, do Exército e da Força Aérea têm sido tolerantes com os extremistas de direita que continuam se manifestando diante de quartéis em prol de um golpe militar contra a vitória de Lula. Os referidos comandantes também ameaçaram passar seus respectivos cargos antes da posse de Lula, numa mensagem clara de que não aceitariam se subordinar a ele.

Portanto, a bagunça no setor militar é grande. Assim, de maneira coerente com a proposta de fazer um governo de frente democrática e de conciliação nacional, Lula optou – num primeiro momento – por pacificar o setor e não peitar abertamente o bolsonarismo que grassa nas Forças Armadas. A nomeação de José Múcio para o MD e a decisão do presidente entrante de indicar os oficiais mais antigos das três Forças como seus novos comandantes – uma regra informal prezada pela caserna, que, todavia, não obriga a nenhum chefe de Estado – sinalizam, enfaticamente, a disposição de Lula de estabelecer relações harmônicas com os fardados.


Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro de dezembro/2022.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

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