Macroeconomia

O V da Vacina

21 out 2021

Com a recuperação do setor de serviços a partir de abril deste ano a economia deverá apresentar em 2021 uma diferença positiva,  pouco acima do valor negativo observado em 2020

O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas - FGV IBRE – divulgou através do Monitor do PIB FGV, em 19/10/2021, que o PIB, na taxa acumulada em 12 meses, apresentou crescimento de 3,6%, o que representa um ganho de 0,5 pp em relação a esta mesma taxa em agosto de 2020 que foi de -3,1%. Ou seja, no acumulado de 12 meses setembro/2020 a agosto/2021 obteve-se um crescimento pífio de 0,5% frente a perda setembro/2019 a agosto/2020.

O desastre de 2020, em que o PIB anual brasileiro se reduziu em 4,1%, foi causado pela pandemia global do Covid-19. Este impacto aparece claramente a partir de março de 2020 quando se observa a primeira taxa negativa (-1,2%),  tendo em abril de 2020 seu vale (-13%). Nesse mesmo período de doze meses todas as atividades econômicas têm seus desempenhos impactados negativamente, de forma diferenciada tanto em número de meses quanto em sua profundidade; as raras exceções são o desempenho da Agropecuária, de Serviços Imobiliários e das Instituições Financeiras, que cresceram durante o período em média 2,4% 2,9% e 5,1%, respectivamente, atividades que dispensam o contato social.

Das doze atividades computadas, quatro delas do setor de serviços aparecem com taxas negativas durante os doze meses mencionados: Outros Serviços que compreende alimentação fora da residência, serviços de hotelaria, e serviços prestados a famílias e empresas, cuja taxa de 12 meses  em fevereiro de 2021 foi de -13,3%; Transportes que abrange transportes em qualquer modal, de carga ou passageiros com queda de -9,4%; Comércio abrangendo atacado e varejo com queda de -3,3%; e Administração Pública com -5,3% , as mais prejudicadas pelo isolamento. Entre as atividades industriais com queda durante os doze meses pode-se mencionar a Construção queda foi de -7,3% e Transformação com -3,8%. Todas as demais atividades sofrem impactos negativos no início da pandemia e progressivamente se recuperam ao longo dos doze meses mencionados.

O que fica claro do conjunto de informações acima é que todas as atividades sofrem impacto negativo durante a pandemia devido a necessidade de isolamento. Mas três delas do setor de serviços, que somadas representam 35,4% do Valor Adicionado, tiveram quedas médias mensais elevadas e persistentes, cuja média agregada foi de -8%, superior à de todas as demais atividades. Ressalta-se que estas três atividades necessitam de interação entre as pessoas para que possam funcionar, e elas vieram melhorando à medida que a vacinação aumentou e a taxa de infecção se reduziu.

Por sua vez, esses resultados coincidem com a melhora do consumo das famílias, que  representa 65% do PIB, graças a recuperação do consumo de serviços, com taxas positivas a partir de abril do corrente.

De fato, em 2021, não haverá crescimento em V mas uma recuperação para um valor próximo ao da queda de 4,1% de 2020, podendo se chamar de crescimento apenas à pífia diferença entre ambos. O tão festejado V, no nosso entendimento, deveria ser o V da Vacina.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

Comentários

Mateus Trotta
Hildete Pereira...

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