Macroeconomia

Na construção, ritmo de retração diminui mas empresas ainda demitem

7 ago 2017

Em junho, o Caged mostrou que a construção foi o setor que mais demitiu no mês, posição que também detém no ranking dos últimos 12 meses.

O setor da Construção começou a ganhar protagonismo nas demissões em outubro de 2014, o primeiro ano, desde 2007, no qual o total de empregados com carteira terminou em patamar inferior ao do ano anterior. A partir de então, as empresas seguiram demitindo cada vez mais, invertendo a dinâmica positiva anterior.

Entre dezembro de 2007 e 2013, a construção respondeu pela contratação de 1,8 milhão de trabalhadores com carteira[1], fato que contribuiu para a maior formalização do mercado de trabalho do país. Mas entre dezembro de 2014 e dezembro de 2016, foram demitidos quase 900 mil trabalhadores.

A crise fiscal e a recessão afetaram profundamente a atividade, ajudando na formação de grandes estoques no mercado imobiliário na maioria das cidades do país. A paralisação de obras de infraestrutura, comandadas por empresas envolvidas no esquema de corrupção apurado pela Lava-Jato, comprometeu não apenas os empregos das próprias empresas, mas de várias pequenas e médias subempreiteiras. E por fim, a crise fiscal reduziu investimentos dos municípios e dos estados por todo país.

A despeito desse cenário catastrófico, que tem se manifestado com força no mercado de trabalho, as empresas da construção começaram a ficar menos pessimistas no início do ano passado. O Índice de Expectativas (IE), que mensura as expectativas dos empresários da construção no curto prazo, captadas pela Sondagem da Construção, alcançaram o piso histórico em janeiro de 2016 (69,9 pontos). Desde então, o IE da Construção já subiu mais de 15 pontos. No entanto, a mudança de ânimo não teve o impacto correspondente na atividade corrente, que seguiu em declínio. Neste mesmo período, de janeiro de 2016 a julho de 2017, o Indicador de Situação Atual (ISA) recuou 1,1 ponto.

Índice de Confiança da Construção (ICST) e componentes

(dessazonalizados e em pontos)

Fonte: FGV

A avaliação dos empresários do setor captada na Sondagem em julho é que as demissões deverão continuar superando as contratações nos próximos três meses. Dessa forma, a construção deverá chegar ao final do ano emplacando mais uma retração. A projeção da FGV/SindusCon-SP é que a queda no mercado de trabalho setorial, em 2017, alcance 11%, sucedendo as quedas de 10% e 14%, em 2015 e 2016, respectivamente.

Número de empregos com carteira na construção, Brasil

Fonte: RAIS/Caged. Elaboração e projeção: FGV

Há, no entanto, alguns sinais positivos, na verdade – ou, melhor dizendo,  menos pessimistas. A pesquisa de emprego mostra claramente que houve uma desaceleração no ritmo de demissões. No primeiro semestre do ano passado, as demissões alcançaram 139 mil trabalhadores. Em 2017, foram 40,5 mil. A mesma sondagem de julho mostrou que o percentual de empresários apontando demissões nos próximos meses caiu 11 pontos em relação a dezembro de 2016.

Há boas indicações que o pior já passou para as empresas da construção. Depois da fase de ajuste no mercado imobiliário, muitas empresas começam a se preparar para novos lançamentos. No entanto, ainda não há sinais de recuperação da demanda. A carteira de contrato das empresas está muito baixa. O percentual de distratos (cancelamento das vendas realizadas) ainda se mantém alto. A possibilidade dos programas governamentais – PMCMV e do PAC – voltarem a estimular a atividade é muito baixa (vide o último remanejamento de R$ 7,5 bilhões do PAC). Os resultados da pesquisa realizada com as empresas dos respectivos programas, que serão apresentados em breve pelo IBRE neste espaço, mostram as dificuldades do último ano.

Nos próximos meses é possível que se assista a algum ajuste nas expectativas empresariais, especialmente depois do anúncio do novo corte que recairá sobre as obras do PAC.  Efetivamente, o ritmo de melhora será muito lento. 

 

[1] Números da Pesquisa de emprego da FGV/SindusCon-SP realizada a partir da RAIS/Caged.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

 

 

 

 

 

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Rodrigo
Ana Maria Castelo

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