Comprar na Black Friday para presentear no Natal
Aumenta disposição de consumidores em participar da Black Friday, junto à preocupação com preços e condições de pagamento. Há tendência de antecipar compras de Natal entre consumidores de baixa renda, para aproveitar descontos.
O quesito especial de novembro da Sondagem do Consumidor da FGV revela um aumento da parcela de consumidores brasileiros aventando a possibilidade de comprar produtos ou serviços na Black Friday na comparação com o ano passado. Se, por um lado, a parcela dos que comprarão com certeza nesta data especial do comércio diminuiu um pouco entre 2022 e 2023, de 10,0% para 9,6% do total, houve, no mesmo período, um aumento considerável da proporção dos que poderão adquirir produtos a depender de preços, condições de pagamento ou outros fatores, de 14,4% para 21,7%. Há ainda 5,3% dos respondentes afirmando não saber se irão adquirir itens de consumo na segunda quinzena de novembro.
O resultado parece combinar aspectos favoráveis deste ano, como a melhora do mercado de trabalho, desaceleração da inflação e início de movimento de queda dos juros, com fatores geradores de incerteza, como a desaceleração do ritmo de atividade econômica no segundo semestre e as perspectivas ainda nebulosas em relação ao desempenho da economia em 2024. O quadro retrata um consumidor querendo aproveitar cada vez mais as oportunidades da Black Friday, mas adotando uma postura cautelosa.
Gráfico 1: Pergunta: Você pretende comprar produtos ou serviços na “Black Friday” deste ano?
Fonte: FGV IBRE
Assim como nos demais anos, o percentual de pessoas que não têm a intenção de comprar nessa data se manteve acima dos 60%, com uma redução em 2023 na comparação com 2022.
Quando observados por faixa de renda, esses resultados seguem o mesmo padrão. Tanto para as faixas de renda mais baixa quanto para as mais altas, houve redução das pessoas que assinalaram que não iriam participar da Black Friday, com aumento das assinalações que indicam a possibilidade de participação a depender de uma série de fatores, e quase estabilidade da parcela dos participariam com certeza.
Motivação para as compras na Black Friday
A segunda pergunta do quesito especial procura entender os objetivos para as compras na Black Friday. Foi realizada apenas para aqueles que marcaram “Sim, com certeza” e as opções de “Talvez” na primeira pergunta. Os resultados sugerem que o consumidor brasileiro está aproveitando a ocasião para antecipar compras de Natal, embora o principal motivo para comprar continue sendo a necessidade de um bem ou serviço específico, adquirido “independente das compras de Natal”. Em síntese, em 2023, 2/3 dos consumidores da Black Friday aguardaram a ocasião para adquirir bens ou serviços necessários; e 1/3 estão aproveitando os descontos desta data para antecipar compras de Natal.
Em relação a 2022, houve aumento de 20,6% para 26,1%, no percentual de pessoas planejando antecipar em novembro uma parte das compras de Natal. Essa evolução foi influenciada apenas pelas faixas de renda familiar mais baixa (rendas 1 e 2[1]), e principalmente pela renda 1. O percentual de consumidores de renda mais baixa (1 e 2) que pretendem antecipar parte das compras natalinas passou de 17,0% para 30,1% entre 2022 e 2023, maior nível da série histórica iniciada em 2017 e quase 10 pontos percentuais acima do último recorde da série, também de 2017. Na faixa de menor renda familiar (renda 1), esse percentual passou de 11,9% para 32,0% no mesmo período. Além disso, houve aumento de 2,2%, para 6,7% das pessoas planejando antecipar todas as compras nesta ocasião, resultado disseminado em todas as faixas de renda.
Nas faixas de renda mais alta, apesar da relativa estabilidade da opção de antecipar parte das compras de Natal na Black Friday, houve aumento do ímpeto para a antecipação de todas as compras, com as proporções saindo de 1,5% em 2022 para 5,0% em 2023.
A antecipação das compras de Natal em novembro também vem acompanhada da queda de 10,8 p.p. da parcela de consumidores que irão adquirir produtos e serviços independentemente das compras de Natal, de 76,0% para 65,2%, com destaque para a diminuição, 80% para 59,4%, do grupo de famílias de renda mais baixa optando por esta resposta. Este resultado pode sinalizar uma tendência a maior planejamento de compras associado à popularização da data, maior seletividade de gastos ou até mesmo maior restrição financeira das famílias no momento, por sugerir menor demanda por bens e serviços que vão além das compras do Natal.
Gráfico 2: Pergunta: No caso de você adquirir algo na Black Friday
deste ano, qual seria o principal objetivo da(s) compra(s):
Fonte: FGV IBRE
Como ocorrerão as compras na Black Friday
A terceira pergunta realizada nesse quesito especial é inédita na pesquisa e busca capturar como as compras da Black Friday serão realizadas. Em 2023, 40,7% das pessoas que têm a intenção de comprar nessa data pretendem realizá-lo de forma totalmente online, seguido pela opção híbrida (26,5%) e pela compra totalmente presencial (17,4%).
Gráfico 3: Pergunta: Você pretende comprar produtos
ou serviços na “Black Friday” deste ano?
Fonte: FGV IBRE
Concluindo: consumidor brasileiro planeja mais e monitora preços
No geral, os resultados da pesquisa extraordinária da Sondagem dos Consumidores mostram o aumento da parcela de consumidores suscetíveis a participar da Black Friday, a depender de diversos fatores como preços e condições de pagamento. É o retrato de um consumidor seletivo, preocupado com preços, ainda que esteja ligado nas oportunidades de compras novas ou de antecipação de compras de Natal.
Consumidores de renda baixa que têm intenção de comprar bens ou serviços nessa data pensam cada vez mais em antecipar das compras de Natal em novembro, como forma de aproveitar os descontos, demonstrando um maior planejamento para tal prática. Como a situação financeira das famílias ainda está a meio caminho de uma melhora mais sustentável, a necessidade de organização e do aproveitamento de ofertas da Black Friday se faz importante em 2023.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV
[1] Renda1: Até R$2.100,00. Renda 2: Entre R$2.100,01 e R$4.800,00. Renda 3: Entre R$4.800,01 e R$9.600,00. Renda 4: Mais de R$9.600,01
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