Surpresas positivas no mercado de trabalho regional
No 3º tri, mercado de trabalho das regiões permaneceu favorável, com menos desemprego, mais ocupados e maior rendimento médio. Mas taxa de participação ainda está abaixo do 4º tri de 2019, principalmente no Norte e Nordeste.
Ao longo deste ano. o mercado de trabalho brasileiro vem demonstrando que os efeitos adversos da pandemia sobre a economia brasileira parecem ter sido superados. A cada trimestre a taxa de desemprego tem recuado e a população ocupada atingido níveis recordes, se distanciando cada vez mais do quadro observado entre os 2º trimestres de 2020 e 2021.
Os microdados da Pnad Contínua, recentemente divulgados pelo IBGE, revelam que a tendência de melhora do mercado de trabalho observada no final do ano passado se manteve nos trimestres subsequentes, tanto para o Brasil quanto para as cinco regiões. A taxa de desemprego do Brasil, principal termômetro do mercado de trabalho, recuou 0,4 p.p. no 3º trimestre de 2023 em relação ao trimestre imediatamente anterior e 1,0 p.p. em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, conforme mostra o Gráfico 1.
Regionalmente, o Nordeste continuou reportando as maiores taxas, enquanto o Sul registrou as menores. Embora as heterogeneidades regionais permaneçam expressivas, observa-se uma convergência entre as taxas do Centro Oeste e Sul e entre as taxas do Norte e Sudeste. Por outro lado, o Nordeste tem apresentado uma maior dificuldade em diminuir sua taxa para patamares inferiores a dois dígitos. Em números, no 3º trimestre de 2023 , a taxa de desemprego no Brasil foi de 7,7%. Nas regiões Norte, Sudeste, Sul e Centro-Oeste, a taxa desemprego foi de 7,7%, 7,5%, 4,6% e 5,5%, respectivamente. Já no Nordeste, apesar da melhora em relação aos anos de 2020 e 2021, a taxa de desemprego no 3º trimestre de 2023 foi de 10,8%.
Gráfico 1: Taxa de desemprego (em %). Brasil e regiões.
Fonte: elaboração FGV IBRE com dados da PNAD Contínua (IBGE)
A trajetória do indicador nas cinco regiões é influenciada pelos ciclos econômicos e isso contribui para que as flutuações da taxa de desemprego ocorram de forma muito parecida entre as regiões. Por exemplo, todas as regiões registraram forte elevação entre 2014 e início de 2017, permanecendo em patamares elevados até o final de 2019. O Gráfico 1 também mostra um novo aumento entre os primeiros trimestres de 2020 e 2021, seguido de uma expressiva queda desde então.
Outro importante indicador para análise do mercado de trabalho é a evolução da população ocupada. A trajetória do número de pessoas ocupadas no Brasil e nas regiões, entre 4º trimestre de 2019 e 3º trimestre de 2023, pode ser visualizada no Gráfico 2. Após a forte redução de 12,6% no emprego, registrada entre o 4º trimestre de 2019 e 3º trimestre de 2020, o emprego começou a se recuperar consistentemente em todas as regiões brasileiras. Em 2023, vem ocorrendo uma permanência deste cenário de melhora no emprego. Em particular, no 3º trimestre de 2023, o número de pessoas ocupadas no Brasil avançou para 99,8 milhões de pessoas, o maior já observado na série histórica, estando 4,5% acima do observado no final de 2019 e 0,6% acima do registrado no mesmo trimestre do ano anterior. Esse crescimento pode ser explicado principalmente pelo aumento de mais de 300 mil empregados no Sudeste e 100 mil no Centro Oeste no último ano.
Gráfico 2: Evolução do número de pessoas ocupadas (em milhões) e crescimento em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Brasil e regiões.
Fonte: Elaboração FGV IBRE com dados da Pnad Contínua (IBGE)
No Norte (8,1 milhões), Nordeste (22,5 milhões), Sudeste (44,9 milhões), Sul (15,7 milhões) e Centro-Oeste (8,6 milhões) o emprego encontra-se 8,1%, 3,5%, 4,1%, 3,1% e 8,9% acima do observado ao final de 2019, respectivamente. E, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste, apresentaram os maiores incrementos: 1,2%, 0,9% e 0,6%, respectivamente.
Por outro lado, tem ocorrido uma desaceleração no ritmo de aumento do número de pessoas ocupadas. O Gráfico 2b, por exemplo, mostrou uma desaceleração na taxa de crescimento interanual do emprego no Brasil, que foi disseminado em todas as regiões. Em particular, o crescimento do emprego no terceiro trimestre de 2023, em relação ao mesmo período do ano passado, foi de apenas 0,6% no Brasil, mesmo valor observado no Nordeste e pouco inferior ao observado no Sudeste (0,9%) e Centro-Oeste (1,2%). Já no Norte (-0.3%) e no Sul (-0.2%) o emprego recuou em relação ao segundo trimestre de 2022.
Mas, nem todos os indicadores estão performando como a taxa de desemprego e a população ocupada. A taxa de participação[1], por exemplo, ainda está abaixo do período pré-pandemia, conforme mostra o Gráfico 3. Após a queda observada em 2020, a taxa de participação começou a se recuperar de forma lenta e gradual até meados de 2022, mas não retornou ao patamar observado ao final de 2019. No início de 2023 recuou novamente. Apenas no 3º trimestre mostrou uma tímida melhora, passando de 61,6% para 61,8% entre o 1º e 3º trimestre de 2023.
Gráfico 3: Evolução da taxa de participação. Brasil e regiões
Fonte: Elaboração FGV IBRE com dados da Pnad Contínua (IBGE).
Com exceção das regiões Sul e Centro-Oeste, que ainda apresentam queda de 0,1p.p e 0,4p.p, a taxa de participação em todas as outras avançou um pouco em relação ao observado no primeiro trimestre de 2023. No entanto, esta melhora ainda não foi suficiente para superar os níveis observado no pré-pandemia. A Tabela 1, mostra a variação da taxa de participação no Brasil e nas regiões em períodos selecionados.
Como podemos notar, a taxa de participação no Basil no 4º trimestre de 2019 estava 0,8 p.p. acima da média observada entre 2012 e 2018. Com os impactos severos da pandemia, houve forte redução no 2º trimestre de 2020. Analisando o 3º trimestre de 2023, período mais recente, tem-se que a taxa ainda se encontra 1,8 p.p. abaixo do observado no final de 2019. Todas as regiões permanecem com esse indicador abaixo dos seus níveis reportados no 4º trimestre de 2019.
Tabela 1: Variação da taxa de participação (em p.p.) para períodos selecionados.
Fonte: Elaboração FGV IBRE com dados da Pnad Contínua (IBGE).
No 4º trimestre de 2019, o Norte e o Nordeste já estavam com suas taxas de participação abaixo da média observada entre 2012 e 2018. A pandemia agravou esse quadro, fazendo o indicador atingir níveis muito baixos e sem precedentes na série histórica da PNAD Contínua. Atualmente (3º trimestre de 2023), a taxa de participação do Norte e do Nordeste se encontra 1,0 p.p e 1,6 p.p, respectivamente, abaixo do registrado final de 2019.
O nível da taxa de participação recente se deve ao elevado número de pessoas que ainda estão fora da força de trabalho, conforme mostra o Gráfico 4. Atualmente, quase 67 milhões de pessoas estão fora da força de trabalho, o que representa um recuo 0,3% em relação ao trimestre imediatamente anterior, um incremento de 3,2% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e de 8,5% em relação ao 4º trimestre de 2019.
Gráfico 4: Evolução do número de pessoas que estão fora da força de trabalho. Brasil e regiões.
Fonte: Elaboração FGV IBRE com dados da Pnad Contínua (IBGE).
Analisando regionalmente o comportamento do número de pessoas fora da força de trabalho no 3º trimestre de 2023, observa-se que apesar do nível estar abaixo do pico observado em 2020, ele ainda supera o observado no final de 2019 em todas as regiões. Nas regiões Norte (5,9 milhões), Nordeste (21,2 milhões), Sudeste (26,5 milhões), Sul (8,7 milhões) e Centro-Oeste (4,5 milhões), o número de pessoas fora da força de trabalho encontrava-se 9,3%, 7,0%, 10%, 7,4% e 8,5%, respectivamente, acima do observado no final de 2019. Em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, a variação percentual também foi positiva: 5,9%, 2,4%, 2,4%,4,7%, 6,1%, respectivamente.
O salário dos trabalhadores está relacionado a uma série de fatores, como nível de escolaridade, experiência, função dentro da empresa, região em que trabalha etc. Embora a discussão aprofundada sobre tais fatores fujam ao escopo dessa análise, as evidências empíricas, nacionais e internacionais, mostram uma associação positiva entre escolaridade e rendimento. Quanto mais alto o grau de instrução de um indivíduo maior tende a ser seu rendimento. O Gráfico 5 corrobora tais achados, pois pessoas ocupadas com o ensino superior ganharam, em média, R$ 6.043,00 no 3º trimestre de 2023. Esse valor foi superior ao registrado no ano passado, mas continua abaixo do 4º trimestre de 2019. Apenas os rendimentos dos “sem instrução e fundamental completo” e “fundamental completo e médio incompleto” cresceram, comparando o 3º trimestre de 2023 ao 3º trimestre de 2022 e 4º trimestre de 2019.
Gráfico 5: Rendimento Real (R$) por Nível Educacional - Brasil
Fonte: Elaboração FGV IBRE com dados da Pnad Contínua (IBGE).
Também se observa que o rendimento médio agregado do 3º trimestre de 2023 superou os patamares registrados no 4º trimestre de 2019, tanto no Brasil quanto nas regiões brasileiras, com exceção do Nordeste, conforme mostra o Gráfico 6. Mas, o crescimento do rendimento em relação ao pré-pandemia ocorreu de forma heterogênea entre os grupos educacionais. Apesar do rendimento do Brasil já ter superado em 1,3% o observado no final de 2019, ainda há queda para níveis de maior escolaridade, como por exemplo dentre aqueles com ensino médio completo e superior incompleto (-1,3%) e principalmente dentre aqueles com ensino superior completo (-7,9%). Por outro lado, dentre os menos escolarizados, temos observado ganhos de rendimento. Este padrão se repete nas regiões brasileiras. No Nordeste e Sudeste, o grupo com ensino superior completo registrou uma queda em relação ao final de 2019 mais expressiva: 10,9% e 9,5%, respectivamente.
Gráfico 6: Variação do rendimento habitual em relação ao observado no 4º trimestre de 2019, por nível educacional. Brasil e regiões
Fonte: Elaboração FGV IBRE com dados da Pnad Contínua (IBGE).
Os dados apresentados neste artigo mostram que o mercado de trabalho continua apresentando bom desempenho. Em particular, a taxa de desemprego tem mostrado sinais de queda e o número de ocupados tem avançado, mesmo que em ritmo mais lento do que o observado no passado. Contudo, a taxa de participação ainda se encontra abaixo do observado no pré-pandemia, principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Por último, apesar do rendimento ter superado o nível pré-pandemia (4º trimestre de 2019) para o agregado da população ocupada, se mantém abaixo no caso dos trabalhadores com ensino superior completo.
Esta é a Seção Em Foco do Boletim Macro Ibre de Dezembro de 2023.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV
[1] A taxa de participação, que corresponde à razão entre o número de pessoas na força de trabalho, que engloba tanto os ocupados quanto os desocupados, e o número de pessoas em idade para trabalhar, mostra o quanto as pessoas estão ofertando de trabalho.
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