Cenários

Expectativas de compras no Dia das Crianças permanecem baixas em 2024

11 out 2024

Análise do FGV IBRE sobre intenções de compra de presentes no Dia das Crianças revela menor disposição para gastar na data. A preferência por brinquedos caiu, com maior diversificação dos tipos de presentes, incluindo vestuário, livros e dinheiro.

Em setembro de 2024, o FGV IBRE voltou a consultar os consumidores brasileiros sobre suas intenções de compra de presentes para o Dia das Crianças. Esse quesito anual da Sondagem do Consumidor foi realizado de forma contínua entre 2006 e 2019, tendo sido interrompido durante a pandemia de covid-19, quando outras questões ganharam maior relevância. A enquete atual obteve três principais informações: i) previsões de gastos com presentes em comparação com o ano anterior; ii) expectativas quanto ao valor médio dos presentes e; iii) tipos de presentes escolhido.

O indicador que mede o ímpeto de gastos com presentes para o Dia das Crianças recuou 1,6 ponto entre 2019 e 2024, ao passar de 77,6 para 76,0 pontos. Apesar do quadro mais favorável de emprego e renda em 2024, a intenção de gastos com presentes no dia das crianças permanece fraco, com o indicador se mantendo abaixo dos 100 pontos, sinalizando que muitos consumidores pretendem gastar pouco na data comemorativa.

Gráfico 1 - Indicador de Ímpeto de Compras no Dia das Crianças
(Indicador[1] em pontos percentuais):


Fonte: FGV / IBRE

O resultado é explicado pelo aumento da parcela dos respondentes prevendo gastar menos que no ano anterior, que passou de 28,7% para 33,1% do total. Apesar de menos expressivo, e consequentemente com menor influência no resultado, houve também um aumento na parcela de respondentes que pretendem gastar mais, de 6,3% para 9,1%. Essa nova distribuição permitiu que o indicador se mantivesse em um nível semelhante ao observado em 2019.

O resultado de 2024 mantém a tendência observada entre 2015 e 2019, período em que o ímpeto médio de gastos no Dia das Crianças foi significativamente inferior à média dos nove anos anteriores. Um dos principais fatores que parecem influenciar essa postura cautelosa dos consumidores é a percepção desfavorável das famílias. O gráfico abaixo ilustra este fato, ao mostrar que o Indicador de Situação Financeira das Famílias segue em nível inferior aos 100 pontos, indicando haver mais pessoas avaliando a situação financeira de sua família como ruim do que boa.

Este quadro tem se alterado pouco desde 2015, quando o Brasil enfrentava crise econômica, institucional e política. A partir de 2016, houve sinais de recuperação do indicador, mas a pandemia interrompeu essa trajetória de melhora. Desde então, apesar da recuperação do mercado de trabalho, o indicador segue em patamar desfavorável. A manutenção de níveis historicamente elevados de endividamento e inadimplência das famílias pode estar contribuindo para esse resultado.

Além disso, é possível que o recente avanço do mercado de apostas esportivas no Brasil - como uma opção de lazer e gastos ao consumidor - esteja impactando o nível de endividamento das famílias, além de afetar o consumo e poupança e podendo evoluir para um problema de saúde pública no país.

Intenção de Compras no Dia das Crianças por faixa de renda

A evolução da intenção de compras ocorre de maneira heterogênea nas faixas de renda em 2024, com melhora para os consumidores com renda mensal até R$ 2.100,00, que elevaram seu indicador de 69,4 para 72,3 pontos, o maior nível em 10 anos, e para os consumidores de maior poder aquisitivo, com renda acima de R$ 9.600,01, que reduziram suas expectativas, levando o indicador a passar de 88,3 para 85,7 pontos, indicando que ainda há mais consumidores prevendo gastar menos em relação ao ano anterior do que aqueles que pretendem gastar mais.

A melhora na intenção de compras para esta data comemorativa entre as faixas de renda mais baixas reflete o aumento do emprego e as políticas de redistribuição de renda, permitindo que esses consumidores tenham uma renda maior e, consequentemente, maior poder de consumo. Este impacto aparentemente supera o aumento dos níveis de endividamento e inadimplência nestas faixas de renda.

Indicador de Intenção de Compras no Dia das Crianças por faixa de renda
 (Respostas favoráveis- desfavoráveis +100, em pontos percentuais)

Indicador

Até R$ 2,1 mil

Entre R$ 2,1 mil e R4 4,8 mil

Entre R$ 4,8 mil e R$ 9,6 mil

Acima de R$ 9,6 mil

2007

94,8

88,9

93,2

95,4

2008

94,6

88,7

87,1

99,9

2009

73,3

80,4

97,2

94,7

2010

79,0

85,6

93,3

100,1

2011

90,2

98,4

101,4

110,9

2012

98,3

97,0

96,8

98,0

2013

91,7

101,4

92,6

102,3

2014

73,0

89,8

84,2

93,0

2015

57,4

57,8

65,9

68,9

2016

43,6

57,1

62,1

73,0

2017

47,5

56,4

69,3

82,0

2019

69,4

74,2

76,5

88,3

2024

72,3

66,6

78,5

85,7

Fonte: FGV/IBRE
 
Presentes de Dia das Crianças: Quanto e o que os pais estão comprando?

Em 2024, além do menor ímpeto de compras, houve redução de 17,2% no valor médio dos presentes em relação a 2019, em termos reais[2]. Em média, os consumidores pretendem gastar R$ 96,68, sendo menor para as famílias de menor poder aquisitivo (R$58) e superior para as de maior (R$ 148).

Além disso, em termos históricos, há uma clara tendência de queda para as faixas de menor poder aquisitivo, desde 2011, e uma queda menos acentuada para as famílias com renda entre R$ 4,8 mil e R$ 9,6 mil. Já para a faixa de renda mais alta, houve forte recuperação em 2015 e queda em menor ritmo do valor médio dos presentes. Isso ocorre porque famílias de maior renda tendem a ter mais reservas financeiras e investimentos diversificados, melhor acesso a crédito e menor impacto do desemprego, o que lhes permite ter maior resiliência econômica.

Gráfico 2 - Qual a faixa média de preço(s) do(s) presente(s)?
(em R$, a preços constantes de setembro de 2024, corrigidos pelo IPCA-15).


Fonte: FGV / IBRE

Como de costume, os brinquedos e jogos continuam a liderar a preferência dos consumidores para esta ocasião, com 37,9% das citações. No entanto, essa categoria registrou uma queda significativa de 17,0 pontos percentuais em relação à intenção de compra de 2019, quando alcançava 54,9%. Entre os itens mais citados, vestuário e acessórios tiveram 27,4% das indicações, acréscimo de 3,3 pontos percentuais, enquanto os livros foram mencionados por 12,0% dos consumidores, atingindo o dobro da participação registrada em 2019. A escolha por presentear com dinheiro ganhou espaço, atingindo uma parcela de 7,9% enquanto a categoria de eletrônicos, por sua vez, manteve uma participação semelhante, em 4,7%.

A nova distribuição de presentes reflete uma maior diversificação dos itens, possibilitando ao comércio impulsionar a busca por novos fornecedores e ampliar a oferta de produtos, ajudando a aquecer diferentes segmentos do mercado. Além disso, a maior presença de categorias como vestuário e acessórios, assim como o crescimento da preferência por livros e dinheiro, sugere uma mudança nos hábitos de consumo no pós-pandemia.

Tipo de Presente 
(em % do total)

Tipo de presente

2016

2017

2019

2024

Brinquedos e jogos

56,30%

60,00%

54,90%

37,90%

Vestuário e acessórios

26,30%

24,50%

24,10%

27,40%

Livros

5,40%

5,40%

5,30%

12,00%

Dinheiro

2,80%

2,00%

2,50%

7,90%

Eletrônico

1,60%

1,80%

4,00%

4,70%

Lembrança

1,40%

1,40%

1,10%

-

Serviços de lazer

-

-

-

4,60%

Outros

6,20%

4,90%

8,10%

5,50%

Fonte: FGV / IBRE


[1] Indicador é medido pela diferença entre a proporção de respostas favoráveis e desfavoráveis + 100, em pontos percentuais.

[2] Valores a preços constantes de setembro de 2024 pelo IPCA-15 (IBGE).

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

 

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