O comércio exterior por regiões e Estados brasileiros

Corrente de comércio foi de US$ 600 bilhões em 2024, com China, EUA e Argentina representando 44% do total. Nas exportações, soja em grão, petróleo e minério de ferro corresponderam a, respectivamente, 12,7%, 13,3% e 8,9%.
Introdução
A base de dados do Indicador do Comércio Exterior[1] (ICOMEX-FGV) possibilita que se descreva detalhadamente a evolução do comércio exterior do Brasil nos últimos 28 anos. Possibilita, adicionalmente, descrever essa evolução em termos regionais e estaduais e essa evolução associada aos mercados internacionais. Em texto anterior “O Comércio Exterior do Brasil (1997-2024)” cujos principais resultados estão abaixo, descreveu-se como se transformou a corrente de comércio brasileira. Aqui, descreve-se as movimentações de mercadorias de cada região e dos estados. Inicia-se com os resultados das exportações vindas dos nossos três principais parceiros por categorias de usos e por regiões e estados. A seguir, de forma análoga, examinam-se as importações.
Principais resultados do Brasil
- A corrente de comércio brasileira (exortações + importações) alcançou 600 bilhões de dólares em 2024;
- China, Estados Unidos e Argentina representaram 44% da corrente de comércio brasileira em 2024;
- Brasil é superavitário nas trocas com Argentina e China, mas desde 2009, deficitário com os Estados Unidos.
- Em 2024, 75% dos bens exportados pelo Brasil eram bens intermediários que são compostos por 42% de bens originários na indústria de transformação, 26% da agropecuária e 32% relativos a extrativa mineral.
- Desagregando por produtos destacam-se como principais produtos exportados, em 2024: soja em grão, petróleo e minério de ferro que corresponderam, respectivamente, a 12,7%, 13,3% e 8,9% das exportações totais;
- Os principais produtos importados em 2024 foram: petróleo, óleo diesel, produtos intermediários para adubos e fertilizantes, outros produtos químicos orgânicos, material eletrônico básico, peças e acessórios para veículos automotores e aeronaves – todos classificados como bens intermediários;
- Em 2024, 28% das exportações brasileiras foram destinadas a China; destaca-se a exportação de soja em grão, petróleo e minério de ferro.
- Em 2024, 24% das importações brasileiras foram provenientes da China; destaca-se a importação de outros produtos químicos e orgânicos, material eletrônico básico e automóveis, camionetas e utilitários.
Resultados por regiões e Estados
Exportações por regiões, estados e categorias de uso
As exportações, assim como as atividades econômicas brasileiras, são bastante concentradas. Como foi visto, em texto anterior, as exportações brasileiras para nossos três principais parceiros somam 44%. Por região, o Gráfico 1 abaixo mostra que essa concentração se repete: a região sudeste foi responsável em 2024 por 51% das exportações brasileiras. Até 2013 esse resultado era de 57%, em média, um claro recuo após a recessão de 2014-16.
O recuo também ocorreu para a região sul embora em época e dimensão diferentes: no primeiro momento recuou em 2005 para 22% e posteriormente para 19% em 2012, teve breve recuperação e cai para 17% em 2024. As demais regiões foram beneficiadas por esses recuos: há uma clara reação da região centro-oeste que sai de 3% em 1997 para 15% em 2024. Entretanto, as regiões Norte e Nordeste permanecem durante toda a série com exportação de 8% em média.
O estado com maior destaque das exportações é São Paulo responsável em 2024 por 22%, caindo de 35% em 1997; em seguida desponta o Rio de Janeiro que cresceu de 3% em 1997 para 14%. Chama a atenção o resultado do Paraná e do Rio Grande do Sul que perdem participação. Por sua vez, a região Centro-Oeste aumenta sua participação graças a Mato Grosso e Goiás. Os produtos exportados são, na sua maioria bens intermediários, com participação média de 70%, tendo aumentado dos anos 1990 de 66% para 77%, em média, nos anos 2020.
O Gráfico 2 mostra essa evolução das exportações por categorias de usos. Os bens de consumo duráveis reduzem sua participação de 5% na média dos 3 últimos anos de 1990, para 2% na média dos 5 anos dos anos 2020. Os bens de capital também tiveram reduzida sua participação nas exportações de 10% entre os 3 últimos anos de 1990 para 5% na média dos 5 anos dos anos 2020.
É razoável supor que a globalização, movimento que o Brasil está inserido, tenha aumentado nossas exportações de bens intermediários que participam da cadeia produtiva de nossos parceiros comerciais. Em contrapartida os bens finais perdem peso. Perdem também peso nossas exportações de bens de capital, que perdem espaço, provavelmente, para bens de capital mais tecnológicos importados por nossos parceiros comerciais.
Por regiões as exportações dos bens intermediários (Gráfico 3) se faz principalmente da região sudeste, cuja participação se reduz da média de 55% em 1997-2012 para 48% no de período de 2013 em diante. Essa perda se deu principalmente em São Paulo que reduziu sua participação de 28% para 14%. Cabe chamar atenção do ganho da região Centro-Oeste entre 1997 e 2024, que saiu de 5% para 17% do total de exportações de bens intermediários – o estado do Mato Grosso foi o principal responsável por esse ganho de participação.
As exportações da indústria de transformação comparativamente ao total das exportações, se reduzem de 83% nos três últimos anos dos anos 1990 para 55% nos cinco primeiros anos dos anos 2020. Isto se deve principalmente à queda da região Sudeste, principalmente São Paulo que cai, no mesmo período, de 42% para 33%. Cabe destacar também o ganho de participação da região Centro-Oeste, que sai de 2% em 1997 para 12% em 2024 – principalmente devido ao crescimento das exportações provenientes do Mato Grosso.
Os principais mercados parceiros, que são destino de nossas exportações, como visto anteriormente, são China, Estados Unidos e Argentina, para aonde são escoadas, em média, 47% de nossas exportações, sendo que 26% são para a China. O Gráfico 4 mostra uma dinâmica idêntica para as exportações de bens intermediários da região sudeste, nossa principal região exportadora. Isto, no entanto, nem sempre foi assim; de fato, nosso principal destino até o ano de 2009 era o Estados Unidos; a partir daí a China torna-se preponderante.
Esse período de mudança de destino foi também um período de redução de nossas exportações, provavelmente associada a crise financeira de 2008-2009 que se prolongou até 2015, para estes parceiros e para os demais países importantes. Preponderavam naquela época os países da comunidade europeia e na Ásia, o Japão.
Panorama geral das exportações
Em termos gerais, a comparação entre 1997 e 2024 apresentou algumas mudanças na participação das regiões no comércio exterior.
No que tange as exportações, a região sul perdeu participação, enquanto o Centro-Oeste aumentou sua participação. As regiões Norte e Nordeste apresentam certa estabilidade. A região Sudeste, responsável por metade das exportações brasileiras perdeu participação, apesar de continuar sendo a principal região exportadora do país.
No Centro-Oeste, as principais exportações são referentes a produtos da agropecuária, com Mato Grosso sendo o principal Estado exportador – responsável por 25% do total de exportações de produtos agropecuários em 2024.
A região Sul se destaca pela exportação de produtos semiduráveis, sendo 45% dos exportados em 2024 provenientes do Rio Grande do Sul.
Os produtos exportados da extrativa são concentrados em duas regiões – Sudeste e Norte. No caso do Sudeste as exportações de produtos da extrativa respondem a 75% do total desse produto em 2024, devido principalmente ao Rio de Janeiro (48%). A Região Norte responde por 22% das exportações desse produto, provenientes majoritariamente do Pará.
As exportações de bens de capital e de produtos da indústria de transformação são concentradas no eixo Sudeste-Sul, responsáveis por 98% dessas exportações em 2024. Cabe notar que somente o Estado de São Paulo exportou 61% desses produtos em 2024.
Importações por regiões, estados e categorias de uso
Como foi visto, em texto anterior, as importações brasileiras vindas de nossos três principais parceiros somaram 45% em 2024. O total não muda muito durante os últimos 28 anos, mas a composição muda: a China passa a ser nosso principal parceiro de importações a partir de 2012 como mostra o Gráfico 5.
Por categoria de uso, o Gráfico 6 mostra que a maior parcela de nossas importações é de bens intermediários, que nos três últimos anos dos anos 1990 era de 64% e passa a ser, na média dos 5 anos dos anos 2020, de 72%, chamando a atenção da participação do Brasil na cadeia de produção internacional. A composição das categorias de usos em termos dos bens de consumo final e bens de capital não se altera significativamente.
Por região, o Gráfico 8 abaixo mostra que a região sudeste é a principal importadora para produtos originários nos nossos três principais mercados, mas que perde participação de 70% para 50% ao longo dos anos. Em contrapartida a região sul aumenta sua participação de 14% para 25%, bem como a região nordeste que aumenta a sua participação de 7% para 11%.
As importações provenientes da China tem sido de cerca 60% de bens intermediários e cerca de 20% de bens de capital, sem muita alteração ao longo dos anos, como ilustra o Gráfico 9, abaixo. Não são proeminentes os bens de consumo, que permanecem estáveis durante todo o período.
As importações vindas dos EUA têm sido de bens intermediários de quase 90% nos últimos 5 anos, superiores aos 65% observados no fim dos anos 1990, enquanto a importação de bens de capital se reduziu dos cerca de 30% no fim dos anos 1990 para cerca de 12% nos últimos 5 anos.
As importações originárias da Argentina passaram a ser fortemente compostas por bens de consumo enquanto os bens intermediários tiveram sua participação dos 30% dos anos iniciais para 25 dos anos finais da série
Panorama geral das importações
Por fim, cabe apresentar um panorama geral das importações brasileiras por região e como esta se modificou nos útimos 28 anos.
No que tange ao total das importações, a região Sudeste permanece sendo a principal importadora mas com queda significativa de participação com relação as outras regiões, sendo responsável por 70% das importações em 1997 e, atualmente em 2024, por 51%. Em contrapartida, a despeito da região Norte, as demais regiões tiveram aumento de participação no volume importado, com destaque para região Sul que atualmente é responsável por 25% das importações brasileiras, ante a 14% em 1997.
Em praticamente todas as categorias de uso a região Sudeste se destaca no volume importado com relação as outras regiões, principalmente no que tange a importação de bens de capital (61%), bens duráveis (56%), bens não duráveis (55%), não commodities (53%) e produtos da transformação (52%) – percentuais referentes ao ano de 2024.
A importação de produtos semiduráveis é bem distribuída entre as regiões Sudeste (38%), Sul (34%) e Norte (22%). A importação de produtos da extrativa também tem distribuição mais equitativa entre as regiões, com a região Sudeste importando 42%, a região Sul 16% e região Nordeste 33%. Por sua vez, a importação de produtos da agropecuária é 41% relativa a região Sudeste, 35% a região Sul e 18% a região Nordeste.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
[1] O ICOMEX é um indicador realizado pelo IBRE-FGV e utiliza como fonte principal os dados da SECEX.
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