Cenários

Brasil registra pior agosto para empregos formais em cinco anos

16 out 2025

Vagas formais recuam 38,4% em ago/25 em relação a ago/24, o pior resultado para o mês desde 2020. Setores exportadores, como agroindústria e siderurgia tiveram retrações significativas.

Nesta edição, o desempenho do mercado de trabalho formal em agosto de 2025 é analisado a partir dos dados do Novo CAGED. O mês registrou criação líquida de 147.358 postos, resultado de 2.239.895 admissões e 2.092.537 desligamentos, número abaixo da mediana das expectativas do mercado (184 mil vagas). O saldo confirma a continuidade da retração observada nos últimos meses, ficando 38,4% abaixo do registrado em agosto de 2024 (239.069 vagas) e 33,0% inferior ao de agosto de 2023 (219.790 vagas). Trata-se do menor resultado para o mês na série do Novo CAGED, iniciada em janeiro de 2020.

No acumulado dos oito primeiros meses de 2025, o saldo de empregos formais alcançou 1.501.930 postos, provenientes de 18.447.724 admissões e 16.945.794 desligamentos. Embora represente queda de 13,8% em relação ao mesmo período de 2024 (1.742.664 vagas), o resultado mantém-se positivo frente a 2023, superando em 7,8% o saldo acumulado daquele ano (1.393.543 vagas).

Fonte: Elaboração das autoras com base nos microdados do Novo CAGED. Dados com ajustes declarados até agosto de 2025.

Em agosto de 2025, conforme mostrado na Tabela 1, o saldo de empregos formais foi positivo em todos os setores, exceto na agropecuária, que registrou -2.665 postos. Apenas a construção apresentou crescimento em relação a agosto de 2024 (+25,5%), enquanto os demais setores tiveram retração: agropecuária (-230,3%), indústria (-64,2%), comércio (-34,9%) e serviços (-32,4%).

No acumulado de janeiro a agosto de 2025, somente a agropecuária manteve expansão (+26,8%) frente ao mesmo período de 2024. Os demais setores apresentaram queda: construção (-9,4%), comércio (-12,9%), serviços (-16,0%) e indústria (-21,1%). Destaca-se, contudo, que apesar do resultado positivo em agosto, a construção registrou o menor saldo para esse período desde 2021 e foi o único setor com retração não apenas em relação a 2024, mas também frente a 2023 (-12,6%).

Fonte: Elaboração das autoras com os microdados do Novo CAGED. Dados com ajustes até agosto/2025. No total tem os não identificados.

A Tabela 2 apresenta as dez divisões da Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) que registraram as maiores quedas percentuais no saldo de empregos formais entre julho e agosto de 2025, mês marcado pelo início das novas tarifas dos EUA ao Brasil. Observam-se quedas expressivas em setores altamente sensíveis às medidas tarifárias, especialmente na fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos, que teve uma redução drástica no saldo. Outros setores tradicionais, como produção florestal, metalurgia e fabricação de produtos de madeira, também enfrentaram retrações severas, com quedas percentuais acima de 400%, o que sugere alguma relação com as novas barreiras comerciais, além do contexto de taxa de juros elevada.

Fonte: Elaboração das autoras com os microdados do Novo CAGED. Dados com ajustes até agosto/2025.

No segmento agroindustrial, o setor “Agricultura, pecuária e serviços relacionados” também teve saldo negativo expressivo de -2.005 vagas, revertendo o saldo fortemente positivo de julho, o que reforça o efeito adverso sobre as cadeias produtivas agrícolas ligadas à exportação. Setores de serviços de apoio, como “Seleção, agenciamento e locação de mão de obra” e “Correio e outras atividades de entrega”, registraram quedas significativas, o que pode refletir efeitos indiretos da retração econômica promovida pelas tarifas. Em resumo, a tabela evidencia que a imposição das tarifas afetou de forma mais intensa os setores com maior ligação às exportações para os EUA, especialmente as cadeias produtivas da agroindústria, siderurgia e indústrias tradicionais, que sofreram quedas drásticas no emprego formal em agosto de 2025.

As demissões a pedido são tradicionalmente consideradas um indicador relevante do aquecimento do mercado de trabalho, pois refletem maior confiança dos trabalhadores em encontrar novas oportunidades. Conforme mostrado no Gráfico 2, a série mensal dessas demissões entre janeiro de 2021 e agosto de 2025, assim como sua participação no total de desligamentos, revela esse padrão. Em agosto de 2025, houve 766.853 demissões a pedido, uma leve queda de 2,3% em relação a julho, enquanto a participação no total de desligamentos recuou de 36,8% para 36,6%. Outro dado importante é o acumulado de demissões a pedido nos últimos 12 meses, que atingiu 9.052.991 em agosto de 2025. Embora essa série mostre crescimento contínuo desde seu início, recentemente a velocidade desse crescimento tem diminuído, passando de 1,3% em janeiro para apenas 0,1% em agosto. Apesar do volume e da proporção ainda elevados, essa desaceleração sugere que o movimento de troca voluntária de emprego pode estar perdendo força após os picos observados nos primeiros meses de 2025.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.  

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