Os preços dos alimentos salvaram a inflação de 2025

Apesar da boa notícia, as quedas recentes dos alimentos ainda são discretas se comparadas ao aumento acumulado desde 2020. Entre janeiro de 2020 e novembro de 2025, os preços dos alimentos subiram 57%, enquanto o IPCA avançou 38% no mesmo período.
Os preços dos alimentos começaram a ceder. Segundo o IPCA do IBGE, esse grupo acumula seis meses consecutivos de queda, com recuo de 2,69% entre junho e novembro de 2025. Esse movimento tem levado a revisões das projeções de inflação para 2025. A boa safra e a valorização do real frente ao dólar são, muito provavelmente, os principais vetores desse alívio nas pressões inflacionárias sobre os alimentos. Como o grupo alimentação responde por cerca de 20% das despesas familiares, a desaceleração desse segmento também contribuiu de forma relevante para moderar a inflação média.
Do ponto de vista do consumidor, porém, o quadro é menos confortável do que sugerem os índices. Apesar da boa notícia, as quedas recentes ainda são discretas quando comparadas ao aumento acumulado desde 2020. Entre janeiro de 2020 e novembro de 2025, os preços dos alimentos subiram 57%, enquanto o IPCA avançou 38% no mesmo período. A diferença de quase 20 pontos percentuais fez com que os alimentos passassem a ocupar um espaço maior no orçamento das famílias, que precisaram reduzir o consumo de outros bens e serviços para manter a alimentação. Na prática, isso aumentou o peso dos alimentos no custo de vida e ampliou sua influência sobre a inflação média.
Evolução da taxa em 12 meses do IPCA e da Alimentação no Domicílio

Fonte: IPCA IBGE
Por isso, para que as famílias percebam de forma mais clara um alívio no orçamento, os preços dos alimentos precisariam recuar por mais tempo e com maior intensidade. Esse processo, no entanto, depende de condições climáticas e cambiais favoráveis para garantir alguma estabilidade na oferta. A maior frequência de fenômenos como El Niño e La Niña — que alteram o fluxo e a distribuição das chuvas — torna mais difícil prever a regularidade da produção agrícola. A oferta precisa crescer para que os preços continuem recuando, mas, diante desse quadro climático mais instável, não há garantia de que essa trajetória será linear. Caso novos eventos climáticos adversos ocorram, a fase de queda dos preços pode ser interrompida e voltar a pressionar a inflação.
A política monetária tem alcance limitado sobre a trajetória dos preços dos alimentos, pois o mecanismo de transmissão acaba tendo maior peso pelo canal do câmbio, que influencia cotações de commodities e insumos agrícolas, mas é um canal de transmissão sujeito a choques de curto prazo, que tendem a gerar volatilidade nos preços. Com isso, temos que a demanda por esse tipo de bem não se altera de forma significativa no curto prazo com mudanças na taxa de juros, o que reduz a capacidade do Banco Central de influenciar esse segmento por meio da elevação ou redução da Selic. Em alimentos, a inflação só retrocede de maneira mais consistente quando a oferta e a produtividade aumentam. Se a produção não avança, os preços tendem a se estabilizar em patamares elevados ou mesmo voltar a subir.
As medidas capazes de ampliar a oferta são, em geral, de longo prazo. Investimentos em transporte por cabotagem, melhoria da infraestrutura logística, desenvolvimento de sementes mais resistentes às variações climáticas e de defensivos agrícolas mais eficientes no combate a pragas são alguns exemplos de iniciativas que podem contribuir para uma oferta mais estável de alimentos. Maior previsibilidade na produção ajuda a reduzir a volatilidade dos preços, o que, por sua vez, favorece a queda da inflação e contribui para diminuir a insegurança alimentar no país.
A tarefa, contudo, está longe de ser trivial. O sucesso dessa agenda depende da combinação de políticas públicas consistentes, investimentos privados e de um ambiente climático menos adverso. Safras malsucedidas não apenas encarecem a alimentação e pressionam a inflação, como também reduzem o PIB, dada a relevância do agronegócio para a economia brasileira. Em outras palavras, a trajetória dos preços dos alimentos seguirá sendo um dos pontos-chave tanto para a dinâmica da inflação quanto para o desempenho da atividade econômica nos próximos anos.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva dos autores, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.










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