Energia
Meio Ambiente

O dilema da Margem Equatorial

29 dez 2025

Explorar a nova província petrolífera não atenta contra a descarbonização, mas uso correto de recursos deveria ser mais bem debatido. Há evidências de mau uso de recursos do petróleo por Estados e municípios produtores e confrontantes.

Recentemente, foi dada a primeira autorização para que a Petrobras faça perfurações na Bacia da Foz do Amazonas, um dos blocos da Margem Equatorial (que se estende da costa do Rio Grande do Norte à do Amapá). Análises preliminares sugerem que a região como um todo pode ter reservas recuperáveis de cerca de 10 bilhões de barris de petróleo (6 bilhões somente na Bacia da Foz do Amazonas), com um valor bruto estimado de R$ 3,8 trilhões (considerando o Brent a US$ 70 e câmbio de R$ 5,40/US$). O custo de extração na região tende a ser muito baixo – a julgar pelo que tem sido observado na Guiana, em uma região petrolífera contígua à Margem Equatorial –, situando-se entre US$ 15 e US$ 30 o barril, mesmo se tratando de águas profundas.

Aquele montante de 10 bilhões de barris elevaria consideravelmente o volume atual de reservas oficiais provadas do Brasil, que está em quase 17 bilhões, e mitigaria uma redução expressiva da produção que deverá acontecer a partir da próxima década (refletindo o esgotamento das reservas atuais). No entanto, a exploração dessa nova fronteira tem suscitado diversas questões polêmicas, sobretudo aquelas ligadas à agenda de combate às mudanças climáticas e de preservação do meio ambiente.

E, como se verá na conclusão desta Carta, ao contrário do que ocorreu quando da descoberta do pré-sal (no final dos anos 2000), praticamente inexiste hoje o importante debate sobre o uso correto das eventuais receitas da Margem Equatorial, o que tem grandes implicações para as questões fiscal e de desenvolvimento econômico do Brasil.

Em relação ao tema ambiental, é fato que já se registram perdas econômicas globais crescentes causadas pelas mudanças climáticas geradas pelas emissões de gases de efeito estufa. De acordo com estimativas da Bloomberg/BNEF, essas perdas passaram de US$ 300-500 bilhões anuais há vinte anos para quase US$ 1,5 trilhão ao ano mais recentemente.

Vale lembrar que, hoje, o aquecimento médio global efetivamente observado já é de quase 1,5ºC em relação ao nível pré-industrial. Diversos estudos apontam que, se o aquecimento total caminhasse para perto de 4ºC até 2100, o prejuízo para o PIB global poderia ser superior a 20%. Mas os países já vêm implementando estratégias de mitigação (e de adaptação), e, hoje, o cenário mais provável é de que o aquecimento global atinja a faixa de 2,5-3ºC até o final do século.

Leia aqui a versão integral da Carta do IBRE de dezembro/2025.


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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