Entrevista: Marcos Nobre, pesquisador do Cebrap, para Revista Conjuntura Econômica
A incerteza do panorama eleitoral para 2018 é um fator preocupante que, na visão do cientista político Marcos Nobre, Professor de Filosofia Política da Unicamp, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), não terminará com ganhos para os que esperavam um processo de renovação política: "A eleição de 2018 não é para a sociedade se reconectar com o sistema político, mas para o sistema político sobreviver, da maneira que ele puder", diz. Leia parte da entrevista disponível na edição de maio da Revista Conjuntura Econômica.
Por Solange Monteiro, de São Paulo
O final de abril marcou os primeiros ensaios de configuração de alianças para a campanha presidencial, com as conversas entre Geraldo Alckmin e Michel Temer, e de Ciro Gomes e Fernando Haddad. É o fim da expectativa sobre algum elemento novo nestas eleições?
O bloqueio a qualquer coisa de novo já foi estabelecido na reforma eleitoral do ano passado. Ali é que se fechou a eleição para o novo, no momento em que se estabeleceu o financiamento público, e que são as cúpulas partidárias as que decidem o destino do recurso. Veja, mesmo com o financiamento exclusivamente público, se poderiam estabelecer regras para distribuição desses recursos dentro dos partidos. Mas a reforma eleitoral não quis regrar a atividade interna destes. Com isso, deu-se todo o poder às cúpulas partidárias para negociar o único recurso sólido existente na eleição.
Além disso, a reforma eleitoral não permitiu listas cívicas, conhecidas como candidatura independente. Sem esse tipo de candidatura, para poder se expressar, o candidato tem que se filiar a um partido existente e, no momento em que faz isso, está submetido ao poder das cúpulas partidárias. Ao fazer esse arranjo, automaticamente impediu-se o surgimento do novo, ou se colocou esse novo surgindo sem recurso, sem condições de disputa efetiva. Aí o que vemos são ondas – como a onda Doria, a onda Huck, agora a onda Joaquim Barbosa. Cada vez você tenta buscar alguém que representaria esse novo, mas na verdade ele está muito limitado.
Outro elemento importante é que, diferentemente das eleições de 1989, que são comparadas às deste ano pela aparente alta fragmentação, temos a máquina partidária de uma eleição geral. A eleição de 1989 era solteira, só para presidente. Numa eleição geral, são fundamentais os palanques estaduais, as alianças que os partidos fazem nacionalmente e as que são feitas localmente. É nesse momento em que as máquinas partidárias começam a funcionar. Hoje pode-se tecer loas às redes sociais, à internet, mas as máquinas partidárias são muito importantes para uma quantidade expressiva, diria esmagadoramente majoritária, dos votos. Porque é esse esquema do partido que tem o vereador, o prefeito, que por sua vez está ligado a um deputado, que está ligado a uma candidatura ao governo, que está ligado a uma candidatura presidencial, formando o sistema de busca de voto.
Já em comparação às demais eleições gerais, o que temos de novo é que está muito tarde para fechar alianças. Em qualquer das eleições gerais anteriores, a essa altura já sabíamos quem eram os candidatos e os palanques estaduais estavam quase montados. Esta eleição está muito atrasada.
Continue a ler a entrevista no site da Revista Conjuntura Econômica.
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