Entrevista: cientista político Carlos Pereira para Revista Conjuntura Econômica
Para o cientista político Carlos Pereira, o candidato vencedor das eleições presidenciais de 2018 será aquele que melhor encorpar três ideias-força: proteção, responsabilidade e limpeza: "Candidato vencedor em 2018 será aquele que melhor encorpar essas ideias-força: proteção, responsabilidade e limpeza". Leia parte da entrevista disponível na edição de junho da Revista Conjuntura Econômica.
Por Solange Monteiro
Conjuntura Econômica – Entramos no segundo semestre com as pesquisas indicando alto percentual de votos nulos, brancos e indecisos, além da concentração de intenção de voto em Lula – a princípio, inelegível. Qual sua interpretação desse cenário?
A campanha ainda está começando. Consequentemente, está sendo impactada por vários fatores que a tornam excepcional. O fato de Lula, por uma estratégia de sobrevivência individual, manter a esquerda refém da decisão da Justiça, faz com que os outros partidos de esquerda comecem a nutrir uma ambição legítima de se tornarem o novo PT, aquele capaz de aglutinar e ser o novo núcleo. Rede, PSOL, PDT, todos ambicionam ocupar esse espaço. O fato de o ex-presidente não ter uma visão partidária, altruísta, apontando um sucessor no dia em que foi preso, torna o cenário cheio de candidaturas de esquerda não competitivas. E num país desigual, com tanta pobreza, não ter uma candidatura de esquerda forte que chegue ao segundo turno, mesmo que derrotada, é muito ruim.
Mas Ciro Gomes (PDT) tem sido crítico ao PT...
É uma questão de estratégia dele, que considero equivocada. Mas ele adoraria ter o apoio do PT. Inclusive eu argumento que o Ciro só terá viabilidade eleitoral se tiver apoio do PT no primeiro turno. Caso contrário, tende a não decolar. Por quê? Pelo que sabemos, os elementos que geram sucesso eleitoral para um presidente são recursos de campanha, tempo de rádio e televisão, número de partidos coligados a esse candidato (que também está associado a tempo de rádio e TV e recursos de campanha) e a capilaridade do partido em território nacional, a rede de interesses locais que são nutridos pela estrutura do partido. E a distribuição de recursos é muito díspar. Os partidos de Marina e Bolsonaro terão em torno de R$ 15 milhões cada – o partido como um todo, as candidaturas presidenciais, menos – somando fundo eleitoral e partidário. O MDB sozinho tem R$ 315 milhões. O PT que é o segundo partido mais rico nessa campanha, tem R$ 301 milhões. E o PSDB cerca de R$ 290 milhões. Mas acho que o PT terá candidato de qualquer forma e não vai apoiar um candidato da esquerda no primeiro turno. Ele não abrirá mão dessa trajetória majoritária, e equivocadamente faz a análise de que Lula terá capacidade de transferir votos mesmo da cadeia. O que argumento, de acordo com as minhas pesquisas, é que mesmo eleitores ideologicamente congruentes com políticos corruptos tendem a abandonar esse político depois de condenação judicial. Então, quanto mais tempo o Lula ficar preso, mais incapaz de transferir votos será.
No caso da centro-direita, que também está fragmentada, já não vejo que essa estratégia de Lula cause o mesmo impacto, pois não acho que nenhum outro partido de centro ameace a condição de núcleo do PSDB. Os outros candidatos de centro tendem a retirar suas candidaturas em apoio a Geraldo Alckmin.
Qual estratégia que Alckmin deverá abraçar para manter esse status do PSDB como núcleo do centro e subir nas pesquisas de intenção de voto, superando sua baixa popularidade em nível nacional e o envolvimento de seu nome em denúncias da Lava Jato?
Se o Alckmin tiver algum rabo preso, é melhor que desista agora, pois será descoberto. O risco de ser pego hoje no Brasil é enorme, e o sentimento anticorrupção é a principal preocupação do brasileiro, e a maior entre países da América Latina. Logo, se Alckmin tiver algum problema a esconder, o risco da candidatura dele malograr e o centro ficar à deriva é enorme. Veja o caso do presidente Temer. Se o seu nome não tivesse sido bombardeado por dois meses seguidos devido à mala de dinheiro e à gravação da JBS, ele seria um candidato competitivo hoje, pois o governo reequilibrou a economia.
Há duas ideias-força que se fundiram ao sentimento anticorrupção. A primeira ainda é proteção social, a inclusão, pois vivemos em um país muito desigual, com muita pobreza, e não se pode prescindir de uma agenda vigorosa de políticas inclusivas. Além disso, o eleitor brasileiro, e principalmente a opinião pública que interfere no jogo, também identifica como outro pilar o equilíbrio macroeconômico, a responsabilidade fiscal, a responsabilidade com as contas públicas. Podem parecer pilares contraditórios, mas não são. O eleitor brasileiro precisa dessas coisas ao mesmo tempo: proteção, inclusão, e também de responsabilidade. Então acho que o candidato vencedor em 2018 será aquele que melhor encorpar essas ideias-força: proteção, responsabilidade e limpeza.
Continue a ler a entrevista no site da Revista Conjuntura Econômica.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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