Macroeconomia

Ainda em recessão, a construção recua para o nível de 10 anos atrás

28 ago 2019

Muito se tem comentado sobre a lenta retomada econômica após a última recessão brasileira. Apesar de o país estar em um período de expansão desde o 1º trimestre de 2017, este pode ser considerado o período de expansão mais fraco da história nacional, com crescimento de apenas 3,2%,[1] com as informações até o 1º trimestre de 2019.

No atual período expansivo chama atenção o desempenho da atividade de construção, que nunca havia se retraído em um período de expansão e que continua em recessão após mais de dois anos de finda a última recessão brasileira. O pico da série histórica ocorreu no 1º trimestre de 2014 e, desde então, a atividade está em declínio, tendo recuado 31% até o 1º trimestre de 2019, retornando assim a níveis de 2009, 10 anos atrás.

O fraco desempenho da construção, além de afetar o nível de atividade, pela ótica da oferta, também tem influenciado o fraco crescimento da formação bruta de capital fixo (FBCF). Com aproximadamente 50% de sua composição sendo de construção, os investimentos não estão crescendo a taxas mais robustas em grande parte pela queda dos investimentos em construção.

Na Tabela 1 é feita a análise da desagregação dos investimentos durante a última recessão e no atual período expansivo, de maneira a expor o papel da construção no desempenho dos investimentos.

Tabela 1 – Variação acumulada da FBCF durante as fases do último ciclo brasileiro[3]

Períodos

Períodos

Máquinas e equipamentos

Construção

Outros

FBCF

Do 2º trim. de 2014 ao 4º trim. de 2016

Recessão

-44,8

-22,8

-14,5

-30,1

 

Do 1º trim. de 2017 ao 1º trim. de 2019

Pós recessão

18,1

-2,8

-0,4

4,4

 

Do 2º trim. de 2014 ao 1º trim. de 2019

Período completo (20 trim.)

-34,8

-25,0

-14,8

-27,0

         Fonte: Elaboração própria a partir de informações do FGV IBRE (Monitor do PIB-FGV e CODACE) e do IBGE (CNT).
 
A recessão iniciada no 2º trimestre de 2014, representou uma perda acumulada de 30,1% da FBCF, no período. É possível observar que, 20 trimestres após iniciada a recessão, a FBCF ainda está 27,0% abaixo do nível pré-crise. Chama atenção que apenas o componente de máquinas e equipamentos cresceu no pós recessão, indicando assim que a FBCF só cresceu no atual período expansivo devido a este componente, que tem uma representatividade de 30%, aproximadamente, no total da FBCF.

Fica evidente que, para uma retomada mais robusta dos investimentos, é necessário que a construção cresça, a fim de destravar a economia. Em meio a uma crise fiscal preocupante, com uma relação dívida bruta/PIB próxima a 80% e incertezas com relação à aprovação de medidas para buscar solucionar os problemas macroeconômicos do país, a economia não tem conseguido reagir. Os investidores estão cautelosos com os investimentos e a economia não cresce a ponto de aquecer o mercado de trabalho e diminuir a taxa de desemprego, que está acima de dois dígitos desde o 1º trimestre de 2016. Além de impulsionar a atividade econômica, uma melhora na construção pode ter um impacto positivo no mercado de trabalho, tendo em vista ser uma atividade que emprega bastante.

 


[1] De acordo com as Contas Nacionais Trimestrais divulgadas pelo IBGE em 30/05/2019.

[3] Ajuste sazonal da FBCF realizado desde 1996 (CNT do IBGE), das desagregações desde 1980.

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