Macroeconomia

73% dos países do mundo devem apresentar, no biênio 2020/21, um resultado pior, em termos de crescimento econômico, do que na média 2009/10

26 mai 2020

Nesta crise do coronavírus, saber a dimensão da crise econômica ainda é muito difícil, dada as inúmeras incertezas. Tão difícil quanto saber de quanto será a recessão neste ano, é tentar estimar como será a recuperação da economia no ano que vem. Porém, recentemente, foi divulgado pelo FMI, na sua reunião semestral de abril, o World Economic Outlook, projeções para as taxas reais de crescimento do PIB, para 2020 e 2021, para quase 200 países.

Neste artigo, há comparações das projeções do biênio 2020/21, com base nas projeções do FMI, com o biênio 2009/10, do ano (2009) mais impactado pela crise financeira internacional[1] e o ano seguinte, de recuperação. Poderia ser calculada a média do triênio 2008/09/10 (crise de 2008 e 2009, e recuperação em 2010), porém, como em 2008, o PIB mundial cresceu 3,0% ainda, devido ao forte crescimento das economias emergentes,[2] foi estabelecido como critério de comparação os dois biênios.

O Gráfico 1 mostra as taxas médias reais de crescimento do PIB para 2009/10 e projeções para 2020/21, para as médias do mundo, economias emergentes e economias avançadas. Além desses principais grupos, também há dados para a zona do euro, G7[3] e América Latina e Caribe. Ao se olhar estes dados e projeções, para todos os agregados analisados, a crise atual, do coronavírus, e a sua recuperação no ano seguinte, deverá ser pior, em termos de crescimento econômico, do que a crise financeira internacional e a recuperação em 2010.[4]

Ao se analisar agora, individualmente, os 190 países da amostra com dados e projeções para 2020 e 2021, conclui-se que, no mundo, 73%[5] dos países devem apresentar, no biênio 2020/21, um resultado pior, em termos de crescimento econômico, do que na média de 2009 e 2010,[6] conforme mostra o Gráfico 2.  

Agora, focando no Brasil, cujo PIB ficou estagnado em 2009 (-0,1%), e cresceu 7,5% no ano seguinte. Com isso, a média do biênio foi de um crescimento de 3,6% a.a.. De acordo com as projeções do FMI, o PIB brasileiro deve recuar 5,3% neste ano, e crescer 2,9 em 2021 (média de -1,3% a.a.), em linha com as expetativas de mercado (boletim Focus), que indicam um PIB de -5,9% neste ano, e um crescimento de 3,5% para o próximo ano. Com isto, a média no biênio 2020/21 também seria de -1,3% a.a. (Gráfico 3).[7]

O Gráfico 4 mostra a proporção de países que apresentaram um resultado do PIB melhor do que o Brasil na média de 2009 e 2010, e como deve ser no biênio 2020/21, segundo as projeções do FMI e da Focus. No período da crise financeira internacional, e sua recuperação posterior, 35%[8] dos países do mundo apresentaram uma taxa superior à brasileira. Já na crise atual do coronavírus, e na recuperação no ano seguinte, 82%[9] dos países devem apresentar uma média de crescimento maior do que a brasileira, segundo as projeções tanto do FMI quanto da Focus.


Então, de acordo com estas projeções, na maior parte do mundo, e no Brasil em especial, o biênio da crise do coronavírus e a posterior recuperação, será pior, em termos de crescimento econômico, do que na última crise internacional e a recuperação do ano seguinte.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 


[1] Nos EUA, a recessão, segundo o NBER, foi de dezembro de 2007 até junho de 2009.

[2] 5,7%. Já as economias avançadas ficaram estagnadas (+0,2%).

[3] Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão e Reino Unido.

[4] Em 2009, o PIB mundial ficou estagnado (-0,1%), e cresceu 5,4% no ano seguinte. Já este ano, o FMI projeta um recuo do PIB do mundo de 3,0%, com um crescimento de 5,8% no ano que vem. Com isto, as médias foram 2,6% a.a. no primeiro biênio e será de 1,3% a.a. no segundo período. Para as economias avançadas, no biênio da última crise, o PIB caiu 3,3% e cresceu 3,1% depois. Já a queda de 2020 deve ser de 6,1%, com um crescimento de 4,5% em 2021. E as economias emergentes, que cresceram 2,8% em 2009 (menos do que a média histórica, de 4,3% na média 1980-2009, mas ainda sim um forte crescimento), e 7,4% em 2010, devem apresentar um recuo de 1,1% neste ano, com um crescimento de 6,6% no ano seguinte.

[5] 138, na amostra de 190.

[6] 69% (27 em 39) para as economias avançadas e 74% (111 em 151) para as emergentes. Na zona do euro, são 11 países em 19 (58%). Já na AL e Caribe, são 23 em 33 (70%).

[7] Segundo as projeções da Focus de 15/05/20, a média da taxa de crescimento do biênio 2020/2021 era de -1,0%. Com isso, 77% dos países deveriam apresentar uma média de crescimento maior do que o Brasil. Já com as projeções da Focus de 22/05/20, a média passou para -1,3%, e a proporção passou para 82%.

[8] 66 países, dentre a amostra de 190.

[9] 155 em 190.

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