Ainda em recessão, a construção recua para o nível de 10 anos atrás
Muito se tem comentado sobre a lenta retomada econômica após a última recessão brasileira. Apesar de o país estar em um período de expansão desde o 1º trimestre de 2017, este pode ser considerado o período de expansão mais fraco da história nacional, com crescimento de apenas 3,2%,[1] com as informações até o 1º trimestre de 2019.
No atual período expansivo chama atenção o desempenho da atividade de construção, que nunca havia se retraído em um período de expansão e que continua em recessão após mais de dois anos de finda a última recessão brasileira. O pico da série histórica ocorreu no 1º trimestre de 2014 e, desde então, a atividade está em declínio, tendo recuado 31% até o 1º trimestre de 2019, retornando assim a níveis de 2009, 10 anos atrás.
O fraco desempenho da construção, além de afetar o nível de atividade, pela ótica da oferta, também tem influenciado o fraco crescimento da formação bruta de capital fixo (FBCF). Com aproximadamente 50% de sua composição sendo de construção, os investimentos não estão crescendo a taxas mais robustas em grande parte pela queda dos investimentos em construção.
Na Tabela 1 é feita a análise da desagregação dos investimentos durante a última recessão e no atual período expansivo, de maneira a expor o papel da construção no desempenho dos investimentos.
Tabela 1 – Variação acumulada da FBCF durante as fases do último ciclo brasileiro[3]
Períodos |
Períodos |
Máquinas e equipamentos |
Construção |
Outros |
FBCF |
Do 2º trim. de 2014 ao 4º trim. de 2016 |
Recessão |
-44,8 |
-22,8 |
-14,5 |
-30,1 |
Do 1º trim. de 2017 ao 1º trim. de 2019 |
Pós recessão |
18,1 |
-2,8 |
-0,4 |
4,4 |
Do 2º trim. de 2014 ao 1º trim. de 2019 |
Período completo (20 trim.) |
-34,8 |
-25,0 |
-14,8 |
-27,0 |
Fica evidente que, para uma retomada mais robusta dos investimentos, é necessário que a construção cresça, a fim de destravar a economia. Em meio a uma crise fiscal preocupante, com uma relação dívida bruta/PIB próxima a 80% e incertezas com relação à aprovação de medidas para buscar solucionar os problemas macroeconômicos do país, a economia não tem conseguido reagir. Os investidores estão cautelosos com os investimentos e a economia não cresce a ponto de aquecer o mercado de trabalho e diminuir a taxa de desemprego, que está acima de dois dígitos desde o 1º trimestre de 2016. Além de impulsionar a atividade econômica, uma melhora na construção pode ter um impacto positivo no mercado de trabalho, tendo em vista ser uma atividade que emprega bastante.
[1] De acordo com as Contas Nacionais Trimestrais divulgadas pelo IBGE em 30/05/2019.
[2] Disponível em: http://hdl.handle.net/10438/17997
[3] Ajuste sazonal da FBCF realizado desde 1996 (CNT do IBGE), das desagregações desde 1980.
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