A aliança Lula-Alckmin: inovação política em nome da democracia
A aliança Lula-Alckmin pode vir a ser a grande inovação política brasileira desde que o país entrou em modo de crise permanente a partir de junho de 2013. A aliança pode ser o núcleo de grande coalizão democrática que pode vencer este ano e recuperar a governabilidade.
A aliança Lula-Alckmin tem o potencial de ser a grande inovação política brasileira desde que o país entrou em modo de crise permanente com a eclosão das jornadas de junho de 2013. Ela, a aliança, representa o núcleo de uma grande coalizão democrática que poderá não apenas vencer a disputa pelo Planalto em 2022, mas também dotar o novo governo de amplo respaldo parlamentar.
A grande coalizão deverá ir se formando aos poucos, ao longo de 2022 e começo de 2023 (caso se sagre vitoriosa em outubro), constituindo um arco que vai da centro-direita à esquerda. Se realmente se materializar, será o produto final de um árduo processo de negociação. Para que realmente mereça a designação de grande coalizão democrática, deverá incluir PT, PSB, PSOL, PCdoB, PDT, Cidadania, MDB, PSDB e PSD. Se a chapa Lula-Alckmin vencer, deverá também negociar com os principais partidos do Centrão.
Por que é uma inovação? Porque junta líderes de dois partidos de campos ideológicos distintos que passaram duas décadas se engalfinhando pela chefia do Poder Executivo, o PT, de centro-esquerda, e o PSDB, de centro-direita. Isso é inusitado, dado que a democracia tem como fundamento a competição eleitoral entre partidos com diferentes ideologias. Porém, há momentos em que a competição deve dar lugar à ativa cooperação interpartidária em prol da sobrevivência da própria democracia.
Sob Bolsonaro, a democracia passou a ser diretamente ameaçada pelo Palácio do Planalto. Ainda que o atual presidente tenha fracassado em seus intentos de subjugar os outros Poderes e rasgar a Constituição, o bolsonarismo continuará existindo mesmo se seu líder for derrotado em outubro. Justamente por não se saber com que força a extrema-direita bolsonarista emergirá das urnas, é indispensável que os partidos democráticos convirjam desde já para maximizar suas chances de vitória e dar a base política mais larga possível para um futuro presidente empenhado em revigorar a democracia, enfrentar uma dura crise econômica e social, e resgatar várias políticas públicas destruídas por Bolsonaro (meio ambiente, política externa, educação, cultura e ciência). Apenas a aliança Lula-Alckmin reúne tais condições. Doria, Moro e Ciro são desagregadores contumazes e com poucas chances de vitória. Poderiam atrair os partidos clientelistas, mas dificilmente formariam uma grande coalizão democrática.
Olhando para o médio prazo, um dos problemas da aliança Lula-Alckmin é a provável filiação de um democrata cristão como Alckmin ao Partido Socialista. Um político de centro-direita em um partido de centro-esquerda significa mais confusão em nosso já muito confuso sistema partidário. Idealmente, Alckmin deveria ter ido para o PSD (centro-direita) de Gilberto Kassab, para que, então, este partido fizesse um acordo com Lula. Todavia, tudo indica que Kassab só aceita negociar com Lula de uma posição um pouco mais forte, isto é, com seu partido tendo candidato presidencial próprio. Ou seja, Kassab e o PSD tendem a se juntar a Lula-Alckmin apenas no segundo turno. Isso acabou favorecendo a provável ida de Alckmin para o Partido Socialista, um passo esdrúxulo tipicamente brasileiro. Aí está um exemplo de como será sinuoso o caminho da grande coalizão democrática.
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[1] Ver “'O PSDB não é mais uma referência nacional', diz Aloysio Nunes”, Estado de São Paulo, 11/02/2022, disponível em https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,o-psdb-nao-e-mais-uma-referencia-nacional-diz-aloysio-nunes,70003975924.
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