Macroeconomia

BC reitera o seu compromisso com a meta de inflação

22 jun 2021

Uma vez iniciado o atual ciclo de alta da Selic, não foram poucos os que ficaram com dúvidas sobre a firmeza de propósito do BC. Contudo, as decisões tomadas no Copom de junho e os documentos oficiais que se seguiram deixam claro o compromisso com o cumprimento da meta.  

Em março último, ao dar início ao atual ciclo de alta da taxa Selic, o Banco Central sinalizou sua intenção de promover uma “normalização parcial” da política monetária. No entendimento das autoridades monetárias, a economia brasileira continuaria necessitando de estímulo monetário significativo, raciocínio equivalente a dizer que seria adequado continuar praticando uma taxa real de juros inferior à chamada taxa neutra, estimada em 3,0% ao ano.

Não faltou quem criticasse essa decisão, alegando-se tratar de uma sinalização “dovish”, supostamente reveladora de baixo apetite para promover o retorno da inflação à meta.

A nosso ver, o referido procedimento do BC precisa ser analisado em conjunto com a projeção oficial de inflação para o horizonte relevante da política monetária. Simultaneamente à sinalização de normalização parcial, o BC informou que, de acordo com o seu modelo básico, a inflação projetada para 2022 era de 3,6%, muito próximo, portanto, da meta para o período (3,5%). Como a referida projeção fora feita com base num caminho de juros que envolvia Selic a 4,5% em dezembro de 2021 (pesquisa Focus), era realmente possível concluir que talvez não fosse necessário eliminar todo o estímulo monetário para levar a inflação para a meta, em 2022.

De março para cá, os dirigentes do BC se empenharam em sinalizar que a comunicação relativa ao Copom daquele mês não estava “escrita em pedra”. A estratégia de política monetária dependeria da evolução dos acontecimentos. Ao mesmo tempo, os efeitos dos choques ganharam intensidade, a inflação corrente subiu, as expectativas inflacionárias pioraram, e a pesquisa Focus passou a revelar trajetória de Selic cada vez mais agressiva.

Chegamos ao Copom de junho com inflação corrente superior a 8,0%, em doze meses, em parte devido à base deprimida do ano passado, expectativa Focus de 3,8% para 2022, e taxa Selic atingindo 6,25% no final do corrente ano, e 6,5% no primeiro trimestre de 2022. Diante de tais números, não havia como manter nada parecido com normalização parcial. E foi exatamente isto o que o BC fez. A frase contida no novo comunicado, afirmando ser adequada “a normalização da taxa de juros para patamar considerado neutro”, não deixa dúvida.

O esclarecimento que se seguiu é importante: não há compromisso com essa posição. O verdadeiro compromisso parece ser com o cumprimento da meta de inflação.

Além de promover ajuste de 75 pontos na taxa Selic, o BC sinalizou novo movimento de mais 75 pontos para a reunião de agosto, acrescentando que, na hipótese de eventual deterioração adicional das expectativas de inflação, poderá haver “redução mais tempestiva dos estímulos monetários”. Desta forma, ficou aberta a possibilidade de aceleração do ritmo de alta da Selic.

Em síntese, o BC indicou intenção de levar o juro para o nível neutro, elevou novamente a Selic em 75 pontos, sinalizou novos 75 para agosto, e deixou claro que estará pronto para agir de maneira a levar a inflação para o objetivo oficial, na hipótese de as circunstâncias exigirem medidas monetárias mais severas. A ata da reunião reiterou as intenções da autoridade monetária com especial firmeza: “o compromisso inequívoco do Banco Central é com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e os passos futuros da política monetária são livremente ajustados com esse objetivo”. Se terá sucesso, ou não, impossível dizer, até porque não depende apenas do BC. Mas, pelo visto, empenho não faltará.


Este artigo é uma adaptação (incluindo observação sobre a ata da reunião de junho/21 do Copom, divulgada hoje, 22/6) da seção de Política Monetária do Boletim Macro Ibre de junho/2021.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.                                                                                                              

 

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fernando

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