Macroeconomia

Boa notícia: O final de 2019 marcou a volta do emprego formal e de qualidade

11 mar 2020

No quarto e último trimestre de 2019, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), trouxeram uma surpresa positiva. É que, desde a retomada da economia, iniciada em 2017, a geração de vagas no mercado de trabalho brasileiro vinha sendo puxada, principalmente, pelos postos informais. Porém, o quarto trimestre de 2019 marcou uma virada nessa tendência, dado que, no referido trimestre, a geração de empregos foi puxada, majoritariamente, pelas vagas formais.

Mais precisamente, foram gerados mais de 1 milhão e 800 mil empregos entre o quarto trimestre de 2018 e o mesmo período de 2019, sendo a grande maioria destes, cerca de 1 milhão e 100 mil, de natureza formal. A título de comparação, entre o terceiro trimestre de 2018 e o mesmo período de 2019, haviam sido gerados mais de 1 milhão e 400 mil empregos, sendo a grande maioria destes, cerca de 1 milhão, de natureza informal.

Logo, houve uma reviravolta no mercado de trabalho brasileiro em um período muito curto de tempo que foi a passagem do terceiro trimestre de 2019 para o quarto trimestre do mesmo ano. Nesses três meses, a geração de empregos que vinha sendo liderada majoritariamente pelos empregos informais passou a ser puxada pelos postos de trabalho formais.

Neste texto, procuro aprofundar o conhecimento sobre os empregos formais que foram gerados em 2019 (entre o quarto trimestre de 2018 e o mesmo período de 2019). Assim, o principal objetivo é compreender mais detalhadamente o perfil dos empregos formais gerados ao longo do ano de 2019 que, conforme já mencionado, foram criados majoritariamente no quarto trimestre do ano em questão.

São analisados os recortes dos empregos formais, criados no ano de 2019, segundo: (i) Escolaridade, (ii) Faixa de Renda, (iii) Setor, (iv) Faixa Etária, (v) Cor de Pele, (vi) Gênero e (vii) Região. Os números são apresentados abaixo.

Escolaridade

Os empregos formais gerados em 2019 demandaram, majoritariamente, trabalhadores com alto grau de qualificação (ver Figura 1). Mais precisamente, do total de aproximadamente 1 milhão e 100 mil vagas formais abertas em 2019, mais de 800 mil foram preenchidas por trabalhadores com Ensino Superior (Completo e Incompleto).

Faixa de Renda

Os postos de trabalho formais criados em 2019 ofereceram, geralmente, salários relativamente elevados para o padrão brasileiro (ver Figura 2). Especificamente, do total de cerca de 1 milhão e 100 mil vagas formais abertas em 2019, quase 900 mil pagavam o equivalente a mais de três salários mínimos.

Setor

As vagas formais abertas em 2019 estavam em setores com maior grau de sofisticação (ver Figura 3). Mais precisamente, dois dos três setores com maior geração de vagas em 2019 possuem elevado grau de sofisticação. Isto porque os três setores com maior geração de vagas em 2019 foram: (i) Serviços Tradicionais (aproximadamente +400 mil empregos), (ii) Serviços Modernos (cerca de +300 mil empregos) e (iii) Indústria (aproximadamente + 300 mil empregos). Destes três setores apenas o de Serviços Tradicionais possui baixo grau de sofisticação.

Faixa Etária

Os empregos formais gerados em 2019 demandaram trabalhadores com maior grau de experiência (ver Figura 4). Especificamente, do total de cerca de 1 milhão e 100 mil postos de trabalho criados em 2019, mais de 700 mil foram preenchidos por trabalhadores adultos (com idade entre 30 e 59 anos).

Cor de Pele

As vagas formais abertas em 2019 absorveram, principalmente, trabalhadores de cor de pele escura, isto é, pretos e pardos (ver Figura 5). Mais precisamente, do total de cerca de 1 milhão e 100 mil postos de trabalho criados em 2019, quase 900 mil foram preenchidos por trabalhadores de cor de pele escura.

 

Gênero

Os empregos formais criados em 2019 absorveram, em quantidades semelhantes, trabalhadores de sexo feminino e masculino (ver Figura 6). Isto porque do total de aproximadamente 1 milhão e 100 mil vagas abertas em 2019, quase 600 mil foram ocupadas por mulheres e mais de 500 mil foram preenchidas por homens.

Região

As vagas formais, criadas em 2019, ficaram geograficamente concentradas na Região Sudeste (Figura 7). Mais precisamente, do total de cerca de 1 milhão e 100 mil empregos criados em 2019 aproximadamente 700 mil ficaram localizados no Sudeste.

Conclusão

Em resumo, o presente texto deixa claro que o ano de 2019 marcou a volta do emprego formal de qualidade. Isto porque os postos formais criados no referido ano: (i) demandaram, em sua grande maioria, trabalhadores qualificados (com Ensino Superior Completo ou Incompleto), (ii) ofereceram, em geral, salários relativamente elevados para o padrão brasileiro (mais de três salários mínimos), (iii) estavam, principalmente, em setores com maior grau de sofisticação (Serviços Modernos e Indústria) e (iv) exigiam, majoritariamente, trabalhadores mais experientes (adultos com idade entre 30 e 59 anos).

Ademais, foi visto aqui que os empregos formais criados em 2019: (i) absorveram, principalmente, trabalhadores de cor de pele negra, (ii) demandaram, em quantidades semelhantes, profissionais de sexo feminino e masculino e (iii) ficaram geograficamente concentrados na Região Sudeste.

Resta saber se esse movimento positivo de geração de empregos formais de qualidade, iniciado ao final do ano de 2019, irá continuar ao longo de 2020. Infelizmente, os últimos acontecimentos, como a disseminação do novo coronavírus e a queda do preço do petróleo, tendem a prejudicar o desempenho do mercado de trabalho brasileiro, podendo frear, e até reverter, esse recente processo de retomada do emprego formal de qualidade.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV. 

 

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