Macroeconomia

Cenário bom para a inflação não é só no curto prazo

19 abr 2017

A expectativa do mercado para inflação de 2017 – segundo pesquisa Focus do Bacen – registrou recuo de 1 ponto percentual no primeiro trimestre, passando de 4,7% para 3,7%. Esse ajuste, promovido em curto espaço de tempo, foi o mais forte dos últimos 12 meses.

Motivação não falta para a construção de um cenário mais otimista para a inflação no curto prazo. Todos os indicadores que procuram captar a tendência dos preços – desconsiderando distúrbios temporários – só confirmam a desaceleração da inflação. 

A taxa em 12 meses do núcleo de inflação[i], por exemplo, registrou, até março de 2017, 14 desacelerações consecutivas, passando de 8,9%, em janeiro de 2016, para 5,6%, em março de 2017.

A mesma trajetória tem sido seguida pelo índice de difusão, que mede a proporção de itens com taxa de variação positiva: a média móvel trimestral deste indicador recuou durante todo o primeiro trimestre passando, de 60,05% para 53,35%.

Afora a destacada contribuição do clima para a desaceleração dos preços dos alimentos, os serviços livres, cujos preços apresentaram maior rigidez nos últimos anos, finalmente firmaram um ciclo mais convincente de desaceleração.

Embalados pelo avanço dos custos da mão de obra, dos aluguéis e das tarifas públicas, os serviços não mostravam sinais de desaceleração, respondendo por parte não desprezível da inflação registrada pelo IPCA.

No entanto, com o aprofundamento da recessão e seus desdobramentos sobre o mercado de trabalho, a taxa em 12 meses dos serviços livres inaugurou um ciclo de desaceleração que se estendeu por seis meses consecutivos, passando de 7,4%, em agosto de 2016, para 5,9% em fevereiro de 2017. 

Em março – última divulgação do IPCA –, a taxa em 12 meses dos serviços livres registrou leve aceleração passando de 5,9%, em fevereiro de 2017, para 6,1%, em março de 2017.

No entanto, segundo o Monitor da Inflação do IBRE, os preços dos serviços livres nos primeiros dez dias de abril já antecipam que a taxa em 12 meses poderá voltar a registrar desaceleração este mês, retornando ao patamar de fevereiro de 2017.

O mesmo destino está reservado para os serviços livres que são mais sensíveis ao ciclo econômico[ii]. Para estes, o Monitor da Inflação do IBRE também registra novo decréscimo da taxa em 12 meses, a qual poderá passar dos atuais 5,4% para 5,3%, em abril.

Pelo comportamento de tais indicadores, a política monetária não só contribuirá para o controle da inflação no curto prazo, como, também, reduzirá os efeitos da inércia e da indexação nos próximos anos, favorecendo o cumprimento da meta de inflação em prazos mais longos.

 

[i] Versão médias aparadas com suavização.

[ii] Para maiores detalhes ver “Inflação no setor de serviços” - Relatório de Inflação/Bacen - Set/16.

 

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

 

 

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