China: Debate começa a clarear
Tendo em vista o desempenho da economia chinesa no início de 2023, as sinalizações do governo e questões de fundo, esperamos que o PIB chinês avance 5,1% em 2023. O debate relevante sempre foi sobre intensidade da retomada.
Em 2022, a economia chinesa cresceu somente 3,0%. Excetuando o resultado de 2020, quando da eclosão da pandemia da Covid, o desempenho do PIB no ano passado foi o pior desde 1976 – aos que conhecem um pouco da história chinesa, ano da morte de Mao Zedong e de esgarçamento do ambiente social e político, com brigas entre facções do Partido Comunista Chinês lideradas, de um lado, por Hua Guofeng (maoísta radical e sucessor escolhido) e Deng Xiaoping (opositor reformista que viria a se tornar o líder do país ao final de 1978).
As notícias ruins do ano passado acabaram sendo aliviadas, aos olhos de muito analistas, pela mudança nas diretrizes sanitárias do combate à pandemia na China continental, em repentino abandono da política da “Covid-zero dinâmica” no início de dez/22. Seguiu-se um período conturbado, no que chamamos de “momento Manaus” da pandemia na China, mas, aos olhos do mercado, abria-se um futuro virtuoso: encerradas as medidas sanitárias draconianas, a economia chinesa voltaria ao ritmo de rápido crescimento a partir de 2023.
Antes de desenvolvermos esse ponto, é necessário dar dois passos para trás e analisar quatro questões que, em visão mais superficial, acabam por ser esquecidas. Em primeiro lugar, é importante ter em mente como foi o comportamento da economia chinesa desde a eclosão da pandemia da Covid até a supressão total das restrições sanitárias – ou seja, de 2020 até 2022. O gráfico abaixo traz essa informação, utilizando o dado oficial dessazonalizado.
Gráfico 1: PIB dessazonalizado (nível, dez/2010=100)
Fonte: NBS
Note-se que a economia chinesa registrou verdadeira “volta em V” em 2020, chegando até, ao final do ano, a ultrapassar a extrapolação da tendência anterior à emergência sanitária. A partir de 2021, no entanto, algo muda, com o crescimento sequencial tornando-se cada vez mais errático e se afastando tendência. Em 2022, essa mudança de comportamento ganha tintas mais claras, como não poderia ser diferente em um ano de crescimento tão baixo. A questão relevante está nos fatos geradores do desempenho mais errático: tudo deve ser colocado na conta da Covid?
Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro de março/2023.
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.
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