Macroeconomia

China: os desafios de 2022

24 fev 2022

A despeito de surpresas positivas ao fim de 2021, governo chinês se mostra cada vez mais preocupado com a economia, inclusive com ajustes para manter alta do PIB de 2022 em “patamares aceitáveis”. Com estímulos já contratados, projetamos crescimento de apenas 5,0% este ano.[1]

No horóscopo chinês, o tigre é considerado o rei dos animais – símbolo de poder e liderança, proativo e determinado. Os anos regidos pelo seu signo são percebidos como de bom agouro, adequados para grandes evoluções e para a solução de problemas. Há risco, no entanto, de excessos, transformando determinação em impulso e agressividade. Esse é o caso de 2022.

Há alguns trimestres, o governo chinês tem tido atuação marcadamente proativa na gestão da economia e da sociedade, combatendo desequilíbrios em setores específicos, moldando comportamentos e mudando as regras que regem a atuação dos agentes econômicos. Há motivos nobres envolvidos, como a redução do endividamento agregado da economia, o acesso à moradia a preços justos, o combate à pandemia da Covid-19 e a proteção da privacidade digital. Há também, para muitos analistas (especialmente ocidentais), motivações menos abonadoras, como um aumento dos tentáculos de controle do Estado e o enfraquecimento de opositores – do regime, e, principalmente, do Partido.

Com inúmeras mudanças ocorrendo em conjunto e choques dos mais diversos, seria razoável que a economia sofresse. E, de fato, após fantástica retomada durante 2020 – quando a China “voltou em V” – o desempenho da economia começou a fraquejar durante 2021 (gráfico 1). Mesmo com sinais de menor dinamismo durante o ano, o crescimento do PIB atingiu 8,1% em 2021. A expansão anual foi construída sobre base comparativa bastante favorável – em 2020, no auge do choque da Covid, o crescimento da economia chinesa foi de somente 2,2%.

Gráfico 1: Desempenho do PIB chinês (nível, dessazonalizado) dez/10=100)

Fonte: NBS

Pelo lado da demanda, o crescimento foi puxado especialmente pelo consumo (público + privado), com contribuição de 5,3p.p. para a expansão observada – com a dominância do consumo como vetor de crescimento, o ano passado foi marcado por uma reconciliação com a estratégia de transição do modelo econômico na direção do mercado doméstico. Nota-se também que a contribuição dos investimentos ao PIB foi de somente 1,1p.p. – inferior, inclusive, à observada em 2020, e a menor desde o biênio 1989-1990. A conhecida cruzada regulatória imposta à economia e os relevantes choques na estrutura produtiva cobraram o seu preço; falaremos mais sobre isso adiante.

Já pelo lado da oferta, e como espelho do observado na demanda, a maior contribuição para o crescimento do ano passado veio do setor terciário (serviços) – 4,4p.p. do crescimento registrado. De novo, a transição do modelo na direção dos serviços se fez presente. O que parece contraintuitivo, dado o desempenho dos investimentos, é o comportamento do setor secundário, com uma contribuição de relevantes 3,1p.p. para o crescimento do ano passado. Uma análise mais fina mostra, no entanto, que praticamente a totalidade da contribuição do setor secundário veio da indústria de transformação; o aperto regulatório, especificamente sobre o setor imobiliário, impactou fortemente a construção civil em 2021.

Olhando especificamente para o 4º trimestre de 2021, registrou-se expansão interanual (AsA) de 4,0%. Esse resultado foi mais forte do que o esperado pelo mercado e do que a nossa projeção (ambos em +3,3% AsA), implicando expansão do PIB, na margem (TsT), de 1,7% (frente ao trimestre imediatamente anterior, na série ajustada sazonalmente).

Leia aqui o artigo completo na versão digital do Boletim Macro.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.


[1] Este artigo é uma versão reduzida de Destaque BRCG “O que esperar de 2022 | China: Os desafios do ano do tigre”. Disponível em https://bit.ly/3rTV9EX

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